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04/08/2010 - 12h44

Advogado procurado no Irã foge e pede asilo à Turquia

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GABRIELA MANZINI
DE SÃO PAULO

O advogado de direitos humanos Mohammad Mostafaei, responsável pelo caso de Sakineh Ashtiani, a iraniana condenada a morte por apedrejamento pelo "crime" de adultério, fugiu pela fronteira do país com a Turquia e entrou hoje com um pedido por asilo, de acordo com informações da agência da ONU para refugiados.

Dê sua opinião: Você apoia a iniciativa de Lula de oferecer asilo a Sakineh?

Mostafaei afirma ter sofrido ameaças de morte no Irã, onde está foragido da Justiça e sua mulher permanece presa. Por ter entrado em território turco irregularmente, Mostafaei está sob a custódia das autoridades há cerca de cinco dias.

Divulgação
O advogado iraniano Mohammad Mostafaei, que foi para a Turquia após ter mandado de prisão expedido pela Justiça do país persa
O advogado iraniano Mohammad Mostafaei, que foi para a Turquia após ter mandado de prisão expedido pela Justiça do país persa

Procurado pela Folha, o porta-voz da agência da ONU de refugiados na Turquia, Metin Corabatir, confirmou que o advogado está no centro de detenção de Kumkapi, em Istambul, e disse esperar que sua libertação demore alguns dias. Conforme Corabatir, Mostafaei já iniciou perante a ONU e perante o governo turco o processo para receber asilo. Uma vez concedido esse status, ele deverá buscar um terceiro país, já que a Turquia só recebe asilados não europeus em caráter temporário, ainda segundo Corabatir.

Mostafaei foi chamado a depor à Justiça iraniana no último dia 24. Depois de cerca de quatro horas de interrogatório, ele foi liberado, mas acabou reconvocado horas depois, já com a notícia da prisão dos seus familiares. Na ocasião, ONGs internacionais de defesa dos direitos humanos como a Anistia Internacional e a Human Rights Watch lançaram apelos para que o governo de Mahmoud Ahmadinejad parasse com o "assédio" e a "intimidação" contra o advogado.

Três dias depois, a Justiça iraniana emitiu um mandado de prisão contra ele. No dia seguinte, Mostafaei chegava à fronteira de ambos os países na tentativa de escapar, conforme relatou à Folha uma fonte envolvida no caso. Da cidade iraniana de Maku ele foi, por terra, até Van, na Turquia, onde tentou embarcar em um avião rumo a Istambul, na sexta-feira passada. Mostafaei acabou detido pelas autoridades turcas e levado ao centro de detenção para estrangeiros de Istambul.

Por telefone, durante o final de semana, Mostafaei relatou a colegas o trajeto e as más condições da prisão em que estava. Reclamou da alimentação inadequada e da falta de sono. Desde segunda-feira, no entanto, ele não atende mais aos telefonemas.

O governo turco ainda não se manifestou sobre o caso.

O blog de Mostafaei na internet é uma das principais fontes de informação para a mídia ocidental no caso de Sakineh, pivô da crescente pressão internacional sobre Teerã pelo respeito aos direitos humanos. Sakineh está presa desde 2006 à espera do cumprimento de uma sentença de morte por apedrejamento, punição prevista na jurisprudência iraniana para casos de adultério durante o casamento que gera revolta ao redor do mundo, dada a sua crueldade.

SAKINEH

AP
Foto divulgada pela Anistia Internacional em Londres mostra Sakineh Mohammadi Ashtiani, acusada de adultério
Foto divulgada pela Anistia Internacional em Londres mostra Sakineh Mohammadi Ashtiani, acusada de adultério

Mãe de dois filhos, Sakineh foi condenada em maio de 2006 a receber 99 chibatadas por ter um "relacionamento ilícito" com um homem acusado de assassinar o marido dela. Sua defesa diz que Sakineh era agredida pelo marido e não vivia como uma mulher casada havia dois anos, quando houve o homicídio. Mesmo assim, Sakineh foi, paralelamente à primeira ação, julgada e condenada por adultério. Ela chegou a recorrer da sentença, mas um conselho de juízes a ratificou, ainda que em votação apertada --3 votos a 2.

Os juízes favoráveis à condenação de Sakineh à morte por apedrejamento votaram com base em uma polêmica figura do sistema jurídico do Irã chamada de "conhecimento do juiz", que dispensa a avaliação de provas e testemunhas.

Um abaixo-assinado on-line lançado há dois meses devolveu o caso ao centro das atenções. Em julho passado, pressionada, a Embaixada do Irã em Londres afirmou que Sakineh não seria morta por apedrejamento --sem, no entanto, descartar que ela fosse morta, porém por outro método, provavelmente o enforcamento.

Dias depois, o chefe do Judiciário da Província de Azerbaijão do Leste, Malek Ezhder Sharifi, responsável pelo caso, foi a público afirmar que não só considerava a sentença ao apedrejamento válida como passível de aplicação instantânea. Disse ainda que essa pena estava relacionada não só ao adultério mas também à acusação de Sakineh de coautoria no assassinato do marido.

BRASIL

No sábado, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse que iria usar sua "amizade" com Ahmadinejad para propor que a iraniana tivesse asilo do Brasil. "Se vale a minha amizade e o carinho que tenho pelo presidente do Irã e o povo iraniano, se essa mulher está causando incômodo, a receberíamos no Brasil de bom grado", disse.

Só ontem o governo iraniano fez os primeiros comentários públicos --e negativos-- sobre a proposta. Ramin Mehmanparast, porta-voz do Ministério das Relações Exteriores iraniano, disse que Lula fizera a oferta, provavelmente, com base em informações erradas. Completou ainda que Sakineh "cometeu um crime". "Pelo que sabemos, [o presidente Luiz Inácio Lula] da Silva é uma pessoa muito humana e emotiva, que provavelmente não recebeu informações suficientes sobre o caso", afirmou.

Em San Juan (Argentina), onde participava da cúpula do Mercosul, o presidente Lula disse ontem ter ficado "feliz" por Teerã ter percebido que é "muito emocional". "Não fiz um pedido [de asilo] formal. Fiz um pedido mais humanitário. Pelo que se fala na imprensa, ou [Sakineh] vai morrer apedrejada ou enforcada. Ou seja, nenhuma das duas mortes é humanamente aceitável. Por isso, fiz esse apelo. Obviamente, se houver disposição do Irã em conversar sobre esse assunto, teremos imenso prazer em conversar e, se for o caso, trazer essa mulher para o Brasil", reiterou o brasileiro.

 

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