Canadá avisa a salvadorenhos para não tentarem imigrar ao país

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Crédito: Jonathan Ernst - 11.out.2017/Reuters O presidente dos EUA, Donald Trump, recebe Justin Trudeau na Casa Branca, com Melania Trump e Sophie Gregoire
Donald Trump recebe Justin Trudeau na Casa Branca, com Melania Trump e Sophie Gregoire

ALAN FREEMAN
DO "WASHINGTON POST"

Quando o governo Trump promulgou uma proibição de entrada a cidadãos de sete países de maioria muçulmana, no ano passado, o primeiro-ministro canadense Justin Trudeau disse falou com clareza em uma rede social sobre a posição do Canadá sobre as pessoas em busca de asilo: "Para aqueles que estão fugindo de perseguições, terrorismo e guerra, os canadenses os acolherão, não importa qual seja a sua fé. A diversidade é nossa força", escreveu Trudeau em 28 de janeiro de 2017.

Mas quando o Departamento de Segurança Interna dos Estados Unidos anunciou nesta semana que revogaria o status de proteção temporária de 200 mil salvadorenhos refugiados nos Estados Unidos, lhes dando prazo de 18 meses para resolver de forma permanente sua situação como imigrantes, sob pena de deportação, a reação do governo canadense foi mais contida.

Temendo um influxo de imigrantes que atravessariam irregularmente a fronteira entre os Estados Unidos e o Canadá, o governo canadense iniciou uma campanha informativa para desencorajar os salvadorenhos de se transferirem para o norte, como fizeram milhares de haitianos ameaçados de perder sua proteção temporária no ano passado.

O governo anunciou que planejava enviar Pablo Rodriguez, um parlamentar canadense que fala espanhol, para fazer contato com organizações comunitárias, advogados e com a mídia em língua espanhola dos Estados Unidos. A mensagem que ele vai transmitir é simples: se você não se qualifica como refugiado ou para pedir asilo, não tente se mudar para o Canadá.

"O Canadá tem um sistema de imigração robusto e estruturado que deve ser respeitado", disse Rodriguez, nascido na Argentina, ao jornal "La Presse", em entrevista concedida em francês. "Antes de deixar seu emprego, tirar seu filho da escola e vender sua casa para se mudar para o Canadá, garanta que compreende as regras e as leis. Porque se você não satisfizer os critérios, o mais provável é que seja devolvido não aos Estados Unidos, mas ao seu país de origem."

O governo canadense também diz que há planos para uma "campanha digital dirigida" às comunidades que podem ser afetadas pela revogação da proteção temporária.

Na metade do ano passado, quando começaram a circular rumores nas comunidades haitianas de que elas perderiam a proteção, que vigorava desde o terremoto do Haiti em 2010 (a proteção foi revogada em novembro), uma onda de haitianos se encaminhou à fronteira entre os Estados Unidos e o Canadá. Até 250 pessoas ao dia passaram a atravessar a fronteira irregularmente, usando uma estrada rural no norte do Estado de Nova York para chegar à vizinha província canadense de Québec, o que causou uma pequena crise que forçou as autoridades canadenses a montar um acampamento temporário na fronteira e a abrigar imigrantes no estádio olímpico de Montréal.

Depois de um programa de contatos com a comunidade haitiana em cidades como Miami, o influxo de imigrantes se desacelerou. Agora, apenas cerca de 60 haitianos atravessam a fronteira em Québec a cada dia, de acordo com Scott Bardsley, porta-voz de Ralph Goodale, o ministro canadense da Segurança Pública.

Hursh Jaswal, assessor do ministro da Imigração, Ahmed Hussen, disse que, embora os imigrantes que necessitem de proteção devam ser autorizados a permanecer, os demais serão removidos. Ele apontou apenas 8% dos pedidos de asilos apresentados por haitianos às autoridades do Canadá no ano passado foram concedidos. A vasta maioria dos solicitantes ainda está aguardando audiência.

Em entrevista coletiva na terça-feira (9), Hussen disse que seu governo não estava esperando um grande pico de imigrantes salvadorenhos, mas que havia preparado planos para a possibilidade de que isso aconteça.

"Não estamos sendo complacentes", ele disse. "Estamos garantindo que estejamos preparados para qualquer eventualidade, o que inclui influxo futuro de pessoas em busca de asilo que cruzem nossa fronteira irregularmente, e, quanto a isso, estamos usando as lições que aprendemos no ano passado".

Nos termos do tratado entre os Estados Unidos e Canadá quanto ao trânsito de cidadãos de terceiros países, quase todos os imigrantes têm a obrigação de solicitar proteção como refugiados no primeiro país seguro que atingirem. No caso de muitos imigrantes que cheguem ao Canadá vindos dos Estados Unidos, isso significa que eles estão legalmente proibidos de entrar no Canadá passando pelos controles de fronteira regulares. Mas se atravessarem a fronteira irregularmente em um ponto não protegido, serão detidos pelas autoridades canadenses mas terão o direito de solicitar imediatamente proteção como refugiados. Depois de passarem por verificação de segurança, eles podem permanecer no país até obterem uma audiência.

Os solicitantes de refúgio podem trabalhar e recebem assistência médica enquanto aguardam suas audiências. De acordo com a rede de TV e rádio canadense CBC, 14.467 pessoas entraram no Canadá sem passar por controles regulares de fronteira nos nove primeiros meses de 2017, e cerca de 50% delas têm origem no Haiti.

Angela Ventura, porta-voz da Associação de El Salvador em Windsor, na província canadense de Ontário, disse que já estava recebendo telefonemas de salvadorenhos radicados nos Estados Unidos, ansiosos por saber se devem ir ao Canadá, caso forçados a deixar os Estados Unidos.

"Eu os aconselho a fazê-lo de modo legal, e não ilegal", disse Ventura, pesquisadora judicial que vive no Canadá há 28 anos.

Ela disse que apelou ao governo canadenses para que considere permitir que esses salvadorenhos ingressem no país não só como refugiados.

"Eles vivem nos Estados Unidos há 17 ou 18 anos. São trabalhadores confiáveis, com casas e hipotecas", ela disse. "Se alguém é dono de uma pequena empresa na Califórnia, por que não permitir que essa pessoa estabeleça uma pequena empresa no Canadá?"

Tradução de PAULO MIGLIACCI

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