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15/09/2010 - 08h22

França reage e diz que críticas da UE por expulsão de ciganos são inaceitáveis

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DAS AGÊNCIAS DE NOTÍCIAS

O governo francês foi a público nesta quarta-feira para reagir às duras críticas da comissária europeia de Justiça, Viviane Reding, sobre a expulsão de ciganos no país. Paris chamou as críticas de inaceitáveis e pediu que ela não se deixe levar por uma "polêmica estéril". Já o secretário de Estado francês de Assuntos Europeus, Pierre Lellouche, disse que a comissária "derrapou" ao comparar a política de expulsão de ciganos com a Segunda Guerra (1939-1945).

"Como filho de alguém que lutou pela liberdade francesa, não posso permitir à senhora Reding que diga que a França atual se parece com a França de Vichy, ninguém pode falar de Segunda Guerra", disse Lellouche ao canal de TV RTL.

"Não se trata de fazer polêmica, nem com a Comissão nem com o Parlamento (europeu). No entanto, algumas declarações são simplesmente inaceitáveis", afirmou uma fonte do Palácio do Eliseu, que pediu anonimato, às vésperas de uma reunião de chefes de Estado e de Governo da União Europeia (UE) em Bruxelas, que terá a presença de Nicolas Sarkozy.

"É o momento de um diálogo sereno para tratar os assuntos importantes. Existe a vontade de abordar as coisas importantes, ao invés de se deixar levar por uma polêmica estéril", completou.

A comissária europeia de Justiça e Direitos Fundamentais criticou duramente na véspera a política de expulsão de ciganos aplicada pela França e acelerada a partir de julho, estabelecendo um paralelo com as deportações executadas pelos nazistas durante a Segunda Guerra.

"A discriminação por motivos de raça ou etnia não tem espaço na Europa", afirmou a comissária. "Pensava que a Europa não precisaria testemunhar mais uma vez uma situação como esta após a Segunda Guerra Mundial", disse Reding, se referindo à perseguição sofrida pelos ciganos na Alemanha nazista.

O governo francês já havia sido comparado, pelo líder cigano da Romênia Iulian Radulescu, ao regime do ditador romeno pró-Nazismo, marechal Ion Antonescu. Antonescu deportou 25 mil ciganos da Romênia para a região soviética de Trans-Dniester em 1942. Cerca de 11 mil ciganos morreram após terem sido deportados da Romênia. Não há números precisos sobre os ciganos mortos durante o Holocausto, mas segundo o Museu Memorial do Holocausto nos EUA, foram entre 220 mil e 500 mil.

A comissária anunciou ainda que pedirá a abertura de processo contra a França por violação das leis da UE que determinam a livre circulação de pessoas pelos países-membros. A comissão é o corpo executivo da UE e pode solicitar ações contra qualquer um dos 27 países-membros. O processo é conduzido pela Corte de Justiça e, se condenada, a França pode ter de pagar multa.

O Parlamento Europeu já exigira na semana passada que o governo francês suspenda imediatamente a expulsão de ciganos e expressou oficialmente sua "profunda preocupação" com esta política.

EXPULSÃO

O governo francês mandou cerca de mil ciganos de volta à Romênia e à Bulgária nas últimas semanas, como parte de medidas de combate ao crime e sob uma proposta de imigração. Sarkozy ligou os ciganos ao crime, chamando os campos em que alguns deles vivem de fontes de tráfico, exploração de crianças e prostituição.

Em 2009, 10 mil romenos e búlgaros foram levados para seus países, segundo as autoridades francesas, no que Paris considera um programa de repatriação voluntária.

Cerca de 400 mil pessoas, 95% delas francesas, fazem parte da comunidade cigana na França. O restante é formado por ciganos de origem búlgara, romena e de outros países dos Bálcãs, cujo número aumenta constantemente, segundo o governo. Calcula-se que haja 15 mil ciganos em situação irregular na França.

Como tanto a França como a Romênia são membros da União Europeia, seus cidadãos podem viajar livremente entre os dois países e permanecer legalmente por até três meses --o que dificulta o controle sobre a minoria. Mas os governos também podem, legalmente, mandar cidadãos para outros países da UE se eles não conseguem encontrar trabalho ou se sustentar.

Há entre 10 milhões e 12 milhões de ciganos na União Europeia, a maioria vivendo em circunstâncias de calamidade, vítimas de pobreza, discriminação, violência, desemprego e habitação precária. Cerca de 1,5 milhão vivem na Romênia, um país de 22 milhões de habitantes, que tem a maior população de ciganos na Europa.

As expulsões promovidas pelo governo de Sarkozy foram criticadas por várias instituições, como a Igreja Católica e a ONU (Organização das Nações Unidas), e até mesmo alguns membros do governo e do partido político de Sarkozy demonstraram preocupação.

Apesar das críticas, o governo está convencido de que todo este tema fortalece Sarkozy frente às eleições presidenciais de 2012, após o escândalo sobre as doações ilegais da mulher mais rica da França, Liliane Bettencourt, herdeira do grupo L'Oréal, à campanha do presidente em 2007.

 

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