Seca pode deixar Cidade do Cabo, na África do Sul, sem água em abril

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SARAH KHAN
DO "NEW YORK TIMES"

Por conta de sua famosa costa e sua localização em uma península, os turistas que visitam a Cidade do Cabo esperam estar cercados de água —muita água.

Mas os visitantes que chegam à cidade este mês, no pico de sua temporada de verão, estão sendo recebidos no aeroporto com cartazes que pedem "feche a torneira: economize H2O" e "não desperdice uma gota!", entre outros.

Crédito: Mike Hutchings - 8.nov.17/Reuters
Uma das principais represas sul-africanas, Voelvlei opera em níveis baixos desde o fim de 2017

A Cidade do Cabo está sofrendo uma seca severa, porque invernos incomumente secos resultaram em queda perigosa no nível de água das represas.

Na metade de dezembro, o nível de água nas represas da cidade era de apenas 32%, de acordo com a prefeitura, e aquilo que as autoridades designam como "dia zero" estava se aproximando: a data em que a o nível de água nas represas cairá abaixo dos 13,5% e as torneiras serão fechadas; os moradores terão de formar filas para receber água em 200 postos espalhados pela cidade, e a polícia e as forças armadas serão acionadas para controlar a situação.

De acordo com cálculos realizados em 18 de dezembro de 2017, tomando por base o consumo atual e a expectativa de chuva, o dia zero deve acontecer em 22 de abril (inicialmente a previsão era o dia 29).

"A Cidade do Cabo pode se tornar a primeira grande cidade do planeta a esgotar suas reservas de água, e isso pode acontecer dentro de quatro meses", disse Anthony Turton, professor do Centro de Gestão Ambiental da Universidade do Estado Livre. "Não estamos falando de uma crise iminente. Já estamos em crise, e uma crise muito, muito, muito profunda".

A cidade está correndo para implementar alternativas, como reciclagem, poços artesianos e dessalinização, até fevereiro, e os cidadãos estão restritos a 87 litros de água por pessoa/dia. "Estamos todos juntos nisso, e só podemos economizar água enquanto houver água a economizar", afirmou Zara Nicholson, porta-voz da prefeita executiva Patricia de Lille, em e-mail.

A cidade está pedindo que os moradores respeitem o limite reduzindo seu tempo de banho a dois minutos, desligando a torneira enquanto escovam os dentes, evitando dar descarga nos vasos sanitários ("se é amarelo, tudo belo", como diz um dos cartazes da campanha de economia de água), e recorrendo a água reciclada quando possível.

Regar jardins e encher piscinas também são desencorajados, e a campanha estimula as pessoas a usarem gel de limpeza em lugar de lavarem as mãos com água e sabão. Mas a cidade continua a enfrentar dificuldades para atingir a meta de consumo domiciliar de menos de 500 milhões de litros ao dia, e a ansiedade continua a crescer.

"Para mim, é como se estivesse acontecendo uma emergência de saúde mas as pessoas a ignorassem até estarem estrebuchando no chão", disse Natalie Roos, blogger moradora na Cidade do Cabo. "Acho que é essa a nossa situação".

A despeito da gravidade do problema, as autoridades dizem que os visitantes continuam a ser bem-vindos. "A Cidade do Cabo certamente recebe com agrado os turistas e encoraja todos os viajantes a visitarem nossa bela e emblemática cidade", escreveu Nicholson. "O turismo é grande criador de empregos e um de nossos setores mais importantes".

Cerca de 150 mil pessoas, ou 10% do total anual de 1,5 milhão de turistas estrangeiros recebidos pela cidade, visitaram a Cidade do Cabo em dezembro, mas muitos turistas só descobriram a gravidade da situação quando, pouco antes da aterrissagem no Aeroporto Internacional da Cidade do Cabo, ouviram o alerta dos pilotos de seus aviões sobre a escassez de água na cidade.

Os especialistas dizem que não há motivo para que os turistas deixem de ir à Cidade do Cabo, mas que conscientização é essencial.

"O turista que viaja a um dado lugar, se quer ser um visitante responsável, deve sempre estar ciente do contexto no destino que estará visitando, quer em termos de sensibilidade cultural ou de sensibilidade religiosa", disse Lisa Scriven, diretora da Levelle Perspectives, que trabalha para implementar práticas sustentáveis de turismo.

"O dólar do turista é vital para a economia, e obviamente não queremos enviar um sinal de que a cidade está a ponto de entrar em colapso", disse Turton. "Queremos apelar à consciência do turista, para que ele desfrute da cidade mas faça a coisa certa pela comunidade local".

Tradução de PAULO MIGLIACCI

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