Em Davos, premiê da Índia contrapõe-se a Trump e exorta cooperação

Crédito: Denis Balibouse/Reuters
O premiê indiano, Narendra Modi, fala no Fórum Econômico Mundial em Davos

LUCIANA COELHO
ENVIADA ESPECIAL A DAVOS (SUÍÇA)

Com um discurso todo em hindi que ecoou o tom neonacionalista de seu governo e uma ode a um mundo multipolar, o primeiro-ministro indiano, Narendra Modi, abriu a plenária do Fórum Econômico Mundial de Davos na manhã desta terça (23) para uma plateia lotada de empresários, executivos e nomes proeminentes da sociedade civil abordando dilemas da desigualdade.

O pronunciamento, porém, guardou alfinetadas aparentes ao presidente dos EUA, Donald Trump, que falará ao público no último dos quatro dias de fórum: "Não é hora para muros", disse, em uma referência mal velada à insistência do americano em construir um na fronteira com o México.

"Não é o momento para isolacionismo", afirmou Modi. "Para mim, o tema deste fórum ['Construir um futuro compartilhado em um mundo fraturado'] é ao mesmo tempo contemporâneo e atemporal. Estamos todos ligados como uma família", acrescentou.

"É necessário que as maiores potências do mundo cooperem entre si, e que a competição entre essas potências não se torne uma guerra entre elas."

Em outro contraponto ao americano, que no ano passado anunciou a retirada de seu país do Acordo de Paris sobre o clima e da Parceria Transpacífico, Modi defendeu as negociações comerciais multilaterais e ressaltou o risco ambiental como uma das preocupações que, a seu ver, deveriam ser alvo de cooperação multinacional.

"O que podemos fazer juntos que vá melhorar essa situação? Todos falam em reduzir as emissões de carbono, mas muito poucos respaldam suas palavras em ações e se preocupam em ajudar os países em desenvolvimento" a lidar com o problema, afirmou.

Com a assertiva, Modi alude a um pleito persistente dos países em desenvolvimento, que defendem que a fatia maior da conta para controlar o aquecimento global seja paga pelas nações desenvolvidas, que poluem há mais tempo.

O premiê indiano também usou o discurso para enumerar feitos de seu governo na área ambiental, aproveitando o vácuo de liderança emergente na questão aberto pela perda de protagonismo do Brasil, e para reivindicar reformas no sistema de governança global, desenhado no pós-Segunda Guerra, que reflitam o avanço dos países em desenvolvimento.

No cargo desde 2014, Modi adota um discurso fortemente nacionalista combinado a reformas liberalizantes no país, equação que tem criado alguns atritos sociais em um país já fortemente estigmatizado por eles.

Na plenária, não fez diferente: pediu investimentos, falou de mudanças "sem precedentes" em curso, ressaltou o "soft power" de seu país, mencionando o mahatma Gandhi (1869-1948), a difusão da yoga e da medicina ayuvérdica e a diversidade da sociedade indiana.

A Índia deve apresentar o maior crescimento entre as grandes economias neste ano e no próximo, com um avanço projetado pelo Fundo Monetário Internacional de 7,4% e 7,8%, respectivamente, 0,8 e 1,4 ponto acima da China, e, ao lado do americano Donald Trump, ocupa o centro das atenções nesta 48ª edição do encontro anual do Fórum Econômico Mundial.

O governo Modi e as empresas indianas investiram no evento, com uma delegação de mais de cem convidados e uma série de eventos especiais e recepções. Em 2017, o lugar coube à China, com Xi Jinping se tornando o primeiro chefe de Estado chinês a participar do evento.

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