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08/09/2010 - 16h25

Suspensão de apedrejamento de Sakineh é "insuficiente" e pode ser ato "cínico", diz Anistia

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DAS AGÊNCIAS DE NOTÍCIAS

A Anistia Internacional (AI) qualificou de "insuficiente" a suspensão da condenação à morte por apedrejamento da iraniana Sakineh Mohammadi Ashtiani, e anunciou que continuará a fazer denúncias para que a condenação da mulher seja "alterada completamente" pelo governo de Teerã.

"Esperamos que não seja apenas um ato cínico das autoridades iranianas para que as críticas internacionais diminuam", disse o diretor da AI na Espanha, Esteban Beltrán. Ele disse ainda estar preocupado que a suspensão possa estar relacionada com a inclusão de acusações pela morte do marido de Sakineh.

AP
Sentença de morte da iraniana Sakineh Mohammadi Ashtiani causou polêmica internacional sobre apedrejamento no Irã
Sentença de morte da iraniana Sakineh Mohammadi Ashtiani causou polêmica internacional sobre apedrejamento no Irã

"Mais do que nunca, a pressão internacional deve ser ainda mais forte, para que a suspensão progrida para o cancelamento da pena de morte, e para que não sejam fabricadas acusações contra ela relacionadas à morte de seu marido", disse ainda Beltrán, ressaltando que a suspensão é "temporária" e a qualquer momento "pode ser revogada".

O Ministério de Relações Exteriores do Irã confirmou nesta quarta-feira que a sentença de morte por apedrejamento contra Sakineh Mohammadi Ashtiani, acusada de adultério, foi suspensa. "O veredicto sobre o caso extramarital foi suspenso e está sendo revisto", disse Ramin Mehmanparast, porta-voz da chancelaria, à TV estatal Press TV.

A embaixada iraniana em Londres, no Reino Unido, já havia anunciado meses atrás a suspensão da condenação por apedrejamento diante das duras críticas de diversos países pela crueldade da punição. O caso, contudo, continuou em julgamento.

Na véspera, o governo iraniano havia afirmado que países estrangeiros não devem interferir no sistema legal do país e deveriam parar de tentar converter o caso em "problema de direitos humanos".

O filho da iraniana disse nesta semana temer que a sentença fosse executada depois do fim do Ramadã, o mês sagrado de jejum dos muçulmanos que acabará em 10 de setembro. Em conversa telefônica com o escritor francês Bernard Henri Levy, Sajjad Mohammadi Ashtiani, 22, lembrou que a lei islâmica permite que as execuções sejam retomadas após o mês sagrado.

Ele disse ainda estar sem notícias da mãe desde a suposta confissão exibida pela televisão iraniana em 11 de agosto. "As visitas semanais estão proibidas", afirmou o filho mais velho de Sakineh.

Na semana passada, Sajjad pediu ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva, cujo pedido de asilo foi rejeitado, que continue insistindo ante o governo do Irã para salvar sua mãe.

Ele contou que sua mãe foi chamada à presença de um juiz, que a condenou a 99 chibatadas. "Isso por uma falsa acusação de difundir a indecência em razão de uma foto que se presumia era dela sem o hijab [um dos tipos de véus utilizados pelas mulheres iranianas]", afirmou o filho de Sakineh ao jornal britânico "Observer".

CASO SAKINEH

Mãe de dois filhos, Sakineh foi condenada em maio de 2006 a receber 99 chibatadas por ter um "relacionamento ilícito" com um homem acusado de assassinar o marido dela. Sua defesa diz que Sakineh era agredida pelo marido e não vivia como uma mulher casada havia dois anos, quando houve o homicídio.

Mesmo assim, ela foi, paralelamente à primeira ação, julgada e condenada por adultério. Ela chegou a recorrer da sentença, mas um conselho de juízes a ratificou, ainda que em votação apertada --3 votos a 2.

Diplomatas iranianos afirmam que foi encerrado o processo de adultério e que a mulher é acusada "apenas" pelo assassinato do marido. Os juízes favoráveis à condenação de Sakineh à morte por apedrejamento votaram com base em uma polêmica figura do sistema jurídico do Irã chamada de "conhecimento do juiz", que dispensa a avaliação de provas e testemunhas.

Assassinato, estupro, adultério, assalto à mão armada, apostasia e tráfico de drogas são crimes passíveis de pena de morte pela lei sharia do Irã, em vigor desde a revolução islâmica de 1979. O apedrejamento foi amplamente utilizado nos anos após a revolução, mas a sentença acabou em desuso com o passar dos anos.

Sob as leis islâmicas, a mulher é enterrada até a altura do peito e recebe pedradas até a morte.

REPERCUSSÃO

Em uma nota conjunta, Franco Frattini, das Relações Exteriores, e Mara Carfagna, da Igualdade de Oportunidades, explicaram que o caso encoraja "a vontade de manter sobre muitos temas, ainda que sensíveis, canais de diálogo e de respeito recíproco".

"A tutela e a promoção dos direitos humanos não devem conhecer descanso. Agradecemos ao chefe de Estado Giorgio Napolitano e a tantas instituições, as administrações públicas, as forças políticas e as associações que apoiaram a campanha dos ministérios das Relações Exteriores e para a Igualdade de Oportunidades 'Pela vida de Sakineh'", acrescentaram os italianos.

Muitos cidadãos do país europeu se mobilizaram a favor da iraniana, além do próprio Frattini, que rogou clemência diversas vezes -- entre as personalidades que comentaram o assunto está o escritor Roberto Saviano, autor do livro "Gomorra", sobre a máfia napolitana Camorra.

Em meio a outras iniciativas, o governo da região do Lazio -- uma das mais importantes da Itália e onde está localizada a capital Roma -- lançou na semana passada uma campanha em seu site institucional a favor da mulher, com o slogan "O Lazio com Sakineh".

Mais cedo, o Comitê Permanente sobre Direitos Humanos da Câmara dos Deputados havia se reunido para deliberar sobre o caso da iraniana, e lançou "um apelo para exprimir o compromisso coeso do Parlamento italiano para colocar fim à barbárie de um episódio que encheu de horror o mundo civilizado".

O chanceler alemão, Guido Westerwelle, disse em um comunicado que está "profundamente preocupado" com a vida de Sakineh.

"O Irã deve respeitar os direitos humanos, principalmente porque o país está comprometido com as leis internacionais", disse Westerwelle. "Não é uma questão de religião, mas de dignidade humana".

 

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