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26/10/2010 - 09h21

Irã admite ter fornecido "muita ajuda" à reconstrução do Afeganistão

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DA FRANCE PRESSE

O porta-voz do Ministério das Relações Exteriores do Irã confirmou nesta terça-feira que o país deu "muita ajuda" à reconstrução do Afeganistão e que pretende continuar com o auxílio, ao ser questionado sobre o dinheiro enviado por Teerã ao governo do presidente afegão Hamid Karzai.

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"O Irã deu muita ajuda no passado para a reconstrução do Afeganistão, e estas ajudas continuarão", declarou o porta-voz Ramin Mehmanparast.

Ele não mencionou de forma específica os envios de grandes quantias de dinheiro em espécie revelados pelo jornal "The New York Times" e confirmados ontem (25) pelo próprio Karzai.

"Todos os países devem ajudar a reconstruir a infraestrutura do Afeganistão", declarou Mehmanparast. "A estabilidade do Afeganistão é muito importante para a República Islâmica do Irã, país vizinho", destacou.

O "Times" informou que o chefe de gabinete da presidência afegã, Umar Daudzai, recebera importantes quantias de dinheiro --possivelmente até US$ 6 milhões (R$ 10 milhões) em um único pagamento-- transportadas pelo embaixador iraniano em sacolas, e que tudo foi depositado em um fundo secreto utilizado pelo governo para pagar deputados, líderes tribais e até mesmo dirigentes do Taleban, com o objetivo de garantir a fidelidade de todos.

Teerã usaria os pagamentos para aumentar sua influência e espalhar a discórdia entre os afegãos e seus aliados americanos e da Otan (aliança militar ocidental), segundo o jornal.

Ontem, ao ser procurada antes da confissão de Karzai, a Embaixada do Irã em Cabul qualificou as acusações do "Times" de "falsas, insultantes e ridículas".

"Estas especulações sem fundamento vêm de meios ocidentais que tentam semear a confusão na opinião pública e obstruir os fortes vínculos entre os governos e os povos das repúblicas islâmicas do Afeganistão e do Irã", afirmou um representante diplomático.

ADMISSÃO

O presidente do Afeganistão, Hamid Karzai, admitiu ontem que seu gabinete recebeu malas de dinheiro do Irã, mas disse que isso foi feito de forma "transparente" para ajudar a cobrir despesas do palácio presidencial, e que os EUA fazem pagamentos semelhantes.

Shah Marai /AFP
Em entrevista coletiva em Cabul, o presidente Hamid Karzai admitiu ter recebido dinheiro do Irã
Em entrevista coletiva em Cabul, o presidente Hamid Karzai admitiu ter recebido dinheiro do Irã

"Foi oficial e sob minha ordem", disse Karzai. "Isso é transparente, isso é algo que eu discuti até mesmo com o [ex] presidente George [W.] Bush, nada é escondido, os EUA fazem a mesma coisa, também dão malas de dinheiro, é a mesma coisa."

Karzai disse ainda que recebe dinheiro de vários "países amigáveis", mas citou apenas EUA e Irã. O regime islâmico teria contribuído com até 700 mil euros (R$ 1,67 milhão) duas vezes ao ano. O presidente afegão disse ainda que continuaria pedindo dinheiro iraniano.

"O governo do Irã ajuda [meu] gabinete com 500, 600 ou 700 mil euros uma ou duas vezes ao ano, o que é ajuda oficial", disse Karzai em entrevista coletiva em Cabul, ao lado do presidente do Tadjiquistão, Imomali Rakhmon, em visita ao país.

Karzai disse que o dinheiro foi usado para cobrir despesas do palácio, salários e "pessoas de fora", mas não deu detalhes.

"Pagamentos em dinheiro são feito por vários países amigáveis para ajudar o gabinete presidencial a ajudar nas despesas de vários modos, para ajudar os funcionários aqui, e pessoas de fora", disse o presidente afegão. "Vamos continuar a pedir dinheiro ao Irã."

O Irã tem ampla e crescente influência no Afeganistão, especialmente no oeste do país, onde tem importantes relações econômicas. Os EUA repetidamente acusam Teerã de ajudar os insurgentes no Afeganistão. Teerã nega que apoie grupos militantes no Afeganistão, e diz que a instabilidade é causada pela presença de tropas ocidentais.

REAÇÃO AMERICANA

Em resposta, o porta-voz do Departamento de Estado, P.J. Crowley, disse que preocupa aos EUA os motivos para o Irã oferecer tal apoio --e não necessariamente a forma como ele é efetuado.

"Continuamos céticos em relação à motivação do Irã, dado seu histórico de jogar um papel desestabilizador com seus vizinhos. Esperamos que o Irã assuma a responsabilidade de manter uma papel construtivo no futuro do Afeganistão."

Questionado sobre a afirmação de Karzai --de que os EUA também deu malas de dinheiro ao Afeganistão--, Crowley disse que isso aconteceu, mas não acontece agora. "Voltando alguns anos, por causa da natureza do sistema financeira afegão, houve vezes em que a ajuda entrou no Afeganistão na forma de dinheiro vivo", disse Crowley. "Não é a forma como nossa ajuda chega hoje."

Já o secretário de imprensa do Pentágono, Geoff Morrell, disse não estar surpreso com a revelação. "Acho que o Irã no Afeganistão --assim como foi no Iraque-- manteve uma via de mão dupla por anos", disse à MSNBC. "Por um lado, como esse relato indica, claramente tentando agradar o governo, enquanto, por outro lado, treinando, armando, financiando, dirigindo forças antigoverno."

O secretário de Defesa dos EUA, Robert Gates, disse este ano que o Irã mantém um "jogo duplo" ao ser amigável com o governo, enquanto tenta minar os EUA.

Teerã participou de conversas com um grupo internacional sobre o Afeganistão pela primeira vez no começo deste mês, e o enviado americano Richard Holbrooke disse que os EUA reconhecem que o Irã tem um papel-chave no conflito afegão.

 

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