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Após WikiLeaks, Rússia sobe tom e alerta EUA a não interferir em seus assuntos
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DE SÃO PAULO
O premiê russo, Vladimir Putin, subiu o tom nesta quarta-feira e alertou os Estados Unidos a não interferirem nos assuntos domésticos russos. A resposta veio após as críticas de diplomatas americanos ao governo de Moscou, parte dos mais de 250 mil telegramas vazados pelo site WikiLeaks.
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Os líderes russos foram contidos na reação ao vazamentos dos documentos diplomáticos americanos, que revelaram um mundo dos bastidores da diplomacia global e comentários rudes dos americanos sobre vários líderes mundiais. Vários dos papeis se referem à Rússia, mas nenhum trouxe, até o momento, revelações bombásticas.
Em um deles, contudo, um telegrama datado de 8 de fevereiro de 2010, o secretário de Defesa dos EUA, Robert Gates, afirma que a democracia russa desapareceu e descreve o governo russo "uma oligarquia gerenciada por serviços de segurança".
Putin questionou o sistema democrático dos EUA e afirmou que muitos dos presidentes americanos foram eleitos por voto indireto, no sistema de colégios eleitorais, mesmo que eles não tivessem maioria do voto popular.
"Quando nós estamos conversando com nossos amigos americanos e contando a eles que há problemas sistêmicos com o sistema de colégios eleitorais [sistema de votação indireta utilizada nos EUA], nós ouvimos deles: "não interfira em nossos assuntos, esta é nossa tradição e vai continuar assim". Nós não estamos interferindo", disse Putin, em entrevista à rede americana CNN.
"Mas aos nossos colegas, eu gostaria de aconselhar também a não interferir com a soberania do povo russo", completou o premiê, segundo trechos da entrevista antecipados pela CNN. Putin disse ainda que Gates estava "profundamente enganado".
Em outro dos telegramas, a embaixada americana em Moscou diz que o presidente russo, Dmitri Medvedev, "é o Robin do Batman, Putin". Os trechos antecipados pela CNN não incluem nenhum comentário de Putin sobre a frase.
START
Na entrevista, Putin também alertou que a Rússia vai desenvolver novas armas nucleares se os EUA não aceitarem a proposta russa de integrar os dois sistemas de defesa antimíssil na Europa.
Durante a cúpula da Otan, no começo do mês, os países da aliança e a Rússia concordaram na criação de um sistema integrado de escudo antimísseis, para proteger os países-membros contra ataques de longa distância vindos de regiões como o Oriente Médio. O novo conceito substituirá a estratégia anterior, adotada em 1999, dois anos antes dos atentados do 11 de Setembro.
Obama alterou em setembro de 2009 o plano de George W. Bush, que previa a instalação de dez interceptores de mísseis balísticos de longo alcance até 2013 na Polônia e um potente radar na República Tcheca. O antigo projeto causou indignação na Rússia que viu a medida como uma interferência de Washington em sua esfera de influência.
Diplomatas dizem que o apoio russo veio em troca de garantias de que o sistema está dirigido contra os mísseis de curto e médio alcance de países como o Irã, e que não está capacitado para atingir alvos em território russo.
"Nós avançamos uma proposta mostrando como todos nós, lidando com o problema de segurança, poderíamos dividir responsabilidade entre nós mesmos", disse Putin, ainda de acordo com trechos divulgados pela CNN. "Mas se as propostas encontrarem respostas negativas e as ameaças adicionais forem construídas nas nossas fronteiras, a Rússia terá que garantir sua própria segurança de formas diferentes", incluindo "novas tecnologias nucleares".
"Isto não é uma ameaça de nossa parte", afirmou Putin, dizendo que este não é o caminho preferido de Moscou. "Nós estamos simplesmente dizendo que isto é o que deve acontecer se não concordamos em um esforço conjunto aqui".
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