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08/10/2010 - 14h51

Dalai-lama pede que governo chinês liberte Prêmio Nobel da Paz 2010

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DAS AGÊNCIAS DE NOTÍCIAS

O líder espiritual tibetano, o dalai-lama, pediu nesta sexta-feira à China que ponha em liberdade o dissidente Liu Xiaobo, novo prêmio Nobel da Paz, e outros "prisioneiros de consciência" aprisionados por exercer "liberdade de expressão".

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"Conceder-lhe o prêmio da paz representa o reconhecimento da comunidade internacional das crescentes vozes no povo chinês que querem empurrar a China para reformas políticas, legais e constitucionais", disse o líder tibetano em comunicado.

O dalai lama escapou do Tibete em 1959, após uma revolta fracassada contra a China, e se refugiou na localidade indiana de Dharamsala, um enclave aos pés do Himalaia que também é sede do governo tibetano no exílio.

"Eu gostaria de felicitar de coração Liu Xiaobo por ter recebido o prêmio Nobel", acrescentou desde essa localidade o líder espiritual, que recebeu esse mesmo prêmio no ano de 1989, após conhecer a decisão divulgada hoje em Oslo (Noruega).

"Acho que nos anos vindouros, as futuras gerações de chineses poderão desfrutar o resultado dos esforços que os cidadãos chineses de hoje estão fazendo para conseguir um governo responsável", acrescentou.

O dalai-lama também lembrou algumas palavras do primeiro-ministro chinês, Wen Jiabao, sobre o caráter imprescindível da liberdade de expressão "para qualquer país", como "reflexo de um crescente anelo de uma China mais aberta".

E também se disse "comovido" e "encorajado" pela iniciativa "Carta 08", uma carta auspiciada e assinada por Xiaobo e outros intelectuais e artistas reivindicando "democracia" e "liberdade" para a China.

A "Carta 08" representa uma condenação de 11 anos de prisão e dois mais de privação de direitos civis para Liu Xiaobo, de 54 anos, que já tinha participado dos protestos de Praça da Paz Celestial em 1989.

EMBAIXADOR

Mais cedo a China convocou o embaixador da Noruega em Pequim para protestar pela concessão do Prêmio Nobel da Paz ao dissidente chinês, anunciou o Ministério das Relações Exteriores norueguês.

"Eles querem manifestar a sua opinião, o seu descontentamento e o seu protesto", disse a porta-voz da Chancelaria. "Nós enfatizamos que o comitê [do Nobel] é independente e a necessidade de continuar com as boas relações entre os nossos países."

Liu, 54, cumpre pena de prisão de 11 anos por ter sido, há dois anos, um dos organizadores de um documento que exorta o regime chinês a conceder mais liberdade e a se abrir politicamente. Liu participou ainda dos protestos pró-democracia violentamente reprimidos na Praça da Paz Celestial, em 1989.

O governo chinês reagiu imediatamente, qualificando a decisão de "blasfêmia" que vai contra os princípios do próprio comitê ao premiar "um criminoso".

O chanceler norueguês, Jonas Gahr Stoere, disse nesta sexta-feira que a concessão do prêmio não deve causar uma reação hostil de Pequim.

"Não há motivos para dirigir qualquer medida contra a Noruega como país, e acho que haveria um efeito negativo sobre a reputação da China se ela assim agisse", disse Stoere a uma TV local.

Stoere enfatizou que o comitê da Nobel é independente do governo da Noruega, que atualmente negocia um tratado comercial bilateral com Pequim.

Stoere admitiu, no entanto, que "não é segredo que há muitos anos a China tem dado uma série de alertas de que o Nobel da Paz a um dissidente chinês levaria a reações negativas".

YM Yik/Efe
Mulher chora ao lado de foto de Liu Xiaobo, Nobel da Paz 2010, em vigilia por sua libertação em janeiro deste ano
Mulher chora ao lado de foto de Liu Xiaobo, Nobel da Paz 2010, em vigilia por sua libertação em janeiro deste ano

REAÇÃO

O Ministério das Relações Exteriores da China atacou a decisão e disse que o prêmio deveria, em vez disso, ser usado para a promoção da amizade internacional e do desarmamento.

"Liu Xiaobo é um criminoso sentenciado pela Justiça chinesa por violar as leis da China", disse a Chancelaria em Comunicado. "[A decisão] é completamente contrário ao próprio espírito do prêmio e é uma blasfêmia ao Nobel da Paz."

O anúncio em emissoras de TV como a americana CNN foi imediatamente censurado, e sites da internet que fazem a cobertura da premiação foram bloqueados. Tentativas de envio de mensagens de texto por celular com sobre "Liu Xiaobo" não eram possíveis.

CRÍTICA

Para Wei Jingsheng, que passou cerca de 20 anos na prisão pela atuação pró-democracia no país, Liu é um moderado que quer colaborar com o governo chinês.

Segundo o ativista, Liu foi por vezes autorizado a atuar e já fez críticas a outros opositores que propõem mudanças mais profundas do que as defendidas pelo Nobel da Paz.

AP
Em 2008, Liu aparece em frente ao túmulo do dissidente Bao Zunxin, preso após o massacre da Paz Celestial
Em 2008, Liu aparece em frente ao túmulo do dissidente Bao Zunxin, preso após o massacre da Paz Celestial

ATIVISMO

Liu Xiaobo, o mais proeminente dissidente chinês, incomoda o governo desde 1989, quando aderiu aos protestos pró-democracia duramente reprimidos na Praça da Paz Celestial, em 1989.

Há dois anos, ele foi um dos organizadores do manifesto chamado Carta 08, em que intelectuais e ativistas pediam reformas abrangentes na China, inspirando-se na Carta 77, um marco do movimento pró-democracia na Tchecoslováquia na década de 1970.

A publicação do documento levou Liu à prisão. E, em dezembro do ano passado, ele foi condenado a 11 anos de prisão sob a acusação de subversão, por fazer campanha em prol de liberdades políticas. A sentença foi criticada pelos EUA, pela União Europeia e por grupos de direitos humanos.

A esposa do dissidente o visita uma vez por mês na prisão que fica na província de Liaoning, nordeste da China. As visitas duram uma hora e são monitoradas.

O advogado de Liu, Shang Baojun, disse esperar que, "graças a essa decisão, ele seja liberado rapidamente, embora ainda seja muito cedo para se saber se será assim mesmo".

"Espero que nesta ocasião, a China se abra ainda mais, que se levantem as restrições à liberdade de expressão.

Liu já havia passado 20 meses na cadeia depois da repressão aos protestos da Praça da Paz Celestial, e depois ficou três anos num campo de "reeducação pelo trabalho", na década de 1990, além de vários meses praticamente sob prisão domiciliar.

Veja a lista dos vencedores do Nobel da Paz nos últimos 10 anos:

  • 2010: Liu Xiaobo.
  • 2009: Barack Obama
  • 2008: Martti Ahtisaari
  • 2007: Intergovernmental Panel on Climate Change, Al Gore
  • 2006: Muhammad Yunus, Grameen Bank
  • 2005: Agência Internacional de Energia Atômica, Mohamed ElBaradei
  • 2004: Wangari Maathai
  • 2003: Shirin Ebadi
  • 2002: Jimmy Carter
  • 2001: ONU, Kofi Annan
  • 2000: Kim Dae-jung
 

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