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12/02/2011 - 23h10

Milhares de policiais reprimem maior protesto em 10 anos na Argélia

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DAS AGÊNCIAS DE NOTÍCIAS

Um impressionante aparato policial impediu neste sábado que milhares de pessoas se manifestassem nas ruas da capital da Argélia pela democratização do regime do país, no que foi o maior protesto vivido na capital em uma década.

Mais de 3.000 argelinos, desafiando a proibição do governo, se concentraram na praça Primeiro de Maio uma hora antes de começar o protesto, mas foram impedidos de percorrer as ruas pelos cerca de 30 mil policiais e tropas de choque que tomaram a cidade neste sábado.

A passeata havia sido convocada há quase um mês, após a queda do presidente Zine el Abidine Ben Ali na Tunísia, pela entidade Coordenadora Nacional pela Democracia e a Mudança (CNDC), que reúne várias organizações da sociedade civil e a alguns partidos de oposição.

Centenas de policiais uniformizados e à paisana se misturaram entre os manifestantes e detiveram dezenas de pessoas, entre elas vários sindicalistas e representantes de organizações da sociedade civil pertencentes à direção da CNDC.

Segundo os organizadores do ato, o número de presos ultrapassou os 400, entre eles cerca de 50 mulheres e vários jornalistas argelinos e estrangeiros.

A concentração se estendeu durante horas de forma pacífica até que à tarde os policiais enfrentaram os manifestantes com cassetetes e houve violentos confrontos que terminaram com dezenas de feridos, segundo a CNDC.

REPRESSÃO

O forte aparato policial não impediu que os manifestantes - em sua maioria jovens, mas também trabalhadores de diferentes setores sociais, advogados e professores universitários -- lançassem palavras de ordem contra o regime liderado pelo presidente da Argélia, Abdelaziz Bouteflika.

"Estamos fartos deste poder", "Democracia autêntica e liberdade" "Abaixo o sistema podre e corrupto", "Bouteflika, saia" ou "Queremos um país administrado pelos jovens e não pelos velhos", eram alguns dos lemas entoados pelos participantes cercados em uma rua adjacente à praça por várias barreiras policiais.

Essas barreiras impediram que mais cidadãos aderissem ao protesto, embora tenham permitido a passagem de cerca de 20 adolescentes que, gritando lemas a favor de Bouteflika, tentaram provocar incidentes violentos ao se misturar entre os manifestantes.

O presidente da Liga Argelina de Defesa dos Direitos Humanos, Mustafá Buchachi, disse à Agência Efe que "o poder utilizou a força para não deixar os argelinos se manifestarem pacificamente" e assegurou que foram cortados "todos os acessos à capital" e que, por isso, "muita gente de cidades do interior", especialmente da região da Cabília, não conseguiu chegar a Argel.

"Este comportamento de um regime totalitário, que sempre tentou dividir os argelinos, prova que não há vontade de mudar e se abrir à sociedade", disse o presidente da Liga, uma das principais organizações que promoveram o protesto.

Para Buchachi, como para os demais organizadores do ato, a manifestação deste sábado "foi um êxito, apesar da repressão policial, já que conseguiu romper o muro de silêncio e de medo" que ainda pesa sobre o país após a atroz guerra civil da década de 1990.

Cerca de 15 mulheres da Associação de Mães de Desaparecidos durante a década de 1990 na Argélia, com grandes fotos de seus filhos a tiracolo, também participaram da concentração reivindicando justiça e informações sobre seus familiares.

Desde 14 de junho de 2001, quando centenas de milhares de manifestantes tomaram as ruas da capital em protesto pela repressão na região da Cabília, não havia ocorrido em Argel uma manifestação como esta.

OUTRAS REGIÕES

Neste sábado, os protestos se estenderam também a outras cidades do país como Bejaia, Constantina, Anaba e Oran, a segunda cidade argelina, onde também houve vários feridos e dezenas de prisões, informou Mohsen Belabes, porta-voz da opositora Reunião pela Cultura e Democracia (RCD).

Apesar de o governo ter anunciado nos últimos dias que só proibiria as manifestações na capital, a Polícia também desdobrou um forte dispositivo em Oran e em outras cidades, o que impediu o desenvolvimento dos protestos.

Belabes, que cifrou em mil o número de detidos, relatou que todo o transporte público para a capital, tanto por estrada quanto por ferrovia, havia sido interrompido desde quinta-feira passada para impedir que os argelinos de outras regiões chegassem à manifestação.

 

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