Celso Amorim decide viajar à Ucrânia após críticas às falas de Lula sobre guerra

Assessor especial da Presidência foi recentemente a Moscou, onde se encontrou com Putin

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Lisboa

Após a repercussão negativa das falas do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) sobre a guerra no Leste Europeu, Celso Amorim, assessor especial da Presidência para a política externa, visitará a Ucrânia.

O anúncio foi feito pelo ministro da Secretaria-Geral da Presidência da República, Márcio Macedo, após encontro com representantes da Associação de Ucranianos de Portugal, que realizaram um pequeno ato em frente à embaixada brasileira em Lisboa nesta sexta (21). A viagem ainda não tem data para ocorrer.

O ex-chanceler Celso Amorim, assessor especial do presidente Lula, durante entrevista coletiva em Brasília
O ex-chanceler Celso Amorim, assessor especial do presidente Lula, durante entrevista coletiva em Brasília - Pedro Ladeira - 5.dez.22/Folhapress

"O presidente Lula determinou e me orientou que dissesse que o assessor especial da Presidência para assuntos internacionais, o ex-chanceler Celso Amorim, que esteve na Rússia, vai visitar a Ucrânia."

Principal conselheiro de Lula para política internacional, Amorim se reuniu recentemente com o presidente russo, Vladimir Putin, em Moscou, um gesto que irritou aliados do Ocidente, contrários à Rússia, ainda que as declarações do presidente brasileiro tenham sido as responsáveis por provocar grande repercussão.

A fala de Lula que gerou mais reações ocorreu em Pequim, durante sua visita à China. Na ocasião, cobrou que os EUA "parem de incentivar a guerra e comecem a falar em paz" para encaminhar um acordo no Leste Europeu, uma referência ao envio de armas para que Kiev se defenda das ofensivas russas.

A queixa de representantes dos EUA e da Europa é a de que Lula teria enviado em poucos dias uma sequência de acenos à Rússia e à China, aliada de Putin, em meio à guerra. Eles citam, além da ida de Amorim a Moscou, da viagem à China e das declarações apontando o dedo para os EUA, a recente passagem do chanceler russo, Serguei Lavrov, por Brasília, fechando um pacote de provocações a importantes sócios do Brasil, que encaram a guerra como a principal crise de segurança em curso hoje.

Já Portugal abriga uma grande comunidade ucraniana, que, ao saber da passagem de Lula pelo país, logo se organizou para rechaçar as falas do presidente de que a Ucrânia também é responsável pela guerra.

As falas fizeram o governo em Kiev convidar Lula pela segunda vez para visitar o país. Em um post no Facebook, o porta-voz da chancelaria ucraniana, Oleg Nikolenko, afirmou desejar que o petista compreenda "as verdadeiras causas da agressão russa e suas consequências para a segurança global".

"A Ucrânia observa com interesse os esforços do presidente do Brasil para encontrar uma solução para a guerra. Ao mesmo tempo, a abordagem que põe vítima e agressor na mesma balança e acusa os países que ajudam a Ucrânia [...] de incentivarem a guerra não está de acordo com a realidade", disse Nikolenko.

Com bandeiras e cartazes, pessoas protestam em frente à embaixada do Brasil em Portugal, durante visita de Lula ao país, contra falas do petista sobre a Guerra da Ucrânia
Com bandeiras e cartazes, pessoas protestam em frente à embaixada do Brasil em Portugal, durante visita de Lula ao país, contra falas do petista sobre a Guerra da Ucrânia - Pedro Nunes - 21.abr.23/Reuters

Membro da comitiva do petista na viagem a Portugal, Macedo foi escalado para se reunir com representantes do grupo e expressar solidariedade por parte do governo brasileiro. "No diálogo não tinha animosidade. Pelo contrário, foi uma reunião muito boa", afirmou. O ministro disse ainda que Lula pediu que ele, em nome do presidente, se "solidarizasse com a dor das famílias vitimadas por essa guerra".

"Assim como ele tem uma obsessão de acabar novamente com a fome no Brasil —infelizmente o país voltou ao mapa da fome—, ele também tem essa determinação de ajudar esse conflito a acabar."

Embora sem avanços concretos até aqui, uma das propostas do governo Lula para a guerra é a criação de um "clube da paz", fórum de países que Brasília entende como não alinhados a nenhum dos lados do conflito para mediar as negociações entre Kiev e Moscou. Entre essas nações, estaria a China de Xi Jinping.

Após o encontro, os ucranianos afirmaram que não irão participar da manifestação contra Lula organizada pelo partido de ultradireita Chega, marcada para terça (25), quando o petista discursa no Parlamento luso.

Após o mal-estar causado pelas declarações de Lula, que chegaram a ser criticadas publicamente pela Casa Branca mais de uma vez, Amorim e o conselheiro de Segurança Nacional da Casa Branca, Jake Sullivan, conversaram por telefone, em um movimento para distensionar as relações.

De acordo com o comunicado do governo americano, eles discutiram na última terça (17) também o combate às mudanças climáticas, os esforços dos dois países para salvaguardarem instituições democráticas e o G20, grupo do qual o Brasil assume o comando em dezembro.

Já segundo Brasília, a conversa já estava agendada, como parte do diálogo regular que os dois conselheiros têm, e, embora tenha girado em torno das declarações recentes, ocorreu em tom amistoso.

Havia a expectativa de que, quando esteve em Pequim, Lula tratasse do assunto com Xi. O chinês, no entanto, parece ter demonstrado pouco apetite em relação ao clube da paz.

Em recente entrevista à Folha, Amorim disse que os governos de Lula e de Biden têm muito em comum na política social e econômica. Também elogiou a "atitude positiva" do democrata em relação ao processo eleitoral no Brasil. Mas afirmou que "isso não nos obriga a ter que seguir todas as opiniões que eles [os EUA] têm. A gente pode divergir".

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