Trump e Netanyahu fazem o mesmo jogo nacionalista

ISHAAN THAROOR
DO "WASHINGTON POST"

No final do ano passado, o presidente Donald Trump se esforçou para defender Donald Trump Jr. depois que surgiu a notícia de que seu filho mais velho havia tido um encontro mal avaliado em 2016 com um grupo de russos ligados ao Kremlin —hoje rotulado de "traiçoeiro" pelo ex-assessor da Casa Branca Steve Bannon.

Nesta semana, o primeiro-ministro israelense, Binyamin Netanyahu, um importante aliado de Trump, viu-se fazendo a mesma coisa.

Uma gravação divulgada na terça-feira (9) pela emissora israelense Channel 2 apresentou a voz de Yair Netanyahu embriagado durante uma excursão pelos clubes de strip-tease de Tel Aviv em 2015.

Netanyahu filho, hoje com 26 anos, é ouvido fazendo comentários depreciativos sobre as mulheres e gabando-se aos amigos sobre contratar prostitutas. Ele também pede dinheiro a um de seus companheiros, filho de um conhecido magnata de Israel, afirmando que era justo, diante do negócio de gás de US$ 20 bilhões que "meu pai deu para vocês".

O surgimento da fita é uma notícia indesejada para o primeiro-ministro israelense, que está cercado por denúncias de corrupção e é alvo de duas investigações criminais.

Com a atenção do público já voltada para os vários negócios nebulosos de Netanyahu, incluindo supostos pedidos de champanhe e charutos a executivos de empresas estrangeiras, os comentários de seu filho bêbado abrem uma potencial nova via de investigação.

Enquanto isso, a natureza sórdida da conversa é inconveniente num momento em que o governo Netanyahu também aprova legislação impopular para reduzir os negócios durante o sabá.

"Sob o olhar público desde a infância, Netanyahu filho faz parte do quadro tradicional que a família do primeiro-ministro apresentou ao público, com ênfase em passar o sabá judaico em passeios com a família na natureza, refeições e estudo da Bíblia com seu pai", comentou o jornal de esquerda israelense "Haaretz". "Passar as noites de sexta-feira percorrendo clubes e gastando milhares de dólares com vedetes não fazia parte dessa imagem cuidadosamente acalentada, prejudicando a popularidade de Netanyahu entre seus apoiadores religiosos."

Diante de uma comoção na mídia, Netanyahu e seu filho emitiram comunicados conciliatórios: Yair pediu desculpas pelos "absurdos" falados sob a influência do álcool. "Meu filho estava certo ao dizer ontem que ele disse palavras tolas", afirmou o pai. "Ele disse: não sou eu, Yair. Ele disse que esses não são os valores que o caracterizam. E ele está certo."

Mas seu filho mais velho, como já havia feito o de Donald Trump, na verdade parecia mais preocupado em atacar a imprensa, rotulando os críticos de seus respectivos pais como inimigos de seus países.

Em suas batalhas com adversários liberais, ambos os filhos também cortejaram o apoio da direita alternativa neofascista nas redes sociais, com Netanyahu postando até o que pareceu um meme antissemita celebrado por neonazistas em sua página no Facebook no ano passado.

Seus pais, igualmente, repetiram as agendas antiliberais um do outro. Em um ano em que grande parte da comunidade internacional manteve Trump à distância, Netanyahu chegou com um grande abraço.

Enquanto Trump promovia a construção de um muro na fronteira mexicana, Netanyahu fazia eco, insistindo que o suposto sucesso de uma barreira israelense ao longo de sua fronteira com o Egito confirmava a validade do projeto de Trump.

Netanyahu tuitou: "O presidente Trump está certo. Eu construí um muro na fronteira sul de Israel. Ele conteve toda a imigração ilegal. Grande sucesso. Ótima ideia".

Enquanto muitos tradicionais aliados americanos na Europa tentam encarar governos protoautoritários na Polônia e na Hungria, Trump e Netanyahu comemoram seu nacionalismo e desafio aos liberais melindrosos.

Enquanto Trump elimina políticas que protegiam centenas de milhares de imigrantes que fugiam da violência e de desastres naturais, Netanyahu avança em planos para expulsar à força dezenas de milhares de asilados africanos. (A ONU divulgou uma declaração nesta semana indicando dezenas de casos em que os solicitantes de asilo deportados por Israel mais tarde sofreram abusos, detenção e tortura em seus países de origem.)

Enquanto prosseguem as investigações legais sobre sua conduta, Trump e Netanyahu se revezam lançando ataques à mídia independente e aos sistemas judiciais que consideram armados contra eles.

O primeiro-ministro israelense copiou as queixas de Trump sobre "notícias falsas". E, soterrados por problemas domésticos que ameaçam seu governo, Netanyahu e Trump trabalharam juntos no mês passado para causar indignação na maior parte do resto do mundo com a decisão da Casa Branca de reconhecer plenamente Jerusalém como capital israelense.

Diversos judeus americanos que apoiam Israel hoje lamentam a mudança à direita que ocorreu sob Netanyahu, que inclui uma recente medida para proibir ativistas de diversas organizações críticas à atual ocupação dos territórios palestinos por Israel.

"O governo Netanyahu fez mais que proibir os críticos com sua última medida e todas as precedentes", escreveu David Rothkopf, um bolsista sênior na Escola de Estudos Avançados e Internacionais na Universidade Johns Hopkins. Ele "transformou apoiadores em adversários. Ele deu um grande passo na direção das bandidocracias iliberais preferidas por gente como Trump".

Para Netanyahu, um operador político muito mais experiente e hábil que Trump, talvez haja uma lógica clara por trás da aproximação do presidente americano enquanto os inimigos o circundam em Israel e no exterior. Mas também há claros perigos em imitar as táticas de Trump.

"Os ataques de Trump à imprensa, ao Judiciário e até à cultura americana de civilidade causarão danos, mas isso pode ser desfeito pelos líderes que o seguirão", escreveu Daniel Gordis, do Shalem College de Jerusalém, para o Bloomberg View.

"A democracia de Israel, entretanto, não tem dois séculos e meio de idade; tem menos de 70 anos. Os que os EUA podem suportar Israel talvez não consiga reverter. Ironicamente, um primeiro-ministro israelense que tenta proteger Israel imitando o presidente americano pode estar causando mais danos a seu país do que ele mesmo percebe."

Tradução de LUIZ ROBERTO MENDES GONÇALVES

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