Discurso de Oprah traça jornada de heroína e contrapõe Trump

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LUCIANA COELHO
EDITORA DE "MUNDO"

Não faltam semelhanças entre o discurso da apresentadora, empresária e atriz Oprah Winfrey ao receber o prêmio pela carreira no Globo de Ouro, na noite de domingo (7), e o de alguém que quer um cargo no Executivo.

Para ressaltar a trajetória do herói que os americanos muito apreciam, Oprah, que tem um canal de TV e patrimônio de US$ 2,8 bilhões (o terceiro maior no setor do entretenimento, segundo a revista "Forbes"), inicia o discurso com o chão de linóleo na casa da mãe, onde via TV.

Evoca assim a infância de privação (ela nasceu em um lugarejo no Mississippi com 7.000 habitantes e foi criada em Milwaukee, migração comum dos negros nos EUA).

Ao citar um ícone —Sidney Poitier, primeiro ator negro a ganhar um Oscar principal, em 1964—, busca se colocar à altura deste, fechando o ciclo histórico, lembrando que seu troféu inspirará outras.

Em seguida, agradece aos que a ajudaram e à imprensa estrangeira em Hollywood, que lhe conferiu o prêmio, ressaltando que o jornalismo hoje sofre pressão em sua missão de "descobrir a verdade absoluta que nos impede de ignorar a corrupção e a injustiça —de tiranos e vítimas, mentiras e verdades".

Mesmo sem citar nomes, parece clara a intenção de se apresentar como a antítese de Donald Trump; alguém, aliás, que poderia enfrentar em 2020 com o mesmo "star power", mas com uma capacidade de identificação maior.

E então Oprah narra a história de Recy Taylor, uma jovem negra estuprada por homens brancos quando a segregação racial ainda vigorava, em 1944, e cujos algozes nunca foram condenados.

A citação é brilhante em termos retóricos. Com ela, a apresentadora evoca o tema da hora, mas não só.

Ela destaca seus anos de trabalho com o público, o que lhe confere dimensão humana e conexão com os problemas alheios, mostrando que apresentar um programa vespertino pode tê-la preparado para algo maior (como o ex-futuro-talvez candidato Luciano Huck buscou fazer em seus artigos no Brasil).

E, ao dizer que Taylor morreu com a mudança em curso, aponta que esta está inconclusa: "Um novo dia se coloca no horizonte". Não há como não lembrar da campanha vitoriosa do republicano Ronald Reagan em 1984.

Ao estender a mão com a promessa de conforto, emulando talvez Barack Obama em 2008, ela também declara que o tempo das injustiças e daqueles que as praticam acabou ("their time is up").

É o slogan da noite, repetido três vezes com cadência de pregação para erguer a plateia e se retirar —não sem lembrar que alguns líderes futuros estão naquela sala.

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