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Embaixador do Brasil no Irã confirma oferta formal de asilo a Sakineh
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MÁRCIA SOMAN MORAES
DE SÃO PAULO
O embaixador do Brasil em Teerã, no Irã, Antônio Salgado, confirmou nesta sexta-feira em entrevista à Folha.com que fez a oferta formal de asilo à iraniana Sakineh Ashtiani, condenada a morte por apedrejamento pelo crime de adultério.
A oferta foi questionada pelo embaixador do Irã no Brasil, Mohsen Shaterzadeh, que negou em entrevista à Agência Brasil na véspera que tenha recebido oferta formal por "ofício por escrito, nota oral ou troca de notas" do governo brasileiro a Teerã de asilo ou refúgio político para Sakineh.
AP |
A iraniana Sakineh Mohammadi Ashtiani foi condenada a morte por apedrejamento por adultério e pelo assassinato do marido |
"A proposta foi transmitida oficialmente ao governo iraniano. Eu fui pessoalmente ao Ministério dos Negócios Estrangeiros iraniano. [...] Eu falei em nome do governo brasileiro", disse o embaixador.
O Itamaraty já havia noticiado que, na segunda-feira (9), o embaixador se reuniu com o governo local para apresentar aos canais oficiais, formalmente, a oferta de asilo à iraniana. A visita é um recurso conhecido diplomaticamente como gestão, quando o ministro das Relações Exteriores ou mesmo o presidente de um país manda o embaixador procurar a chancelaria da capital onde atua para estabelecer relações formais.
O embaixador confirmou versão dada ontem à Folha.com pelo Itamaraty de que não há necessidade do ofício por escrito neste caso e reiterou que o governo iraniano confirmou o recebimento da proposta formal.
"O governo iraniano está ciente e houve uma comunicação de governo a governo sobre a proposta do presidente [Luiz Inácio] Lula [da Silva]. Este é que é o fato", disse Salgado.
O embaixador preferiu não aprofundar o mal-estar diplomático causado por Shaterzadeh. "A interpretação dele é essa. A nossa é outra. Não vou polemizar".
RESPOSTA
Salgado afirmou ainda que não houve nenhuma resposta à oferta de asilo pelos canais formais e que não há nenhuma previsão para tal.
Mesmo antes de a oferta ser formalizada, contudo, as autoridades iranianas já indicavam que o asilo seria rejeitado.
No dia 31 de julho, o presidente Lula disse que iria usar sua "amizade" com o colega iraniano, Mahmoud Ahmadinejad, para propor que a iraniana tivesse asilo do Brasil. Três dias depois, Ramin Mehmanparast, porta-voz do Ministério das Relações Exteriores iraniano, disse que Lula fizera a oferta, provavelmente, com base em informações erradas.
Na terça-feira (10), o diretor de imprensa e relações públicas da Embaixada do Irã em Oslo, Mohammad Hosseini, explicou à Folha.com que "não faz sentido" Teerã aceitar a oferta brasileira, já que Sakineh é uma iraniana "criminosa" condenada.
O tom foi repetido nesta quinta-feira pelo embaixador iraniano no Brasil. "Ocorreram crimes e serão julgados conforme o código do Irã, que segue preceitos morais e culturais do país", disse Shaterzadeh. "O processo envolve pessoas iranianas, por que deveria ter o envolvimento de outros países?".
Para Salgado, resta apenas esperar. "Fizemos este gesto, que foi importante, e a bola agora está no lado iraniano", disse, lembrando que o "caso é muito difícil, ela foi condenada pelas leis iranianas".
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