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28/11/2010 - 02h31

Regime egípcio manipula voto com mão pesada, diz analista

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MARCELO NINIO
DE JERUSALÉM

Se sobreviver ao câncer, o ditador do Egito, Hosni Mubarak, irá se reeleger para o sexto mandato consecutivo em setembro do próximo ano, com o plano de passar o poder ao filho Gamal.

A previsão é do cientista político Holger Albrecht, da Universidade Americana do Cairo. A oposição é reprimida ou irrelevante demais para ter algum impacto nas eleições deste domingo, disse ele, em entrevista à Folha.

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Folha - Embora o resultado seja previsível, a votação de domingo pode ser considerada uma prévia do nível de liberdade que a oposição terá na eleição presidencial?

Holger Albrecht - A Irmandade Muçulmana [principal força de oposição] está sob forte coação desde o seu ótimo desempenho nas eleições parlamentares de 2005. A isso somam-se as divisões internas deflagradas quando a nova liderança do grupo assumiu, em dezembro do ano passado. Por isso, as eleições de hoje não podem ser consideradas um verdadeiro teste. Elas apenas consolidarão a resposta do regime ao desafio que o movimento islâmico representa. Não será permitido que a Irmandade Muçulmana receba mais que 5 ou 10% dos votos.

Os interesses do regime refletem em alguma medida as prioridades do eleitor?

No plano doméstico, o principal interesse do regime é ficar no poder e conter o dissenso entre a população. O governo implementou bem-sucedidas reformas macroeconômicas, mas elas não necessariamente melhoraram o bem-estar dos pobres. Externamente, o governo tenta passar a imagem de um Estado estável, e de aliado confiável do Ocidente na região, em particular dos interesses norte-americanos.

A população egípcia é em sua grande maioria despolitizada. Seus interesses se concentram em melhores condições econômicas. Surpresa ou não, o regime ainda tem apoio popular substancial, ainda que difuso. Mesmo em eleições livres o partido do regime, PND, provavelmente receberia a maioria dos votos, mesmo que não chegasse aos 2/3 do Parlamento que sempre garante por meio de fraude e manipulação eleitoral.

A oposição é fraca, altamente desacreditada por causa de seu limitado alcance popular e das relações próximas com o regime. Uma exceção é a Irmandade Muçulmana, que tem apoio popular, mas é mantida sob repressão do governo.

O governo egípcio rejeitou os apelos para que permitisse monitoramento externo nas eleições. Há chance de um pleito limpo?

O regime controla com mão pesada o processo eleitoral para manipular seus resultados. Uma maioria de 2/3 para o Partido Nacional Democrático sempre permitiu ao governo mudar a Constituição quando precisa. Qualquer monitoramente real reduziria a habilidade do regime de ditar o resultado das eleições.

Qual o cenário mais provável para as eleições presidenciais de 2011?

O mais provável é que Hosni Mubarak, se ainda estiver vivo (ele tem câncer), dispute mais uma vez em 2011 e deixe o poder um ou dois anos depois para dar lugar a seu filho Gamal. No momento, brigas internas no PND e a falta de proximidade de Gamal com os militares indicam que a possibilidade de que assumia imediatamente é difícil e improvável.

 

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