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Enquanto mundo árabe ferve, feira de armas tem público recorde
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RICARDO BONALUME NETO
DE SÃO PAULO
A passagem de uma fragata iraniana pelo canal de Suez, o primeiro navio de guerra do país a fazer esse trajeto desde a tomada do poder no Irã em 1979 por teocratas islâmicos, foi bem mais simbólica que intimidante.
Mais significativo das tendências regionais foi o saldo de uma feira de armamentos na semana passada: a décima edição da Idex (International Defence Exhibition and Conference, exibição e conferência internacional de defesa), em Abu Dhabi.
Maior feira bienal de material bélico do Oriente Médio e Norte da África, a Idex 2011 contou com a presença de 1.060 empresas exibidoras de 53 países --18% mais do que na mostra de 2009.
Como comparação, a maior feira bienal de defesa da América Latina, a ser realizada em abril no Rio, deverá ter 350 expositores.
O espectro militar do Irã, simbolizado pela viagem da fragata para visita à Síria, também serviu de estímulo à Idex. A paranoia em relação ao Irã serve de pano de fundo para países como Arábia Saudita e Emirados Árabes irem às compras. Um terço das armas que os EUA exportam vai para o Oriente Médio.
O aumento do preço do petróleo tende a permitir aos países da região tanto investir em programas sociais --uma maneira de reduzir o descontentamento por trás das atuais revoltas-- como continuar comprando armas. Algumas para defesa externa, algumas para uso em contenção de distúrbios.
O "timing" da feira fez alguns países deixarem de enviar representantes ou enviá-los em quantidade bem menor --caso de Egito, Tunísia, Bahrein e Líbia.
A fragata iraniana Alvand é um navio obsoleto, projetado no Reino Unido na década de 1960. Ela foi, no entanto, reequipada com mísseis antinavio chineses C-802, que são mais modernos e letais que os originais.
O negócio mostra como é difícil consenso em bloqueios de vendas de armas. Sempre haverá um país disposto a vendê-las --China e Rússia são dois exemplos.
Justamente por não terem acesso à importação de armas durante o longo conflito com o Iraque (1980-1988), os iranianos desenvolveram uma sofisticada indústria de defesa, com destaque para mísseis, mas incluindo cerca de 2.000 diferentes itens, exportados nos últimos anos para cerca de 30 países.
De 1988 a 2007, África e Oriente Médio gastaram 79,1% mais com armas. No mesmo período, todo o planeta gastou só 1,6% mais.
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