Reino Unido perderá R$ 220 bi e 500 mil empregos com 'brexit', diz estudo

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

DIOGO BERCITO
DE MADRI

Em meio aos percalços nas negociações do "brexit", um relatório encomendado pelo prefeito de Londres, Sadiq Khan, estima que o Reino Unido pode perder 500 mil empregos e R$ 220 bilhões em investimentos até 2030 caso não chegue a um acordo com a União Europeia.

O Reino Unido afirma que deixará o bloco econômico até março de 2019 mesmo se não tiver um acordo para sua saída —um cenário conhecido como "no-deal". Essa opção, segundo o relatório da firma Cambridge Econometrics, levaria a uma "década perdida".

"A análise conclui que quanto mais duro o 'brexit' que tivermos, maior será o impacto potencial nos empregos, no crescimento e no padrão da vida", disse o trabalhista Khan ao apresentar esse relatório, com o qual criticou o governo da conservadora Theresa May.

May tem encontrado desafios em suas negociações com a UE. Foi apenas depois de uma série de concessões, como a promessa de não erguer uma fronteira entre Irlanda e Irlanda do Norte, que a primeira-ministra conseguiu destravar essas conversas no mês passado.

A próxima etapa das negociações deve começar em fevereiro e tratar do acordo comercial futuro entre o Reino Unido e o bloco econômico. Sem um entendimento, o governo britânico perderia com o "brexit" o acesso ao mercado europeu, hoje fundamental à sua economia.

O acordo comercial será provavelmente o de mais difícil negociação nesse processo, mas será somado a outros temas complicados, como o futuro dos 3 milhões de cidadãos europeus hoje baseados no Reino Unido —está em debate seu direito ao trabalho e à residência na ilha.

Por outro lado, Ministério do Interior da França anunciou na quinta-feira que o número de britânicos pedindo a nacionalidade francesa foi multiplicado por quase dez em três anos. Foram 386 em 2015, 1.363 em 2016 e 3.173 em 2017. O crescimento é relacionado ao "brexit".

PULSO

Khan fez campanha contra o "brexit" quando a saída do Reino Unido da União Europeia foi votada no plebiscito em junho de 2016 —e aprovada por quase 52% dos votos. Ele agora advoga pela permanência do país no mercado comum europeu, que congrega 500 milhões de consumidores. Essa solução é conhecida no jargão britânico como um "brexit suave".

Há um mês, o ministro responsável pelas negociações do "brexit", David Davis, disse a parlamentares que o governo não tinha um relatório detalhado sobre o impacto econômico de deixar a UE —algo descrito por Khan como "estonteante", segundo o jornal "Guardian".

Khan em seguida encomendou o relatório divulgado nesta semana, afirmando que o texto "demonstra por que o governo britânico tem de mudar sua abordagem e negociar um acordo que nos permita permanecer no mercado único europeu e na união alfandegária".

Os números do estudo condizem com a previsão feita pelo presidente do Banco da Inglaterra, Sam Woods, a um comitê parlamentar em novembro, estimando em 75 mil a perda de vagas de trabalho apenas em Londres –onde o estudo de Khan prevê o desaparecimento de 87 mil postos.

Em termos políticos, o desafio de Khan fere ainda mais a credibilidade da primeira-ministra May, que tem amargado sucessivas derrotas nos últimos meses. Ela convocou eleições antecipadas em junho passado, por exemplo, nas quais perdeu sua maioria parlamentar.

A antecipação das eleições foi vista posteriormente como um cálculo político desastroso do Partido Conservador e, sem a maioria, May teve de fazer uma coalizão com um pequeno partido da Irlanda do Norte, uma solução instável no longo prazo.

Nesta semana, ela decidiu reformar seu gabinete para demonstrar sua força, mas foi desafiada por alguns de seus próprios ministros, que se recusaram a deixar os postos, deixando evidente a fragilidade de seu mandato —justamente quando se esperava que ela tivesse o pulso firme.

Apesar do fluxo constante de notícias sobre os impactos negativos do "brexit" à economia britânica, Nigel Farage, o líder direitista que esteve à frente da campanha por deixar a União Europeia, sugeriu nesta quinta-feira (11) que o plebiscito seja repetido.

Farage diz acreditar que o resultado seria o mesmo, a vitória do "sim", e com isso resolveria o debate público a respeito do "brexit".

"Eles vão continuar choramingando durante todo o processo", disse em entrevista sobre seus críticos. "Acho que, se tivéssemos um segundo plebiscito sobre a permanência na UE, o percentual que votaria para sair seria muito maior do que foi na última vez."

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.