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05/03/2011 - 22h27

Gaddafi diz aceitar missão da ONU ou da União Africana na Líbia

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DAS AGÊNCIAS DE NOTÍCIAS

O ditador da Líbia, Muammar Gaddafi, declarou, em uma entrevista publicada na edição de domingo do jornal francês "Le Journal du Dimanche", que aceitaria o envio de uma comissão investigadora da ONU (Organização das Nações Unidas) ou da União Africana para avaliar a situação de seu país, palco há 19 dias de revoltas que pedem o fim de seu regime.

"Para começar, quero que uma equipe de investigadores das Nações Unidas ou da União Africana venha aqui na Líbia", afirmou o mandatário, há 42 anos no poder. "Vamos permitir que essa comissão veja o que se passa no terreno, sem nenhum obstáculo."

Gaddafi realiza uma violenta repressão contra opositores antirregime --a mais ferrenha entre os países que têm sido atingidos pela onda de protestos no mundo árabe.

Na última quinta-feira, o promotor-geral do Tribunal Penal Internacional, com sede em Haia, Luis Moreno Ocampo, afirmou que irá investigar o ditador e seu círculo mais próximo --incluindo alguns de seus filhos-- por possíveis crimes contra a humanidade que teriam sido cometidos no país.

Hussein Malla/AP
Rebelde anti-Gaddafi se prepara para atirar em Ras Lanouf, na Líbia; batalha segue para Sirte
Rebelde anti-Gaddafi se prepara para atirar em Ras Lanouf, na Líbia; batalha segue para Sirte

Na opinião do líder líbio, o Conselho de Segurança da ONU --que aprovou, no último dia 26, sanções que incluem a proibição das viagens de Gaddafi e o congelamento de seus bens e condena a repressão-- "não tem competência em assuntos internos de um país".

"Se quer intervir, que envie uma comissão investigadora, repito que isso eu apoio. Enquanto isso, sua resolução [que aplica as sanções] é nula e sem efeito aos meus olhos, ao menos até que uma comissão de investigação séria e independente venha verificar as coisas no terreno", afirmou.

Na entrevista ao jornal francês, Gaddafi voltou a dizer que está envolvido em uma luta contra o terrorismo e expressou consternação por não estar tendo apoio no exterior.

"Estou surpreso que ninguém entenda que isso é uma luta contra o terrorismo", disse. "Nossos serviços de segurança cooperam. Temos ajudado muito vocês nos últimos anos. Então, por que quando estamos lutando contra o terrorismo aqui na Líbia, ninguém nos ajuda de volta?"

A publicação da entrevista pelo jornal francês ocorre após um dia de intensos confrontos na Líbia, quando forças leais ao ditador lançaram uma violenta ofensiva contra a cidade de Zawiyah, localizada a apenas 50 quilômetros da capital, Trípoli, e controlada por rebeldes. Os ataques podem ter deixado mais de cem mortos.

Por outro lado, opositores, que já controlam o leste, consolidaram seu poder sobre o porto petrolífero de Ras Lanuf, e avançam agora rumo a Sirte, cidade natal de Gaddafi.

Os episódios de violência deste sábado deram novos sinais de que a disputa pelo controle do território líbio pode durar semanas ou até meses, aproximando cada vez mais de uma guerra civil. O governo luta para manter seu controle sobre Trípoli e áreas ao redor da capital, enquanto os rebeldes tentam levar sua ofensiva para o oeste.

A ofensiva deste sábado em Zawiya, uma cidade de cerca de 200 mil habitantes, começou com forças pró-Gaddafi usando morteiros e metralhadores em um ataque-surpresa ao amanhecer.

Testemunhas que falaram à agência de notícias Associated Press afirmaram que os morteiros danificaram prédios do governo e residências. O confronto gerou uma série de incêndios, criando uma densa nuvem preta de fumaça sobre a cidade.

Também há relatos de que atiradores estavam disparando contra qualquer pessoa que estivesse na rua, inclusive em varandas.

"Os tanques estão por todos os lados da cidade e disparam contra as casas. Vi passar sete diante da minha casa. Os tiros não param", afirmou um habitante da cidade à agência de notícias France Presse. "Rezem por nós", completou, antes da ligação ser cortada bruscamente.

O portal de oposição Al Manara informou que 40 tanques entraram em Zawiya e abriram fogo contra as residências.

Um médico local afirmou que as forças pró-Gaddafi perpetraram "um massacre". "É um verdadeiro massacre. A situação é catastrófica. Mataram muita gente. Mataram minha filha", declarou a fonte, antes de começar a chorar. "Não quero dizer mais nada", concluiu.

Relatos feitos por rebeldes indicam divergências no número de mortos, que poderia variar de sete até 200. Não há como confirmar independentemente estes números.

RAS LANUF

A sorte foi melhor para os rebeldes em outros locais. Na sexta-feira, eles conseguiram capturar o porto petrolífero de Ras Lanouf --a primeira vitória em uma potencialmente longa e árdua marcha partindo do leste da Líbia em direção à Trípoli.

Testemunhas disseram que Ras Lanouf, cerca de 140 km a leste da cidade natal de Gaddafi, Sirte, caíram nas mãos dos rebeldes na noite de sexta-feira após uma dura batalha contra forças pró-regime que, mais tarde, fugiram.

Um repórter da Associated Press que chegou à localidade na manhã deste sábado disse ter visto a bandeira vermelha, preta e verde da monarquia pré-Gaddafi --adotada pelos rebeldes-- hasteada sobre as instalações de petróleo da cidade.

Malcoln Webb/AFP
Rebeldes são vistos próximos ao que dizem ser restos de avião que teriam abatido perto de Ras Lanuf
Rebeldes são vistos próximos ao que dizem ser restos de avião que teriam abatido perto de Ras Lanuf

Um dos rebeldes, Ahmed al Zawi, disse que a batalha foi vencida após os moradores locais terem se juntado aos rebeldes. Segundo ele, 12 rebeldes foram mortos nos confrontos.

Funcionários de um hospital na cidade vizinha de Ajdabiya, no entanto, afirmaram que apenas cinco rebeldes foram mortos e 31 ficaram feridos no ataque.

"Eles apenas seguem ordens. Após um pouco de luta, eles correm", disse um outro rebeldes em Ras Lanouf, Borawi Saleh, um veterano do Exército que agora é funcionário do setor petrolífero.

Testemunhas em Ajdabiya disseram que os rebeldes começaram a marchar rumo a Sirte, avançando 80 km, até a cidade de Nawfaliyah.

Também neste sábado, um jato militar líbio caiu perto de Ras Lanouf. Embora rebeldes tenham indicado que abateram a aeronave, com dois pilotos a bordo, a causa do acidente não pôde ser determinada imediatamente.

Imagens de um vídeo mostram os corpos dos dois pilotos e os destroços do avião, um Sukhoi de procedência russa, no deserto perto de Ras Lanuf. Os rebeldes garantiram ter abatido o avião com disparos a partir de uma das baterias antiaéreas instaladas na região.

Neste sábado, aviões caça sobrevoaram a região de Ras Lanuf em várias ocasiões, lançando pelo menos uma bomba.

Forças pró-Gaddafi têm realizado diversos ataques aéreos contra alvos rebeldes para acabar com a rebelião no país, que já dura 19 dias.

COMITÊ

O Conselho Nacional Líbio, sediado no leste do país dominado pelos rebeldes, nomeou um comitê de crise com três membros neste sábado para tratar de temas militares e internacionais, em uma tentativa de integrar a tomada de decisões.

O conselho disse que irá atuar como a voz da rebelião contra o regime de Gaddafi, mas afirmou não ser um governo interino. O grupo também quer mudar sua base da cidade de Benghazi --a segunda maior do país-- para Trípoli, embora a capital permaneça sob o controle rígido do ditador.

O comitê renovou seus clamores pelo embargo aéreo internacional para ajudar a desalojar o líder, que está no poder há 41 anos e empregou aviões de guerra e helicópteros contra forças rebeldes. Estas o acusam de contratar mercenários africanos para auxiliá-lo.

O professor de Ciência Política Fathi Baja, membro da Coalizão 17 de Fevereiro, sediada em Benghazi, disse que o comitê "vai encorajar as pessoas, porque escolheram nomes muito fortes. Além disso, elas refletem o equilíbrio por serem de diferentes lugares e diferentes tribos".

O conselho nomeou como líder dos militares Omar Hariri, um dos oficiais que fez parte do golpe de Gaddafi em 1969, mas foi preso mais tarde. Ali Essawi, ex-embaixador na Índia que se demitiu no mês passado, foi encarregado das relações exteriores.

Mahmoud Jebril, que esteve envolvido com um projeto chamado "Visão Líbia" com outros intelectuais antes da revolta para estabelecer um Estado democrático, chefiará o comitê de crise. O conselho declarou que o grupo busca organizar a tomada de decisões.

Outros novos membros incluem o dissidente Ahmed Zoubeir, que sob Gaddafi passou mais tempo na prisão do que os 28 anos de Nelson Mandela na África do Sul, assim como Selwa Adrilli, Fathi Terbil e Fathi Baja.

Goran Tomasevic/Reuters
Rebeldes atiram com uma arma antiaviação na cidade de Bin Jawad, a 160 km de Sirte, cidade natal de Gaddafi
Rebeldes atiram com uma arma antiaviação na cidade de Bin Jawad, a 160 km de Sirte, cidade natal de Gaddafi

Outros ministros devem ser anunciados no futuro próximo.

Falando numa entrevista coletiva, o líder do conselho nacional, o ex-ministro da Justiça Mustafa Abdel Jalil, disse que o organismo não quer tropas estrangeiras em solo líbio e que possui forças suficientes para libertar o país.

"Há um sentimento nas ruas de que, se Gaddafi pode empregar estrangeiros para lutar para ele, por que nós não?", disse ele.

"Nosso povo tem o contingente e a determinação para libertar toda a Líbia, mas vamos pedir o embargo aéreo para nos ajudar a fazer isso no menor tempo possível."

Ele também afirmou que os lutadores jovens e basicamente civis nas forças rebeldes serão substituídos por uma força de combate profissional, mas não disse quando.

 

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