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05/02/2011 - 21h09

EUA demonstram apoio a reformas lideradas pelo vice do Egito

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DAS AGÊNCIAS DE NOTÍCIAS

Os Estados Unidos demonstraram neste sábado seu apoio às reformas lideradas pelo novo vice-presidente do Egito, Omar Suleiman, enquanto a secretária de Estado americana, Hillary Clinton, disse que apoio internacional é crucial para impedir que extremistas "sequestrem" a transição política.

Uma "tempestade perfeita" de dificuldades econômicas, repressão e descontentamento popular pode desestabilizar o Oriente Médio, disse a americana, dando forte apoio aos esforços de Suleiman.

Os comentários de Hillary, feitos durante uma conferência de segurança internacional em Munique, na Alemanha, sugerem que os EUA acreditam que o ditador egípcio, Hosni Mubarak, pôs em marcha a "transição ordenada" demandada ao apontar Suleiman, prometendo não concorrer à reeleição no pleito presidencial previsto para setembro e tirando seu filho, Gamal, do quadro de sucessão.

Jim Hollander/Efe
Manifestante antigoverno faz sinal da vitória em uma varanda nas proximidades da praça Tahrir, no centro do Cairo
Manifestante antigoverno faz sinal da vitória em uma varanda nas proximidades da praça Tahrir, no centro do Cairo

"Temos que enviar uma mensagem consistente apoiando a transição ordenada que começou", afirmou a secretária à autoridades, políticos, especialistas em segurança e analistas políticos.

Suleiman, apontado como o primeiro vice-presidente do Egito durante o governo de Mubarak de três décadas, começou a se aproximar de figuras da oposição, por muito tempo ignoradas, e pretende fazer mudanças constitucionais, entre outras, antes do pleito. Suleiman foi elevado do posto de chefe de inteligência em meio aos protestos antigoverno que pretendem derrubar Mubarak.

Hillary afirmou que apoio para os esforços de Suleiman é essencial, apesar dos riscos de instabilidade no curto prazo, como ilustrado por informações de um suposto ataque, neste sábado, a um gasoduto na Península do Sinai. Um funcionário da companhia de gás egípcia disse que a explosão foi causada por um vazamento de gás, mas o governo não descartou sabotagem.

"É importante apoiar o processo de transição anunciado pelo governo egípcio, atualmente comandado pelo agora vice-presidente, Omar Suleiman."

Seus comentários foram uma ruptura da posição inicial do governo do presidente Barack Obama que havia quase totalmente se centrado na necessidade de que a transição começasse imediatamente.

"Leva tempo para pensar nisso completamente, para decidir como isso irá acontecer, quem irá emergir como líderes. Os princípios estão muito claros. Os detalhes operacionais são muito desafiadores", completou.

ENVIADO ESPECIAL

Mubarak, um "velho amigo" dos EUA, deve seguir em seu posto durante a transição democrática, disse neste sábado o enviado especial para o Egito do presidente Barack Obama, Frank Wisner.

"Necessitamos chegar a um consenso nacional em torno das condições prévias para dar um próximo passo à frente. O presidente deve permanecer em seu cargo para liderar essas mudanças", disse Wisner, a um encontro sobre segurança em Munique, sul da Alemanha, através de uma videoconferência. "A continuidade da liderança de Mubarak é decisiva", acrescentou.

Segundo o enviado especial de Obama, que nesta semana reuniu-se com Mubarak, para o ditador egípcio "é a oportunidade de escrever seu próprio legado. Ele dedicou 60 anos de sua vida a serviço do país, este é o momento ideal para ele mostrar o caminho a seguir".

Ahmed Foued/Efe
Ditador egípcio, Hosni Mubarak, reúne-se com seu recentemente renovado gabinete de ministros no Cairo
Ditador egípcio, Hosni Mubarak, reúne-se com seu recentemente renovado gabinete de ministros no Cairo

O governo americano tentou tomar distância das declarações de Wisner.

O enviado falou "em seu nome e não pelo governo dos EUA", disse um funcionário do governo americano sob condição de anonimato.

O enviado especial é um influente diplomata aposentado que foi embaixador americano no Cairo. Na semana passada, ele se reuniu com Mubarak por um pedido expresso pelo presidente Barack Obama.

RENÚNCIA

Neste sábado, líderes do Partido Nacional Democrático (NDP, na sigla em inglês), legenda governista do Egito, renunciaram ao posto. Gamal Mubarak, filho do ditador do país, está entre os nomes que deixaram a sigla.

O novo secretário-geral é Hossam Badrawi, visto como membro da ala liberal do partido. Na posição, ele substitui Safwat El-Sherif, um dos políticos mais próximos do ditador Mubarak.

Badrawi, que também é conhecido por manter boas relações com o ditador, também assumirá a função de presidente do comitê político do partido. Médico de profissão, o novo líder do partido integrava o Conselho de Governo do NDP e era membro do Conselho Nacional de Direitos Humanos, um órgão governamental.

A nota não explica as razões da saída dos líderes, mas as mudanças acontecem em meio a um momento de forte deterioração do partido, pilar político do regime de Mubarak.

O filho do ditador era apontado como um possível sucessor de seu pai no poder. Neste sábado, milhares de manifestantes permanecem na praça Tahir insistindo na saída de Mubarak do poder.

PROTESTO PACÍFICO

Apesar da renúncia da liderança do partido de Mubarak não foi o suficiente para fazer com que os manifestantes antigoverno, que pedem o fim do governo do ditador, deixem a praça Tahrir, no centro do Cairo, palco dos protestos que são realizados no país desde o último dia 25. Ao mesmo tempo, o Exército prepara a região para um retorno à vida normal.

A praça foi palco mais um dia de gritos e cantos que exigiam a saída de Mubarak imediatamente e a convocação de eleições livres. Mas a queda de temperatura, a fina chuva que caiu na cidade e, principalmente, o fato de que o ditador continua no poder um dia depois do que havia sido batizado como "dia da partida" se somaram para amenizar os ânimos na praça Tahrir.

Yannis Behrakis /Reuters
Manifestantes antigoverno caminham ao lado do Museu Egípcio, perto da praça Tahrir, no centro do Cairo
Manifestantes antigoverno caminham ao lado do Museu Egípcio, perto da praça Tahrir, no centro do Cairo

Um dos manifestantes, Mohamed Saad disse que recebe continuamente pedidos de sua família para que abandone a concentração e volte para casa. "Ouço meus amigos falando para suas famílias: 'Não saio daqui até que Mubarack se vá'. Eu também não vou, aguentarei até a morte", afirmou.

Os protestos deste sábado no Cairo foram calmos, e os manifestantes começaram a acender fogueiras pela praça quando a noite começou a cair.

Segundo a rede de TV Al Jazeera, do Catar, com exceção de um pequeno conflito entre dois grupos grupos que gritavam slogans antigoverno, nenhuma violência foi registrada.

Um dos correspondentes da rede no Cairo disse que cerca de 10 mil pessoas continuavam na praça, e que havia filas de outras que tentavam chegar ao local.

Em Alexandria, a segunda maior cidade do Egito, cerca de 10 mil pessoas também se reuniram na principal estação de trem, de acordo com a Al Jazeera.

Segundo testemunhas, o Exército egípcio começou a se aproximar da praça Tahrir neste sábado em preparação para livrar a área de milhares de manifestantes.

O comandante militar da zona central, Hassan al Roweny, conversou com os manifestantes mais sedo, tentando persuadi-los a encerrar o protesto. "Todos vocês têm o direito de se expressar, mas por favor, salvem o que sobrou do Egito. Olhem ao seu redor", afirmou.

A multidão respondeu com gritos de que Mubarak deve renunciar, ao que Roweny respondeu: "Não vou falar em meio a tais frases".

Mais cedo, tropas moveram alguns dos manifestantes para abrir caminho para que o trânsito fluísse novamente no domingo, quando bancos estão programados para reabrir no início da semana de trabalho.

Muitos dos que continuam na praça têm acampado por dias no local com faixas denunciando os 30 anos de governo de Mubarak.

"Precisamos livrar a rua na praça, precisamos que o tráfego flua novamente através da Tahrir. As pessoas podem ficar na Tahrir, mas não na rua", disse Roweny durante um giro pela praça.

O manifestante Moustafa Mohamed disse que o Exército agora está se preparando para tirar todos de lá. "É muito claro que eles estão tentando nos sufocar", disse. "Não vamos nos mover até que nossas demandas legítimas sejam atendidas."

 

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