Criticado no início de seu mandato (era o "presidente dos ricos"), o francês Emmanuel Macron recuperou a popularidade que parecia perdida. Sua tática, emprestada de antecessores, foi apostar em aparições internacionais.
Macron fez mais de 30 viagens ao exterior desde a ida à Alemanha em 15 de maio com que inaugurou o périplo. Apenas em dezembro, esteve em Argélia, Qatar, Bélgica e Níger.
Na quarta (24), no Fórum Econômico Mundial, em Davos, resumiu sua meta na política externa: "A França está de volta". Foi ovacionado.
Para o diário "Le Monde", os franceses finalmente saboreiam o fim do "French bashing" (surra francesa, em tradução livre), termo que designa a crítica obstinada ao país no mundo anglófono. Com as loas de fora, o público interno tem apreciado mais seu líder.
A popularidade surpreende, pois Macron parecia seguir a "maldição" do antecessor, o socialista François Hollande, que deixou o Eliseu com 3% de aprovação. Eleito em maio com 66% dos votos, o novato só era aprovado por 43% da população em agosto.
Charmoso, carismático e confortável sob holofotes, reergueu-se. Nos últimos meses, sua aprovação voltou a subir: 10 pontos percentuais de outubro a dezembro, chegando a 52%, segundo o instituto BVA –margem de erro de 3,1 pontos percentuais.
O levantamento indica que a política externa é fundamental na recuperação de sua popularidade, ao lado da personalidade forte. A revista britânica "Economist" comparou sua política externa ao coelhinho das propagandas de pilhas Duracell: infatigável.
Um de seus êxitos foi desarmar a crise entre Líbano e Arábia Saudita. O premiê libanês, Saad Hariri, fora chamado à capital saudita em novembro. Ali, renunciara ao cargo e, segundo relatos, fora impedido de deixar o país. Hábil, Macron convidou Hariri a visitar Paris, e o premiê escapou.
"Macron usa a Presidência para ser visto como mais 'presidencial', para mostrar que é adequado ao cargo", diz à Folha Martin Quencez, analista do centro German Marshall Fund, baseado em Paris.
Pesam contra ele, afinal, a pouca idade –foi eleito aos 39– e a inexperiência.
Seu ímpeto está relacionado também à percepção de que a janela de oportunidade pode ser breve, afirma Quencez. Três dos países que poderiam protagonizar a política externa perderam relevância temporariamente: EUA, Reino Unido e Alemanha.
Os EUA de Trump têm implementado uma política isolacionista. O Reino Unido, que deixa a União Europeia em 2019, vem sendo escanteado. Por fim, a Alemanha está paralisada pelas tratativas para formar um novo governo.
"Não há lideranças alternativas na Europa, e Macron percebeu que pode ser a voz de todo esse bloco", observa o analista. É uma tarefa em que a França conta com duas vantagens estratégicas: poder de veto no Conselho de Segurança da ONU e força nuclear.
Macron implementa o modelo francês de política externa urdido por Charles de Gaulle (1959-69) e consolidado por François Mitterand (1981-95). "É uma política que tenta dialogar com todos", afirma Pascal Boniface, fundador do Instituto de Relações Internacionais e Estratégicas.
Enquanto Trump defende o "faça da América grande de novo", Macron responde com um "faça o mundo grande de novo". Trump deixou o acordo de Paris –Macron então convidou cientistas americanos a trabalhar na França.
Em paralelo, eles trocam abraços e apertos de mão. Com a mesma ideia de "ter aliados, sem se alinhar", Macron surpreendeu em março ao receber seu homólogo russo, Vladimir Putin. "Ele sabe que a Rússia é um país inevitável", afirma Boniface.
A popularidade do francês pode não ser determinada apenas por seu desempenho externo –continua a ser fundamental seu manejo das questões domésticas. "Mas agrada que o país seja mais respeitado no exterior", conclui Boniface.
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