Conservador Mario Abdo Benítez é o novo presidente do Paraguai

Candidato governista confirma favoritismo e vence Efraín Alegre; ele substituirá Horacio Cartes

Mario Abdo Benítez comemora ao lado da mulher, Silvana, a vitória nas eleições do Paraguai
Mario Abdo Benítez comemora ao lado da mulher, Silvana, a vitória nas eleições do Paraguai - Andres Stapff/Reuters
Diego Zerbato
Assunção

​O ex-senador Mario Abdo Benítez, 46, do Partido Colorado (direita), venceu as eleições presidenciais no Paraguai neste domingo (22) e terá um mandato de cinco anos pela frente.

Homônimo de seu pai, braço direito do ditador Alfredo Stroessner (1912-2006), ele tinha 46,4% dos votos com 99,2% das urnas apuradas, contra 42,7% de Efraín Alegre, 55, do Partido Liberal (centro), que fez aliança com a Frente Guasú (esquerda), do ex-presidente Fernando Lugo.

O comparecimento foi de 61%, um ponto mais que na eleição de 2013, quando o atual presidente, Horacio Cartes, venceu Alegre. O resultado foi declarado irreversível pelo Tribunal Superior de Justiça Eleitoral às 21h10 (22h10 em Brasília), quando a apuração chegou a 96%. 

Em discurso a apoiadores no centro de Assunção, Marito, como é conhecido, pediu a união dos paraguaios e disse que a eleição foi um exemplo de que as instituições do país estão fortes.

“Nós somos construtores e que sejam bem-vindos todos que queiram a reconstrução de uma pátria justa, com igualdade, com moral, com instituições fortes e independentes.”

O opositor disse que não admitirá a derrota até que sejam revisadas as atas de votação, o que deve levar uma semana. “São resultados preliminares, seguimos o processo como se deve. Vamos esperar o julgamento.”
 

Confirmada a vitória, os colorados manterão a hegemonia no país —a sigla só ficou de fora do poder em cinco dos últimos 70 anos—, mas com a menor diferença em uma disputa eleitoral desde o fim da ditadura, em 1989.

As pesquisas davam até dez pontos de vantagem para Marito. Por fim, o candidato vencedor obteve menos da metade dos eleitores —no Paraguai não há segundo turno.

Ele defendeu a continuidade das políticas econômicas de Cartes, junto com uma agenda conservadora alinhada com seu movimento, o Colorado Añetete (verdadeiro, em guarani).

Propôs o serviço militar obrigatório para filhos de mães solteiras como forma de diminuir a insegurança e o consumo de drogas e se colocou contra a legalização do aborto e o casamento entre pessoas do mesmo sexo, em um país com 96% de cristãos.

Porém, amenizou o discurso sobre corrupção para não atingir Cartes e outros colorados envolvidos em processos. Na campanha, priorizou os discursos em redes sociais em vez de entrevistas e debates, para as críticas de Alegre.

O liberal também teve propostas mais concretas, como a redução da tarifa de energia e a construção de infraestrutura para usar a parte vendida a Brasil e Argentina das usinas hidrelétricas de Itaipu e Yacyretá; a saúde pública gratuita e o imposto sobre o tabaco.

Salvo as propostas mais polêmicas, o colorado teve um programa de governo menos detalhado em todas as áreas. Sobre política externa, só pronunciou-se neste domingo, com as perguntas dos jornalistas internacionais no café da manhã antes da votação.

 
Apoiadores de Mario Abdo Benítez comemoram nas ruas de Assunção durante apuração dos votos
Apoiadores de Mario Abdo Benítez comemoram nas ruas de Assunção durante apuração dos votos - Eitan Abramovich/AFP

Ele disse que priorizará a abertura do Mercosul a outros países do mundo. “O Mercosul tem um potencial ainda não desenvolvido à profundidade que eu gostaria. Nós vamos continuar aprofundando os laços com os países do bloco e abrirmos ao mundo.”

Também prestou solidariedade aos venezuelanos pela crise e disse que continuará com o tom crítico da administração de Cartes contra o regime de Nicolás Maduro.

“Sempre fui crítico à condução política da Venezuela. Minha solidariedade com esse grande povo, que em um momento foi o farol democrático da América Latina e que tem que recuperar seu caminho democrático.” 

Marito se beneficiou da capacidade de mobilização do Partido Colorado, que lhe rendeu comícios com milhares de pessoas, e o apoio do empresariado, a começar pela família do presidente, maior produtora de tabaco do país.

Também contou a seu favor a ligação de Efraín com a Frente Guasú, embora o liberal tenha tentado diminuir a influência dos esquerdistas em temas como as políticas econômica e externa, o que aproximou as propostas dos dois lados.

O novo presidente paraguaio nasceu em 10 de novembro de 1971, na época em que o pai trabalhava para Stroessner. Durante a infância e a adolescência, estudou no Colégio San Andrés, um dos melhores de Assunção. Em 1999, último ano da ditadura, uniu-se às Forças Armadas, tornando-se paraquedista.

Empresário do setor asfáltico, aderiu à política em 2005. Tornou-se vice-presidente do Partido Colorado e, sete anos depois, elegeu-se senador. Foi presidente do Congresso entre 2015 e 2016, ao mesmo tempo em que fomentava seu projeto de buscar a Presidência.

Na campanha, preferiu omitir a defesa aberta da ditadura que marcou sua carreira. Reiterava que defendia um regime democrático e se irritava com menções ao assunto, como a feita por um jornalista antes de votar. “Crítica ridícula”, disse, cortando a pergunta.

Apesar da mudança de posição, ele manteve um ritual. Logo depois de votar, foi com a família visitar o mausoléu do pai, como fez em todas suas campanhas por diferentes cargos.

Cartes deixa cargo com economia em alta, mas sem reduzir pobreza

Mario Abdo assumirá em 15 de agosto um país com a economia crescendo cerca de 4% por ano, mas sem reduzir a pobreza e a desigualdade, e um tenso ambiente político.

Em quase cinco anos, Horacio Cartes usou o lado negociante para atrair investimentos e compradores para a soja e a carne, principais produtos agropecuários paraguaios.

O resultado foi a manutenção do crescimento econômico apesar da crise na Argentina e no Brasil, dos quais se tornou menos dependente. Com as chegadas de Mauricio Macri e Michel Temer, pôde retomar as negociações de acordos no âmbito do Mercosul.

O país aumentou as importações e incentivou o consumo ao facilitar o crédito para a compra de veículos, eletrônicos e eletrodomésticos.

O boom econômico, porém, evidenciou os problemas da infraestrutura. As construções de vias rurais e urbanas e linhas de transmissão e energia não foram suficientes para evitar os engarrafamentos nas estradas, em sua maioria de pista simples, e os apagões.

Outra dívida que Cartes deixa é em relação a sua maior promessa em 2013, a redução da pobreza. Apesar do crédito fácil e da redução do déficit habitacional, a parcela de pessoas abaixo da linha de pobreza caiu apenas 1,6 ponto percentual de 2013 a 2017, passando de 28% para 26,4% .

Cartes renunciará ao cargo em 1º de julho para assumir uma vaga no Senado.

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