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Cinco anos após furacão Katrina, Nova Orleans é mais latina do que afro-americana
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SUSANA IRLES
DA EFE, EM WASHINGTON
A reconstrução de Nova Orleans após o furacão Katrina atraiu milhares de trabalhadores de origem hispânica, os responsáveis cinco anos depois da tragédia por mudar a face da cidade de maioria negra, o que gerou atritos raciais.
O artista José Torres-Tama escolheu o título de seu recém-lançado documentário que brinca por meio de uma sátira com a mudança racial na cidade.
"Queria rir um pouco daqueles que se queixavam da presença cada vez maior de latinos na cidade", disse em alusão aos comentários de Ray Nagin, que era o prefeito da quando em 29 de agosto de 2005 o devastador Katrina, que tinha chegado a ter categoria 5 (a máxima), tocou a terra na Louisiana com categoria 3.
Em um fórum de empresários, Nagin perguntou: "Como posso garantir que Nova Orleans não será invadida por trabalhadores mexicanos?"
Robert F. Bukaty/AP | ||
Bombeiros revistam localidade do Estado americano de Louisiana inundada pelo furacão Katrina, ainda em 2005 |
O auditório apoiou com aplausos, embora Nagin tenha pedido desculpas mais tarde. Meses depois voltou a polemizar quando reivindicou que Nova Orleans voltasse a ser tão "chocolate" como antes do furacão.
"Agora temos um prefeito mais inclusivo, mas infelizmente segue existindo ódio e um sentimento anti-imigrante", disse a presidente da Câmara Hispana de Comércio da Louisiana, Darlene Kattan.
MERCADO DE TRABALHO
Os atritos raciais se mantêm cinco anos depois e Torres-Mata tentou retratá-las em seu documentário e outros projetos artísticos como "Os invisíveis", uma homenagem fotográfica aos operários latinos.
A competição laboral entre latinos e negros, os quais alegam que os salários diminuíram devido à chegada de imigrantes, é a origem da tensão, segundo o artista.
"Mas também há violência, sobretudo, assaltos", ressalta. As pessoas que trabalham como diaristas costumam carregar dinheiro nos bolsos, por isso ganharam o apelido de "caixas automáticos ambulantes", explica Torres-Mata.
Ao mesmo tempo, aquelas palavras do então prefeito refletiram o sentimento de parte da população que lamentava ver os bairros afro-americanos esvaziarem, como o Lower Ninth Ward, do distrito mais devastado pelas inundações que alagaram 80% da cidade.
Cinco anos depois, só um quarto dos 5.000 habitantes retornou às ruas ainda sem pavimentação. Os demais continuam em Houston (Texas) e em outros estados, para onde foram levados.
Aquele êxodo em massa coincidiu com outra mudança demográfica em direção oposta. "Quando acabou a tempestade, dirigi pelos bairros e vi que muitos latinos tinham chegado. Viviam em parques e prédios abandonados. Sabiam que ia ter trabalho", conta Katten.
MÃO-DE-OBRA
Empresas de limpeza e reconstrução contrataram dezenas de milhares de trabalhadores, em sua maioria, mão-de-obra latina. Cerca de 47% deles imigraram do México, conforme estudo da Universidade de Tulane.
A maioria ficou. Pelas estimativas da câmara, na área metropolitana de Nova Orleans, há 150 mil latinos e o censo calcula que a população latina só na cidade passou de 4,4% para 6,6% de 2000 para 2009.
Kattan mesma assistiu aos primeiros que chegaram e viu como eles fizeram para viver sem eletricidade nem água nas casas, explica. "Fizeram-no com um sacrifício bárbaro", ressalta.
O artista chama atenção para essas condições e à "exploração" que esses trabalhadores sofreram em Nova Orleans.
"Os latinos imigrantes estão sempre ausentes quando se fala do Katrina. Ninguém sabe que eles foram os que limparam o Superdome. Nem a que preço o fizeram", assinala Torres-Mata referindo-se ao estádio que foi refúgio improvisado de 10 mil pessoas durante o desastre.
Kattan coincide com ele ao afirmar que "o problema mais grave" da comunidade latina é "a exploração das pessoas que fazem trabalhos como diaristas", a maioria deles imigrantes ilegais, mas acredita-se que há uma "grande diferença" do antes para depois do Katrina para essa comunidade.
"Antes do Katrina eu pedia algo para qualquer empresa ou instituição política, ninguém abria a porta para mim. Agora, por outro lado, não param de chamar porque querem saber como integrar a cultura, que fazer nas escolas", explica.
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