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Documentos com supostas concessões palestinas enfurecem árabes
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EDMUND BLAIR
DA REUTERS, NO CAIRO (EGITO)
O vazamento de documentos que mostram que os palestinos fizeram importantes concessões a Israel sobre Jerusalém Oriental enfureceram muitos árabes, que temem que seus direitos sobre a cidade sagrada estão sendo vendidos a um preço muito baixo.
Alguns analistas árabes disseram que os documentos, revelados pela TV Al Jazeera, não diferem consideravelmente de ofertas discutidas em negociações de paz anteriores e mostram o tipo de concessão necessária para cada assentamento.
Mas árabes comuns, muitos deles enfurecidos com seus líderes por acharem que eles estão dispostos a rapidamente capitular a demandas dos EUA e de Israel, continuam expressando fúria sobre o conteúdo dos vazamentos, que tocaram em assuntos sensíveis para muitos no Oriente Médio.
"Claro que Mahmoud Abbas poderia ter feito isso, porque ele quer aprofundar os laços entre ele e Israel", disse Ismail Hussein, funcionário de um banco egípcio, sobre o presidente da Autoridade Nacional Palestina (ANP).
Outro egípcio, Salah Hasheesh, disse: "Se ele fez isso, eles estão se vendendo barato". Mas ponderou que as informações podem ter sido inventadas para prejudicar Abbas.
O destino de Jerusalém Oriental, ocupada por Israel em 1967 e lar de locais sagrados tantos para os muçulmanos quanto para os judeus, é vista por muitos como um assunto islâmico, e não apenas palestino. O futuro dos refugiados palestinos, expulsos em 1948 com a fundação de Israel, também tem um largo impacto.
"Primeiro, Jerusalém é um assunto islâmico. Segundo, os refugiados são um assunto árabe porque os países árabes têm uma opinião clara, e querem saber quais concessões serão feitas, se eles podem se assentar em seu país ou não, ou quando poderão voltar", disse Mustafa Alani, do Centro de Pesquisa do Golfo, em Dubai.
Muitos palestinos foram para Estados árabes após a fundação de Israel e muitos de seus descendentes continuam vivendo como refugiados.
"Nesses dois assuntos, nenhuma liderança palestina pode fazer concessões", disse Alani.
Um documento cita o chefe dos negociadores palestinos, Saed Erekat, dizendo a uma autoridade israelense: "Não é segredo que [...] estamos oferecendo a vocês a maior Jerusalém da história".
Igualmente enfurecedor para muitos palestinos, que querem criar um Estado nas terras que Israel tomou em 1967, é o fato de que Israel ofereceu nada em retorno para as concessões e recusou a oferta, dizendo que ela não foi longe o suficiente.
Alguns analistas afirmam que os documentos vazados não são tão diferentes do ponto inicial para as negociações de paz realizadas com o passar dos anos, nas quais os palestinos aceitaram publicamente como princípios para as conversas, mesmo expressando reservas.
Ezzedin Choukri-Fishere, professor de relações internacional na Universidade Americana do Cairo e ex-diplomata egípcio, disse que o público árabe tende a ignorar as desconfortáveis concessões que qualquer acordo de paz necessita.
LIDERANÇA
"Se haverá um acordo de paz palestino, ele não irá cair longe da marca que aparece naqueles vazamentos", disse, apontando para conversações patrocinadas pelos EUA, como as no resort egípcio de Taba ocorridas há mais de uma década.
Os vazamentos podem provar "uma oportunidade para que a linha oficial e consciência pública fiquem um pouco mais próximas", afirmou o professor.
O presidente da ANP, Mahmoud Abbas, negou ter oferecido concessões a Israel e disse que os vazamentos confundiram as posições dos dois lados. Outras autoridades palestinas também negaram a oferta.
Choukri-Fishere disse que seria melhor se Abbas "exercitasse liderança" e usasse os vazamentos para mostrar o que é necessário para a paz. "Se a tática deles é apenas a negação e a obstrução, então acredito [...] que isso irá realmente prejudicar sua credibilidade e popularidade."
Os documentos vazados colocam Abbas em uma complicada posição, já que as afirmações que eles contém conflitam com declarações públicas sobre importantes assuntos, como Jerusalém. em público, Abbas já repetiu várias vezes, inclusive na semana passada, que "não há negociações sobre Jerusalém".
A Al Jazeera afirmou possuir outros documentos, que serão divulgados em breve, mostrando que os palestinos também estão prontos para fazer outras massivas concessões no imensamente sensível caso do direito do retorno dos refugiados palestinos.
Alguns analistas árabes disseram que isso pode prejudicar ainda mais a popularidade do presidente, mas questionaram se isso seria o suficiente para derrubar ele ou seu governo.
"A posição da ANP já está fraca em respeito as negociações, entre outras coisas. Os documentos irão apenas embaraçar o governo e autoridades, mas não deve resultar em mudanças de posições", disse Imad Gad, um analista egípcio em assuntos israelenses e palestinos.
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