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05/12/2010 - 09h27

Inimigo nº 2 dos EUA, criador do WikiLeaks, mantém a vida a sete chaves

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VAGUINALDO MARINHEIRO
DE LONDRES

Julian Paul Assange, criador do site WikiLeaks, é um mistério.

O homem que consegue ser o inimigo nº dois dos EUA (atrás de Osama bin Laden) e o super-herói da "geração anti" (anti-EUA, anti-G20, antiglobalização, antiguerra, antibancos...) adora revelar o segredo dos outros, mas mantém a vida a sete chaves.

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Até sua idade é motivo de controvérsia. Uma vez questionado sobre isso, disse: "Prefiro deixar os bastardos tentando adivinhar".

Sua mãe, Christine, também não dá detalhes do passado do filho e alimenta a confusão: diz que muito do que se fala são inverdades.

O pouco que se sabe sobre Assange é graças ao jornalista Raffi Khatchadourian, que o perfilou para a revista "The New Yorker" quando ele ainda não era um pop star.

Segundo a reportagem, Assange nasceu em 1971 na cidade de Townsville, na Austrália. Não há informações sobre seu pai.

A mãe viveu primeiro com um diretor de teatro, depois com um músico, com quem teve um segundo filho.

Se separaram em seguida e, com medo de perder a guarda do filho mais novo, ela pegou as duas crianças e fugiu. Viveram como nômades, sem informar ninguém sobre seus destinos.

Assange não frequentou escolas regulares, por causa das mudanças, mas também porque a mãe achava que o ensino formal acabaria com o espírito livre do filho.

Christine o educava em casa, e ele virou uma espécie de rato de biblioteca, lendo tudo o que caia em suas mãos.

Seu conhecimento diverso fica claro em algumas entrevistas, quando consegue discorrer sobre história americana, leis britânicas, literatura, matemática ou física.

Ainda adolescente, Assange se interessou por computadores e por maneiras de invadir sistemas e mostrar suas vulnerabilidades. Chegou a ser detido em 1991, na Austrália, por agir como hacker.

Aos 18 anos, teve um filho com a namorada com quem morava numa casa invadida por um grupo de jovens.

Quando se separaram, repetindo um pouco a história da mãe, se lançou numa batalha judicial pela guarda do filho. Foram cinco anos de processos, sem sucesso.
Dizem que foi nesse período que seu cabelo, que era castanho, ficou grisalho.

Hoje, depois de anos com o cabelo branco, Assange resolveu pintá-lo e reassumir o castanho original.

Em 2006, lançou o WikiLeaks. A ideia era criar um canal onde as pessoas pudessem colocar documentos que mostrassem irregularidades de governos e empresas.

Houve denúncias contra governantes do Quênia, e- -mails pessoais de Sarah Palin e de climatologistas, lista de membros de um partido neonazista britânico...

Em 2010, o foco foram os EUA. Vieram a público um vídeo de soldados num helicóptero atirando contra civis em Bagdá, relatos das guerras do Afeganistão e do Iraque e, desde a segunda-feira passada, mensagens de diplomatas norte-americanos.

Assange é descrito pelos amigos atuais como um trabalhador compulsivo. Passa horas sem se levantar da cadeira e espera que alguém o traga comida.

Quando aparece para entrevistas, está sempre arrumado. Muitas vezes de terno. Mas os amigos dizem que não liga para a aparência. Quando podia viajar, levava apenas computadores, poucas roupas e muitas meias.

Por razões de segurança, troca o número do telefone celular e o e-mail com frequência. Em hotéis, muitas vezes se registrava com nomes falsos.

Agora, está de fato escondido. Dizem que em algum lugar perto de Londres.

Desde o dia 20, está na lista de procurados da Interpol, a política internacional.

A Justiça da Suécia quer ouvi-lo no inquérito em que o acusam de estupro.

Ele nega e diz que isso é fruto de perseguição e de uma campanha orquestrada pelos EUA para difamá-lo.

O suposto estupro teria acontecido em agosto, em Estocolmo. As vítimas, duas voluntárias que trabalhavam para o WikiLeaks.

ALTOS E BAIXOS

Não há dúvidas de que Assange e seu WikiLeaks sejam um sucesso de público. Desde segunda-feira, seu nome está na capa dos principais jornais do mundo.

É bastante para alguém que, segundo sua mãe, nunca quis estar na ribalta.

Na sexta-feira, o jornal "The Guardian" abriu um canal para que os leitores pudessem fazer perguntas a ele. Teve de suspendê-lo quando passavam de 900.

Alguns ofereciam dinheiro e até um quarto caso ele precisasse se acomodar.

O WikiLeaks vive de doações e hoje faz campanhas para arrecadar dinheiro para a defesa de Assange.

Mas o sucesso também fez crescer o número de detratores, não apenas entre as vítimas do WikiLeaks.

Alguns de seus antigos colaboradores abandonaram o site e o acusam de ser autoritário e ególatra. Dizem que transformou um projeto coletivo em algo personificado e com um alvo fixo, os EUA.

Em entrevistas, Assange diz que esses antigos colaboradores são "idiotas" que "devem ir para o inferno".

A Folha esteve numa entrevista com Assange no final de outubro. Foi uma de suas últimas aparições públicas. Ainda não havia a ordem internacional de prisão.

Mesmo assim, ele parecia amedrontado e respondia rispidamente a muitas perguntas. Principalmente quando questionado sobre a possibilidade de colocar a vida de pessoas em risco com suas revelações.

Assumia um tom messiânico e dizia que essa era sua missão para transformar o mundo em algo melhor.

Agora, ele acredita que é sua própria vida que está em risco. Aponta o dedo para os Estados Unidos.

Se alguém de fato está tramando contra sua vida, com certeza está tomando cuidados extras para não deixar rastros que possam aparecer no WikiLeaks ou em algum dos seus filhotes.

 

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