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10/09/2010 - 15h45

Fidel volta atrás e diz que foi "mal interpretado" ao falar que modelo cubano não funciona mais

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DAS AGÊNCIAS DE NOTÍCIAS

O ex-ditador cubano Fidel Castro voltou atrás a respeito de suas declarações sobre o modelo econômico de Cuba, dizendo que foi "mal interpretado" pela revista americana "The Atlantic". No blog da revista, o jornalista Jeffrey Goldberg escreveu que perguntou a Fidel, 84, se ainda valeria tentar exportar o modelo comunista cubano para outros países. "O modelo não funciona mais nem para nós", respondeu ele, segundo o jornalista.

Omara Garcia/AFP
O ex-líder cubano Fidel Castro disse que seus comentários sobre o modelo econômico de Cuba foram mal interpretados
O ex-líder cubano Fidel Castro disse que seus comentários sobre o modelo econômico de Cuba foram mal interpretados

"Disse isso sem amargura, nem preocupação. Me divirto agora ao ver como ele [o jornalista que o entrevistou] interpretou ao pé da letra, e como o repórter consultou Julia Sweig, [outra jornalista] que o acompanhou e elaborou a teoria exposta", disse Castro.

"A verdade é que minha resposta significava exatamente o contrário do que os dois jornalistas americanos interpretaram sobre o modelo cubano", afirmou.

CAPITALISMO

Em suas afirmações desta sexta-feira Castro disse ainda que é o sistema capitalista que não funciona.

"Minha ideia, como todo o mundo conhece, é de que é o sistema capitalista que já não serve nem para os Estados Unidos nem para o mundo e que conduz a crises cada vez mais graves, globais e repetidas, das quais não se pode escapar", indicou.

"Como um sistema semelhante poderia servir para um país socialista como Cuba?", questionou.

Sobre a pergunta do jornalista americano, sobre a validade de exportar o sistema cubano para outros países, Castro afirmou que "é evidente que essa pergunta levava impícita a teoria de que Cuba exportava a revolução".

ENCONTRO

No blog, o jornalista conta que, no momento, chegou a duvidar do que ouvia. "Eu não tinha certeza de que escutara corretamente", escreveu.

O encontro com Fidel -- que ocorreu no Aquário Nacional de Cuba-- contou também com a presença de Adela Dworin, presidente da comunidade judaica no país. Goldberg conta que buscou Adela em uma sinagoga e ambos se encontraram com Fidel na porta do aquário. Os três seguiram então até o local onde ocorre o show dos golfinhos.

AFP/www.cubadebate.cu/Estudios Revolucion
O ex-ditador cubano, Fidel Castro, conversa com jornalistas em Havana; ele diz que modelo econômico de Cuba não funciona
O ex-ditador cubano, Fidel Castro, conversa com jornalistas em Havana; ele diz que modelo econômico de Cuba não funciona

Durante a visita, Fidel beijou Dworin diante das câmeras, em uma "possível mensagem aos líderes iranianos", disse Goldberg no seu blog.

Segundo o autor, Fidel lhe pareceu "fisicamente frágil, mas mentalmente lúcido e com energia".

"Você gosta de golfinhos?", perguntou Fidel ao jornalista no início do encontro, que retrucou: "Gosto muito".

O ex-ditador teria chamado então Guillermo Garcia, diretor do aquário e disse: "Goldberg, faça perguntas a ele sobre os golfinhos"."Que tipo de perguntas?", teria dito o jornalista. "Você é jornalista, faça boas questões", respondeu Fidel. "Ele não entende muito sobre golfinhos, de qualquer forma. Ele é físico nuclear".

"Por que você cuida do aquário?", perguntou então Goldberg, segundo o blog. "Nós o colocamos aqui para evitar que ele construísse uma bomba nuclear!", brincou Fidel.

"Em Cuba, nós só construímos armas nucleares com fins pacíficos", respondeu Garcia. "Não pensei que estivéssemos no Irã", acrescentou Goldberg.

Fidel apontou então para um pequeno tapete que seus seguranças trazem junto com a cadeira especial que usa e disse: "Veja, é persa!", brincou.

MUDANÇAS

O comentário parece refletir a concordância de Fidel --já manifestada em uma coluna publicada em abril na imprensa estatal cubana-- com as modestas reformas econômicas que vêm sendo promovidas por seu irmão caçula Raúl Castro, atual presidente de Cuba.

Goldberg disse ainda que Julia Sweig, especialista em Cuba na entidade norte-americana Conselho de Relações Exteriores --que o acompanhou a Havana-- acredita que as palavras de Fidel reflitam uma admissão de que "o Estado tem um papel grande demais na vida econômica do país".

Tal sentimento ajudaria Raúl, no poder desde 2008, contra membros do Partido Comunista que são contrários às tentativas de enfraquecer o domínio econômico estatal, disse Sweig a Goldberg.

Nesta terça-feira, Goldberg escreveu que Fidel o chamou a Havana para discutir seu recente artigo sobre a possibilidade de um conflito nuclear entre Israel e Irã, com possível envolvimento dos EUA.

O jornalista disse que Fidel criticou o presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad, por fazer comentários antissemitas e negar a existência do Holocausto.

Depois de reaparecer em público, após quatro anos de afastamento por motivos de saúde, Fidel se tornou um ativista do desarmamento nuclear. Ele teme uma guerra atômica caso Israel e os EUA tentem impor o cumprimento de sanções internacionais ao programa nuclear iraniano. Washington e seus aliados acusam Teerã de tentar desenvolver armas atômicas, o que a República Islâmica nega.

Fidel também criticou suas próprias ações durante a chamada Crise dos Mísseis, em 1962, quando ele aceitou a instalação de ogivas nucleares soviéticas na ilha e tentou convencer Moscou a atacar os EUA. Na entrevista a Goldberg, ele disse que aquele impasse "não valeu nada a pena".

 

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