Sumida desde escândalo, Melania deve ir nesta terça ao Congresso dos EUA

Crédito: Carolyn Kaster - 11.out.2017/AP Donald Trump e Melania Trump na Casa Branca em outubro do ano passado
Donald Trump e Melania Trump na Casa Branca em outubro do ano passado

KATIE ROGERS
MAGGIE HABERMAN
DO "NEW YORK TIMES"

Na semana passada, Melania Trump, uma primeira dama que se preocupa muito com a privacidade, tomou três decisões muito públicas: cancelou uma viagem ao exterior com o marido, fez uma visita não programada ao Museu Memorial do Holocausto e viajou para Mar-a-Lago, na Flórida, onde passou parte de sua curta estadia relaxando no spa.

Como sempre, os movimentos dela se tornaram uma espécie de teste de Rorschach político: será que eles indicavam uma simples necessidade de repouso, um desprazer profundo com seu papel, ou ambos?

Assessores de Melania Trump dizem que ela está concentrada em seu papel público e em sua família. Mas o relativo silêncio que manteve e as viagens independentes que fez nas últimas semanas devem ser julgados diante de um pano de fundo lúbrico: o "Wall Street Journal" relevou que a estrela pornô Stormy Daniels recebeu um pagamento de US$ 130 mil, pouco antes da eleição de 2016, para esconder um caso que teve com o presidente Donald Trump uma década antes. Na época, Trump e Melania eram recém-casados e Melania estava grávida do filho do casal, Barron.

O relacionamento entre Melania e Donald Trump foi ocasionalmente tumultuado, ao longo dos anos, mas poucos episódios conturbaram tanto a situação quanto a notícia sobre Daniels. A reportagem sobre o pagamento apanhou a primeira-dama de surpresa e ela ficou furiosa com o marido, de acordo com duas pessoas próximas ao casal. E ela vem mantendo o silêncio desde então.

Nesta terça-feira (30), Melania Trump deve reaparecer. A Casa Branca anunciou que ela assistirá ao discurso de seu marido sobre o Estado da União, que tipicamente é a ocasião pública mais importante do ano para as primeiras-damas. A ala residencial da Casa Branca, que nas últimas semanas vem oscilando entre o silêncio e as reações agressivas, confirmou provisoriamente a presença da primeira-dama, na segunda-feira. "É esse o plano", informou Stephanie Grisham, a porta-voz de Melania, em e-mail. Sarah Huckabee Sanders, secretária de imprensa da Casa Branca, afirmou que Melania Trump compareceria, mas Barron não.

A incerteza sobre a presença de Melania Trump contrasta com sua disposição de mostrar apoio ao marido no passado. Ele sempre pôde contar com a mulher para interferir e racionalizar seu comportamento, em passadas crises, para negar acusações contra ele e contra-atacar os críticos.

Em 2011, Melania Trump falou na TV em apoio aos esforços do seu marido para pressionar o presidente Barack Obama a exibir publicamente sua certidão de nascimento. Em 2016, ela uma vez mais apareceu diante das câmeras para minimizar uma gravação de bastidores feita no programa "Access Hollywood", em 2005, na qual Trump falava sobre agarrar mulheres pelas partes íntimas, classificando o que ele disse como "conversa de meninos".

Melania Trump também defendeu o marido contra as acusações de diversas mulheres que afirmam que ele as agrediu sexualmente.

"Acredito no meu marido, acredito no meu marido - tudo isso foi organizado pela oposição", ela disse ao apresentador Anderson Cooper, da rede de notícias CNN, semanas antes da eleição de 2016.

Depois da história sobre Daniels, a ala residencial da Casa Branca não reagiu da mesma maneira, e não se expressou em público., Depois de dias de boatos fervilhantes e de recusas de comentar sobre o paradeiro de Melania Trump depois que ela cancelou sua viagem com o presidente a Davos, Suíça, a porta-voz da primeira dama parecia ter esgotado sua paciência.

"A imensa lista de reportagens maliciosas e claramente falsas sobre a Sra. Trump por jornais e programas de TV sensacionalistas parece ter agora tomado também a 'mídia respeitável'", escreveu Grisham no Twitter, sábado. "O foco dela é sua família e seu papel como primeira-dama, e não os cenários nada realistas divulgados a cada dia pelas fake news".

Crédito: Carolyn Kaster - 27.nov.2017/AP Melania Trump na Casa Branca em novembro do ano passado
Melania Trump na Casa Branca em novembro do ano passado

ESCRUTÍNIO

Depois de um ano como primeira-dama, Melania Trump se vê em uma posição à qual não está acostumada –e que talvez a coloque em desvantagem. Há poucas coisas que ela pode revelar sobre sua vida que não venham a ser dissecadas –muitas vezes de modo negativo. Quando ela revelou que seu programa favorito de TV era "How To Get Away With Murder", por exemplo, a estrela da série, Viola Davis, não contestou uma piada de que primeira-dama "é prisioneira em sua própria casa".

A natureza polarizadora da presidência de seu marido também a distanciou de suas predecessoras. Ela não é parte do pequeno grupo de primeiras damas que, como Michelle Obama e Laura Bush, se aproximaram por saberem o que é estar sob escrutínio constante, e por terem sua popularidade vinculada à de seus maridos.

"As primeiras damas, de Jacqueline Kennedy a Hillary Clinton e Laura Bush, sempre apoiaram seus maridos nos momentos mais difíceis de suas presidências", disse Kate Anderson Brower, autora de um livro sobre as primeiras damas norte-americanas nas últimas décadas. "No caso de Melania, estamos vendo um exemplo diferente, de uma mulher que talvez esteja diante de mais do que ela consegue suportar".

A viagem da primeira-dama na quinta-feira (25) ao Museu Memorial do Holocausto foi, por coincidência ou não, na mesma direção em que fica a Base Conjunta Andrews, da qual ela partiria para uma rápida viagem a Palm Beach, Flórida. Enquanto o presidente estava participando do Fórum Econômico Mundial de Davos, na Suíça, Melania Trump visitou Mar-a-Lago, a propriedade dele na Flórida.

Na sexta-feira, algumas pessoas que estavam no resort foram instruídas pelo serviço secreto a retirar seus veículos, para garantir à primeira-dama caminho livre de sua residência até o spa.

Os participantes de um evento de arrecadação de fundos realizado no resort na sexta-feira esperavam que a primeira-dama fizesse uma aparição, mas foram informados de que ela havia partido logo que o evento começou. Com isso, eles tiveram de se satisfazer com um gigantesco retrato de Melania Trump, que não foi vendido rapidamente no leilão. (Um retrato de Donald Trump foi vendido por US$ 17,5 mil.)

Tradução de PAULO MIGLIACCI

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