Israel cogitou abater aviões para matar Iasser Arafat, diz jornalista

Crédito: Jaafar Ashtiyeh - 27.dez.2017/AFP Palestina carrega cartaz de Iasser Arafar e soldado israelense se comunica em protesto em Nablus
Palestina carrega cartaz de Iasser Arafar e soldado israelense se comunica em protesto em Nablus

DE SÃO PAULO

Nos planos para matar Iasser Arafat, as forças de Israel cogitaram derrubar aviões comerciais em que ele viajava e quase abateram uma aeronave que levava o irmão do líder palestino e crianças refugiadas feridas no Líbano.

As informações foram reveladas pelo jornalista Ronen Bergman à revista do "New York Times" em um trecho de seu livro "Rise and Kill First —A História Secreta das Tentativas de Assassinato de Israel", que será publicado neste mês nos EUA.

Segundo Bergman, o plano esteve perto de ser executado em 23 de outubro de 1982, quando o Mossad (serviço de inteligência de Israel) conseguiu a informação de que o palestino viajaria de Atenas ao Cairo.

No dia seguinte, dois espiões conseguiram entrar no aeroporto da capital grega e disseram ter visto Arafat no local, com seus homens fazendo os trâmites finais para voar em um avião turboélice DHC-5 Buffalo azul e marrom.

Os agentes afirmaram ainda que ele teria deixado a barba crescer para despistá-los. Com a informação confirmada por outras áreas do Mossad, o então ministro da Defesa, Ariel Sharon (1928-2014), ordenou o início da operação militar.

A pedido do chefe do Estado-Maior das Forças de Defesa, Rafael Eitan, o comandante da Força Aérea, David Ivry, colocou caças em alerta, mas, diz Bergman, não se convenceu de que a informação dos espiões fosse correta.

"Não estava claro para mim o porquê Arafat viajaria ao Cairo. De acordo com os serviços de inteligência, ele não tinha nenhum motivo para ir pra lá naquele momento. E, mesmo se ele viajasse para lá, por que em um avião daqueles? Não era muito digno para um homem de sua categoria", disse Ivry, em entrevista a Bergman.

Antes de os F-15 decolarem da base de Tel Nof, momentos depois de o turboélice deixar Atenas, às 16h30 daquele dia, Ivry fez dupla recomendação a seus pilotos de que só atirassem se ouvissem seu comando de rádio.

Pressionado por Ariel Sharon, Eitan exigia a Ivry que derrubasse a aeronave assim que fosse interceptada, mas ele hesitava. Os caças encontraram o avião comercial a 370 milhas do espaço aéreo do mar Mediterrâneo.

Ao chegarem ao local, os pilotos perguntaram se deveriam atacar. Contrariando seus superiores, mas sem avisá-los inicialmente, ele disse que não e pediu a seus assessores que voltassem a entrar em contato com o Mossad.

Enquanto isso, tentou ganhar tempo. Ao mesmo tempo em que controlava os pilotos e pedia que eles continuassem a monitorar o Buffalo, dizia a Eitan que não tinham ainda a confirmação final de que era aquela a aeronave.

Vinte e cinco minutos após a decolagem, o comandante da Força Aérea recebeu dos espiões a informação de que haveria dúvidas de que Iasser Arafat teria viajado ou se teria passado pela Grécia nos últimos dias.

Às 17h23, foi a vez de fontes da agência e da Diretoria Militar de Inteligência confirmarem que, na verdade, quem estava na aeronave era o pediatra Fathi Arafat, irmão mais novo de Iasser, que levava 30 crianças feridas.

Os meninos eram sobreviventes do massacre feito pela Falange Cristã Maronita ocorrido um mês antes nos campos de refugiados de Sabra e Shatila, em Beirute, no Líbano —à época controlados pelas forças israelenses.

Foi justamente devido ao massacre, considerado em dezembro daquele ano um genocídio pela ONU, que Sharon deixaria o cargo. Ele se reabilitou politicamente no fim da década de 1990 e foi primeiro-ministro de 2001 a 2006, sendo responsável pela retirada das tropas da faixa de Gaza.

OUTRAS TENTATIVAS

Com fontes militares ouvidas durante o período em que foi correspondente, Bergman conta que Sharon cogitou derrubar em outras ocasiões aviões comerciais em que Arafat viajava, independentemente de quem estivesse dentro.

A ordem era refeita todas as vezes que o Mossad conseguia a informação de que o palestino viajaria, considerando as aeronaves alvos legítimos. A única exigência era que o abate fosse feito em águas internacionais.

As forças israelenses, diz o jornalista, chegaram a preparar um avião rastreador para estas operações. As viagens de Arafat foram observadas durante todo o momento entre novembro de 1982 e janeiro de 1983.

Para não cumprir as ordens de Sharon, Eitan e Ivry começaram a sabotar algumas operações, desligando radares e alegando outros problemas técnicos. Os pedidos só pararam quando começou o declínio do então ministro.

Antes da ideia de assassinar Arafat no ar, Bergman afirma que Sharon teria pensado em matar todos os líderes palestinos com um atentado com explosivos em uma convenção da OLP em 1º de janeiro de 1982 —ele teria sido demovido por assessores.

Tópicos relacionados

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.