Sigla ultranacionalista pode herdar comissão-chave do Parlamento alemão

Crédito: John MacDougall - 12.dez.17/AFP
Deputados da AfD no Parlamento alemão, com os líderes Alice Weidel e Alexander Gauland à frente

GUILHERME MAGALHÃES
DE SÃO PAULO

A definição sobre a participação dos sociais-democratas em um novo governo da chanceler Angela Merkel terá um efeito no mínimo simbólico nas atividades do Parlamento alemão.

Caso o SPD aceite uma coalizão com a conservadora CDU (União Cristã-Democrata), a maior legenda de oposição no Parlamento será a ultranacionalista AfD (Alternativa para a Alemanha).

Ao conquistar tal status, a sigla populista teria o direito de exercer a presidência da Comissão de Orçamento —a mais importante da Casa. A tradição se insere num raciocínio de contrapeso —opositores tendo a chance de fiscalizar a agenda econômica do governo.

A possibilidade, trazida à tona na última semana por uma das líderes do partido, Alice Weidel, deixou alguns parlamentares inquietos. Em setembro, um dia após a eleição que deu à AfD a terceira maior bancada do Parlamento, Alexander Gauland, outro líder da sigla, prometera "caçar Merkel".

O partido é contra o euro e defende a realização de um referendo sobre a continuidade da moeda única europeia na Alemanha ou a reintrodução do marco alemão.

Cientistas políticos ouvidos pela Folha, no entanto, não acreditam que a AfD possa exercer grande influência liderando a comissão.

"À primeira vista pode-se temer que um presidente da comissão oriundo da AfD seja capaz de bloquear a política do governo. No entanto, um presidente não pode agir contra a maioria da comissão, e essa maioria a AfD não tem", afirma Simon Franzmann, da Universidade Heinrich-Heine de Düsseldorf.

Ele lembra que, na legislatura anterior, o posto foi ocupado por Gesine Lötzsch, deputada do A Esquerda. "Isso não teve um efeito negativo sobre o trabalho do governo."

Se concretizado, o pleito da sigla populista pode acabar tendo efeito inverso ao visado por seus líderes, avalia Franzmann. "A AfD estaria integrada ao 'curso normal' do Parlamento. Ficaria mais difícil para ela se apresentar como partido antiestablishment."

Membros da CDU e do SPD já afirmaram que não irão atuar para impedir a AfD de liderar a comissão.

"Já foi ruim o bastante terem alterado a regra do presidente mais velho", lembra Tom Mannewitz, da Universidade Técnica de Chemnitz.

A regra diz respeito à primeira sessão do Parlamento pós-eleição, que costumava ser presidida pelo deputado mais velho. Para impedir que a tarefa recaísse sobre os ombros de um deputado da AfD —que tinha um candidato com 77 anos na disputa—, os partidos alteraram o regimento meses antes da eleição.

Agora, abre a primeira sessão da nova legislatura o deputado que está há mais tempo no Parlamento.

ANTI-IMIGRAÇÃO

A AfD protagonizou outro momento simbólico na última quinta-feira (18), ao apresentar seu primeiro projeto de lei no Parlamento. O texto prevê impedir que refugiados tragam familiares de seus países de origem.

Foi a primeira vez que um partido de extrema direita apresentou um projeto de lei neste edifício do Parlamento desde fevereiro de 1933, quando o prédio foi incendiado, um mês após a ascensão de Adolf Hitler e do Partido Nazista ao poder.

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