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30/11/2010 - 13h18

EUA destacam aproximação do Brasil com muçulmanos; leia telegrama traduzido

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DE SÃO PAULO

O site WikiLeaks, especializado na publicação de documentos confidenciais, divulgou que, para os EUA, o Brasil disfarça a prisão de terroristas, informa reportagem de Fernando Rodrigues, publicada na edição desta segunda-feira da Folha e disponível na íntegra para assinantes do jornal e do UOL.

O relato foi feito em 2008 pelo então embaixador em Brasília, Clifford Sobel, e consta de lote de 1.947 telegramas da diplomacia americana na última década. A Folha teve acesso exclusivo a seis telegramas. Tratam de ações de ativistas de origem árabe no país, mas não listam suspeitos de terrorismo detidos no Brasil.

Veja um destes telegramas traduzido

VZCZCXYZ0024
RR RUEHWEB

DE RUEHSO #0663/01 3421846
ZNY CCCCC ZZH
R 081846Z DEC 09
FM AMCONSUL SAO PAULO
TO RUEHC/SECSTATE WASHDC 0240
INFO RUEHAC/AMEMBASSY ASUNCION
RUEHBO/AMEMBASSY BOGOTA
RUEHBR/AMEMBASSY BRASILIA
RUEHBU/AMEMBASSY BUENOS AIRES
RUEHCV/AMEMBASSY CARACAS
RUEHLB/AMEMBASSY BEIRUT 0001
RUEHLP/AMEMBASSY LA PAZ
RUEHMN/AMEMBASSY MONTEVIDEO
RUEHPE/AMEMBASSY LIMA
RUEHRI/AMCONSUL RIO DE JANEIRO
RUEHSO/AMCONSUL SAO PAULO

1. (C) Sumário: São Paulo oferece possibilidades únicas para o envolvimento com os muçulmanos, muitas das quais se tornaram evidentes ao longo da visita de Farah Pandit, representante especial para as comunidades muçulmanas (SRMC), em 22 e 23 de novembro. A maioria sunita de muçulmanos politicamente moderados recebeu com agrado a SRMC Pandit e exibiram orgulhosamente a ela algumas de suas principais instituição, entre as quais a elaborada mesquita de Santo Amaro, uma escola muçulmana que atende a um corpo docente formado por 60% de alunos não muçulmanos (o islamismo é matéria optativa) e um vigoroso grupo ecumênico que apoia a Abraham Path Initiative. Os moderados muçulmanos de São Paulo se preocupam com a ascensão do fundamentalismo e com a influência do Hizbollah entre as ondas mais recentes de imigrantes libaneses, majoritariamente xiitas, porque promovem uma visão ampla e tolerante de "islamismo moderno". Sua comunidade continua a ser em larga medida tradicionalista, com participação limitada de organizações femininas e de juventude. Mesmo assim, a avidez da liderança tradicional por promover aproximação, sua aguda consciência quanto aos perigos do radicalismo e suas realizações sólidas na integração das identidades muçulmana e brasileira fazem dela exemplo excelente de como uma CMM (comunidade muçulmana minoritária) única conseguiu criar um espaço positivo no seio de um país latino-americano bastante diversificado. O posto buscará apoio de Washington a fim de trazer um xeque norte-americano com o objetivo de reforçar nossos esforços de envolvimento, como medida de reforço à visita muito bem sucedida da SRMC Pandith. Fim do sumário.

Visitas da representante especial Farah Pandit em São Paulo

2 (U) A Representante Especial para as Comunidades Muçulmanas (SMRC) Farah Pandith visitou São Paulo em 22 e 23 de novembro. Durante a visita, ela se encontrou com diversos representantes das comunidades muçulmanas da cidade, visitou a mesquita de Santo Amaro (a maior da cidade) e a escola muçulmana anexa, e participou de uma recepção organizada pela Federação Muçulmana em sua honra. Pandith falou sobre os planos de envolvimento do USG (governo dos Estados Unidos), e respondeu perguntas. A SMRC Pandith também concedeu uma entrevista ao grande diário paulistano "Folha de S. Paulo", na qual contou sua história como muçulmana norte-americana. Os muçulmanos de São Paulo, em sua maioria sunitas moderados, receberam a SNRC Pandith com entusiasmo e expressaram avidez por futuras oportunidades de contato.

Aproveitando a conexão libanesa

3. (U) A SMRC Pandith iniciou sua visita pela recepção do Dia Nacional do Líbano, uma festa de gala para 1,5 mil pessoas organizada pelo consulado libanês e realizada no prestigioso Clube Libanês de São paulo em 22 de novembro. A maioria dos imigrantes árabes e muçulmanos ao Brasil têm origens libanesas, e o evento ofereceu amplas oportunidades de interagir com diversos elementos da comunidade, entre os quais xeques sunitas, drusos e xiitas, bem como muçulmanos dos mundos dos negócios, política e polícia.

A comunidade muçulmana de Santo Amaro

4. (U) A SMRC Pandith visitou a mesquita de Santo Amaro e a escola a ela anexa em 23 de novembro. A comunidade muçulmana local construiu a mesquita, que em geral atrai de 300 a 350 fieis a cada sexta-feira, com assistência da Arábia Saudita. A mesquita serve como polo espiritual central para um complexo de instituições, entre as quais uma escola secundária muçulmana e, em breve, uma escola de enfermagem. A escola secundária abriga 600 alunos, 60% dos quais não muçulmanos (e muitos beneficiários de bolsas de estudo) e o estudo do islamismo é optativo. Mohammed el Zoghbi, presidente da Federação Muçulmana, mantenedora da escola, falou com especial orgulho sobre os esforços sociais da comunidade muçulmana de Santo Amaro em benefício de todos os brasileiros. (Nota: A Federação Muçulmana é um grupo sunita moderado. Trata-se de um dos diversos grupos desse tipo que disputam a posição de representante central dos muçulmanos brasileiros. Fim da noite.) El Zoghbi ressaltou que a escola oferece uma alternativa educacional forte e de preço acessível para os jovens brasileiros que vivem em uma área "periférica" da cidade. (Nota: A mesquita e escola muçulmana de Santo Amaro ficam em um bairro de renda média a baixa, em uma cidade altamente polarizada. Fim da nota.) A federação também está construindo uma escola de enfermagem no local, com capacidade para 1,2 mil alunos; a escola deve ser inaugurada em janeiro.

Um diálogo direto com a juventude

5. (U) A SMRC Pandith se reuniu com ampla amostra de alunos muçulmanos, meninos e meninas, da escola secundária. Os jovens não reportaram dificuldades reais com sentimentos anti-islâmicos no Brasil. Disseram em lugar disso que os demais brasileiros em muitos casos não compreendem o Islã e ficam intrigados com a afiliação religiosa dos estudantes. Algumas das mulheres mais jovens lamentaram o fato de que os costumes islâmicos mais severos -a proibição a bebidas alcoolicas, por exemplo- dificultam suas interações com adolescentes brasileiros não muçulmanos. Em termos gerais, o grupo se provou amigável e muito acessível. Os jovens expressaram interesse em aprender inglês e demonstraram conhecimentos evidentes sobre a cultura pop dos Estados Unidos. Nenhum havia visitado os Estados Unidos.

A Abraham Path Initiative

6. (U) O cônsul geral do Líbano, Joseph Sayah, recebeu a SMRC Pandith para um café no qual ela se reuniu com líderes muçulmanos, cristãos e judaicos envolvidos com a Abraham Path Initiative no Brasil. Fundada por William Ury, professor da Universidade Harvard, o programa Abraham Path promove uma forma única de turismo no Oriente Médio. Encoraja muçulmanos, cristãos e judeus a percorrer o caminho de Abraão, em um esforço para encorajar a reconciliação contemporânea entre as três fés inspiradas por Abraão. Embora os brasileiros envolvidos na iniciativa ajudem em viagens ao Oriente Médio, eles também empreendem atividades em São Paulo. Contaram à SMRC Pandith sobre uma recente "corrida da amizade" que promoveram, unindo muçulmanos, cristãos e judeus em um evento público muito positivo. Joseph Sayah demonstrou incrível interesse em ajudar nossa missão. Ele compreende o valor do novo posto de representante especial, e ofereceu à SMRC muitas ideias sobre o envolvimento com comunidades brasileiras, mas mais amplamente sugestões sobre como o USG pode causar impacto usando o discurso do presidente Obama no Cairo. Foi entusiástico quanto ao foco na juventude e conversou em separado com a SMRC a fim de expressar sua dedicação quanto a ajudar o governo norte-americano a aproveitar "o momento atual" e a "boa vontade" existente no mundo.

O presidente e nossos esforços de aproximação com os muçulmanos

7. (C) Os promotores da Abraham Path no Brasil compartilham dos objetivos mundiais da iniciativa mas também agem motivados por preocupações fortemente locais. Como disse o executivo bancário Salim Saheen, brasileiro de ascendência libanesa, à SMRC Pandith, "o Hizbollah está ganhando [partidários]", especialmente junto aos imigrantes xiitas libaneses mais recentes. Consequentemente, os moderados desejam "aplicar pressão contrária sobre os radicais", promovendo atividades ecumênicas populares.

Recepção na Federação Muçulmana

8. (U) A Federação Muçulmana organizou uma recepção de 40 pessoas à SMRC Pandith em seu hotel, em 23 de novembro. A SMRC falou ao grupo sobre a visão da secretária Clinton para o Departamento de Estado norte-americano e sobre suas instruções para promover aproximação com os muçulmanos. A SMRC falou sobre o novo paradigma de envolvimento baseado em interesse e respeito mútuos. Falou sobre o foco na próxima geração (e foi recebida com grande entusiasmo) e mencionou a conferência de cúpula empresarial que está por acontecer -instando os convidados a sugerir nomes de jovens e dinâmicos empresários para possível participação. A SMRC também enfatizou os planos para instruir os brasileiros muçulmanos solicitantes quanto ao nosso procedimento de concessão de vistos, e sobre nosso desejo de trazer um xeque norte-americano. Os participantes responderam de forma muito favorável às declarações de Pandith e diversos palestrantes sugeriram que tanto empresários quanto estudantes muçulmanos brasileiros receberiam com agrado a oportunidade de viajar mais aos Estados Unidos.

Comentário: iniciando um relacionamento

9. (C) A aproximação entre o posto e os muçulmanos continua a ser um trabalho em progresso. A maioria sunita libanesa dos muçulmanos de São Paulo representa em termos gerais uma comunidade muito conservadora e tradicional em termos de estrutura familiar, e os grupos femininos e de juventude são incipientes. Ao mesmo tempo, os líderes sunitas muçulmanos em São Paulo estão cientes dos perigos da radicalização, que viram crescer nos recentes influxos de imigrantes xiitas libaneses mais pobres. Em resposta, estão promovendo ativamente um islamismo "moderno" e tolerante, que destaque as boas obras em benefício do bem comum. Quanto a isso, reproduzem os padrões de civilidade entre as religiões que existiam na história libanesa antes dos anos 70, e aproveitam a tendência inerente do Brasil a uma ampla tolerância cultural. Isso resulta em uma série de comunidades islâmicas que, embora não imunes a radicalização, têm fortes conexões com outras religiões e uma tradição de viver e deixar viver.

10. (C) Manter o envolvimento com os muçulmanos de São Paulo por meio de programas adicionais (como uma visita de um xeque norte-americano) ajudaria a reforçar o islamismo convencional no Brasil, destacaria a importância da liberdade religiosa na América, a diversidade do islamismo na América e poria fim aos mitos equivocados que circulam sobre o islamismo na América. Além disso, esforços como esses reforçariam os esforços da comunidade muçulmana de São Paulo para difundir sua experiência de relacionamento com outras religiões e suas boas obras junto a outras comunidades muçulmanas do planeta. Por esse motivo, o Brasil merece uma estratégia MMC (minoria muçulmana no país) própria, que aproveite os esforços de uma geração de muçulmanos brasileiros que se provaram competentes em criar uma identidade muçulmana brasileira e fundar instituições de sucesso que são a um só tempo totalmente muçulmanas e genuinamente brasileiras. FIM DO COMENTÁRIO. White

 

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