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31/05/2010 - 23h27

Maioria dos detidos deve ser liberada nesta terça-feira, diz Israel

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COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

O ministro israelense de Segurança Interna, Yitzhak Aharonovitch,disse que a maioria dos detidos será liberada para partir assim que passarem por um processo de exames e interrogatório que dura cerca de meia hora. As exceções seriam os supostos de estarem envolvidos em violência, que devem ser processados.

"Eles vão passar por um exame médico, uma investigação, interrogatório, e depois, quem quiser deixar Israel. pode ir para o aeroporto [de Tel Aviv]" disse ele à TV local.

O Exército de Israel atacou na madrugada desta segunda-feira um comboio de barcos organizado pela ONG Free Gaza, um grupo de seis navios, liderados por uma embarcação turca, que transportava mais de 750 pessoas e 10 mil toneladas de ajuda humanitária para a faixa de Gaza, deixando ao menos dez mortos e cerca de 30 feridos.

A cineasta brasileira Iara Lee estava a bordo de um dos barcos atacados na manhã desta segunda-feira por Israel, segundo a Folha apurou.

Autoridades israelenses localizaram a cineasta brasileira Iara Lee, que estava em uma das embarcações da flotilha que seguiria para Gaza e, na lista de passageiros, constava como cidadã norte-americana, informou a Embaixada israelense em comunicado.

"Iara Lee está em boas condições de saúde e recusou a opção de deixar o país voluntariamente. Neste momento está com as autoridades israelenses aguardando ser deportada."

Iara Lee

O último contato feito por Iara tinha sido na noite de ontem, quando, segundo amigas, ela postou mensagem no site de relacionamentos Facebook anunciando que o barco em que ela estava fora cercado pela Marinha de Israel. A brasileira embarcou na última quinta-feira a partir da Turquia e vinha dando notícias graças a uma conexão internet disponível no barco em que ela estava.

Divulgação
A cineasta brasileira Iara Lee, que estava no comboio atacado em israel
A cineasta brasileira Iara Lee, que estava no comboio atacado em israel

Em carta escrita antes do embarque, Iara justificou a participação na missão a Gaza dizendo que pretendia chamar atenção para o que ela considera "grave abuso de direitos humanos" cometidos por Israel contra a faixa de Gaza.

"Normalmente eu consideraria uma missão de boa vontade como esta completamente inócua. Mas agora estamos diante de uma crise que afeta os cidadãos palestinos criada pela política internacional. É resultado da atitude de Israel de cercar Gaza em pleno desafio à lei internacional. Embora o presidente Lula tenha tomado algumas medidas para promover a paz no Oriente Médio, mais ação civil é necessária para sensibilizar as pessoas sobre o grave abuso de direitos humanos em Gaza", diz a carta de Iara.

"[...] Eu me envolvo porque creio que ações resolutamente não violentas, que chamam atenção ao bloqueio, são indispensáveis esclarecer o público sobre o que está de fato ocorrendo. Simplesmente não há justificativa para impedir que cargas de ajuda humanitária alcancem um povo em crise", acrescenta o texto.

Além de militar pela paz e pelo diálogo entre culturas, Iara Lee é uma produtora e cineasta brasileira de ascendência coreana radicada nos EUA. Entre suas obras estão os documentários "Synthetic Pleasures" (1995), que trata do impacto da alta tecnologia sobre a cultura de massas, e "Modulations" (1998), considerada uma das obras cinematográficas mais importantes sobre música eletrônica.

Iara é divorciada e não tem filhos.

Reunião em Brasília

O embaixador israelense encontrou-se nesta segunda-feira com a Subsecretária-Geral de Assuntos Políticos do Itamaraty, embaixadora Vera Lúcia Barrouin Crivano Machado, às 17 horas, no Itamaraty, após ser convocado.

O embaixador de Israel reafirmou a posição israelense de que a flotilha não seguia com uma ação humanitária, mas chegou como uma provocação com o intuito de apoiar o regime ilegal e terrorista do Hamas em Gaza.

O Embaixador manifestou ainda que não existe crise humanitária em Gaza, uma vez que todo o tipo de ajuda tem ingressado diariamente na região. Israel ofereceu aos organizadores da flotilha a alternativa de seguirem para o porto de Ashdod, onde os suprimentos de ajuda humanitária seguiriam para Gaza por via terrestre. Os organizadores não aceitaram esta opção.

"Foi mencionado ainda, pelo embaixador, que os soldados israelenses embarcaram sem empunhar suas armas e foram atacados violentamente, com ameaças às suas vidas, pelos manifestantes que não foram pacifistas. Somente após sofrerem os violentos ataques, os soldados israelenses reagiram em legítima defesa", informa a embaixada israelense em seu comunicado.

Versão de Israel

O ministério das Relações Exteriores de Israel compilou uma nota tentando justificar o ataque do Exército israelense contra a "Frota da Liberdade" na madrugada desta segunda-feira (31). Traduzido para várias línguas e divulgado pelas embaixadas israelenses ao redor do mundo, o documento visa conter a rejeição da comunidade internacional ao ataque, julgado como "desproporcional".

Arte/Folha

Segundo a nota o chanceler israelense, Avigdor Lieberman, "os membros da embarcação não estavam em missão de paz e são, na verdade, terroristas que atacaram os militares das FDI [Forças de Defesa de Israel] quando estes abordaram a embarcação que se dirigia à faixa de Gaza".

Ainda de acordo com o comunicado, as tropas israelenses teriam tentado "dialogar e alcançar um entendimento com os organizadores da frota.

O comunicado lembra ainda que "todas as solicitações de Israel ao Hamas para que fosse autorizada a entrada da Cruz Vermelha na faixa de Gaza, com o fim de visitar e atender o soldado israelense sequestrado, Gilad Shalit, foram negadas".

Para o governo israelense a tentativa do comboio humanitário de furar o bloqueio à faixa de Gaza e entregar suprimentos à região foi uma "violência pré-planejada pelo grupo que atacou as FDI e Israel não permitirá qualquer ofensiva ao seu Estado por parte de grupos terroristas ou seus apoiadores".

Reação brasileira

O chanceler Celso Amorim afirmou nesta segunda-feira que o ataque israelense à flotilha que levava ajuda humanitária à faixa de Gaza justifica a tomada uma ação por parte da ONU. "É um ato muito grave, estamos preocupados com isso, esperamos que a ONU adote alguma ação, e que Israel possa atender ao que for solicitado", disse.

O governo brasileiro condenou nesta segunda-feira, em nota oficial, o ataque. A nota indica que o governo convocou o embaixador de Israel ao Itamaraty para que seja "manifestada a indignação do governo brasileiro com o incidente e a preocupação com a situação da cidadã brasileira".

"O Brasil condena, em termos veementes, a ação israelense, uma vez que não há justificativa para intervenção militar em comboio pacífico, de caráter estritamente humanitário. O fato é agravado por ter ocorrido, segundo as informações disponíveis, em águas internacionais. O Brasil considera que o incidente deva ser objeto de investigação independente, que esclareça plenamente os fatos à luz do Direito Humanitário e do Direito Internacional como um todo", diz o governo brasileiro no comunicado.

Reação na ONU

O Conselho de Segurança da ONU (Organização das Nações Unidas) fez uma reunião de emergência nesta segunda-feira para discutir o incidente, com a maioria dos membros pedindo por uma investigação completa e o fim do bloqueio a Gaza.

Já o representante palestino perante a ONU, Riad Mansour, pediu uma resposta firme do Conselho de Segurança perante o que qualificou de "massacre", e pediu que os responsáveis sejam levados à Justiça.

O chanceler turco, Ahmet Davutoglu, que participou dos debates no conselho, qualificou o incidente de "assassinato realizado por um Estado" e exigiu ao governo Binyamin Netanyahu que peça desculpas imediatas pelo ocorrido.

Davutoglu pediu também a abertura urgente de uma investigação internacional, assim como uma ação legal "contra os autores e as autoridades responsáveis", além do fim do bloqueio a Gaza.

Já o embaixador adjunto dos Estados Unidos na ONU, Alejandro Wolff, ressaltou que Washington espera "uma investigação crível e transparente", ao tempo que pediu ao governo Netanyahu que abra também sua própria avaliação oficial do caso.

Outros países

O presidente da Autoridade Nacional Palestina (ANP), Mahmoud Abbas, decretou três dias de luto nos territórios palestinos devido ao ataque israelense à "Frota da Liberdade". Em comunicado emitido na cidade cisjordaniana de Ramallah através da agência oficial palestina "Wafa", Abbas não anunciou, no entanto, uma interrupção do diálogo indireto de paz que mantém com Israel.

Em visita ao Chile, o premiê turco, Recep Tayyip Erdogan, disse nesta segunda-feira que Israel cometeu um ato de "terrorismo de Estado, "demonstrou que não quer a paz na região" e "violou a lei internacional".

O ministro de Defesa do Irã fez nesta segunda-feira um apelo à comunidade internacional para que cortem todas as relações com Israel após a morte de ativistas que levavam ajuda humanitária à faixa de Gaza a bordo de navios nesta segunda-feira.

Os Estados Unidos lamentaram a ação e indicaram que uma investigação deve apurar os detalhes da ação militar.

A Rússia considera que o ataque das tropas israelenses contra uma frota pró-palestina que levava ajuda humanitária à faixa de Gaza constitui uma "grosseira violação do direito internacional", segundo comunicado oficial divulgado nesta segunda-feira.

COM SAMY ADGHIRNI

 

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