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15/03/2011 - 16h16

Radiação atinge Tóquio e outras cidades; reator de usina pode ter falha

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DAS AGÊNCIAS DE NOTÍCIAS

Os níveis de radiação aumentaram nesta terça-feira em Tóquio e em outras cidades do Japão após explosões e um incêndio serem registrados no complexo nuclear Fukushima Daiichi, seriamente danificado pelo terremoto de magnitude 9,0 --seguido de tsunami-- que atingiu a costa nordeste do país na última sexta-feira (11). A população prepara-se para ficar em casa fazendo estoque de água engarrafada, mantimentos e máscaras de proteção.

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Também nesta terça, a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) afirmou que a câmara de contenção primária do reator nuclear 2 do complexo pode estar danificada.

O governo japonês avisou que a crise da usina nuclear provocou escape de radiação que poderia afetar a saúde e recomendou aos moradores que vivem num raio de até 30 quilômetros de distância que fiquem em suas casas, desliguem os sistemas de ventilação e fechem as janelas.

A radiação em torno da usina aumenta desde sábado, quando uma falha no sistema de refrigeração forçou a liberação de vapor radioativo de forma controlada, mas os crescentes problemas nos reatores criam incertezas.

Na província de Ibaraki, ao lado de Fukushima, em um determinado momento a radiação era de 5 microsievert (msv) por hora, 100 vezes mais que o habitual. Segundo a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), uma pessoa fica em média exposta à radiação de aproximadamente 2,4 msv por ano devido a fontes naturais.

A capital Tóquio, que fica a 240 km de Fukushima, registrou uma pequena elevação nos níveis de radiação. O aumento, contudo, não é suficiente para ameaçar os 39 milhões de moradores da capital e seus arredores.

"A quantidade é extremamente pequena, e não levanta preocupações com a saúde. Isso não vai nos afetar", diz Takayuki Fujiki, funcionário do governo de Tóquio.

A Kyodo diz que o nível de radiação elevou-se a nove vezes acima do normal em Kanagawa, perto de Tóquio, mas os níveis já haviam caído na noite desta terça-feira (manhã em Brasília).

Mais perto do complexo nuclear, as ruas da cidade costeira de Soma estavam vazias, enquanto alguns moradores permanecem trancados em suas casas.

Editoria de Arte/Folha

As previsões meteorológicas para Fukushima são de neve e vento vindo do nordeste na noite desta terça-feira, soprando em direção a sudoeste, rumo a Tóquio, e em seguida se deslocando para oeste, em direção ao mar. Isso é importante porque mostra a direção que uma possível nuvem nuclear pode seguir.

Apesar dos pedidos de calma, em Tóquio era possível ver nesta terça-feira mais máscaras do que o habitual. Além disso, alguns habitantes decidiram se afastar da cidade por alguns dias até que a situação em Fukushima se torne menos alarmante.

Ao longo desta terça-feira, muitos estrangeiros pegaram o "shinkansen" --o trem bala-japonês-- para se deslocar a cidades mais ao sul como Osaka, a mais de 500 quilômetros da capital, onde a ameaça de fuga de radiação soa mais distante.

Desde o início dessa semana, várias legações diplomáticas aconselharam àqueles que se sentissem temerosos e não tivessem assuntos "essenciais" em Tóquio que deixassem a cidade. Nesta terça-feira, a embaixada da Áustria decidiu transferir sua missão temporariamente a Osaka.

Enquanto as notícias sobre Fukushima são recebidas com inquietação crescente entre a comunidade estrangeira, onde se sucedem rumores e desmentidos sobre evacuações, os japoneses seguem com surpreendente tranquilidade, atentos pela televisão às instruções das autoridades locais.

O governo mantém os pedidos de calma, de racionamento de energia --o terremoto paralisou 11 usinas nucleares-- e de prudência ao fazer compras nos supermercados para evitar a escassez de produtos, tal como já noticiam os meios de comunicação.

"O governo japonês anunciou que há estoques suficientes armazenados. Por favor, ajam com calma e paciência", diz uma mensagem divulgada pelo Facebook na versão da rede social para o Japão.

Mais ao norte, as províncias vizinhas a Fukushima se prepararam para acolher os moradores das imediações da usina que deixaram suas casas, muitos dos quais foram imediatamente ao hospital para saber dos níveis de radiação aos quais foram expostos.

Em um raio de 20 quilômetros em torno da central nuclear foram evacuadas cerca de 200 mil pessoas.

Outras 5.000 estão distribuídas em abrigos na cidade de Kawamata, a menos de 30 quilômetros da usina, onde receberam instruções para não saírem às ruas, informa a agência de notícias japonesa Kyodo.

Os funcionários dos abrigos indicavam que, mesmo se quisessem, não poderiam levar os cidadãos evacuados para mais longe por problemas logísticos e pela escassez de gasolina.

Kyodo News/AP
Soldados japoneses se equipam para lavar objetos contaminados com material radiativo em Fukushima
Soldados japoneses se equipam para lavar objetos contaminados com material radiativo em Fukushima

AIEA

Segundo a AIEA --a agência nuclear da ONU (Organização das Nações Unidas), a explosão registrada dentro do reator nuclear 2 do complexo de Fukushima "pode ter afetado a integridade de sua câmara primária de contenção", disse a agência, em comunicado, sem dar mais detalhes.

Em um comunicado transmitido nacionalmente pela TV, o premiê Naoto Kan disse que radiação tem escapado do complexo.

Autoridades japonesas disseram à AIEA que o incêndio registrado no início da manhã desta terça (ainda noite de segunda no Brasil) ocorreu em uma lagoa de armazenamento de combustível --uma área na qual combustível nuclear usado é mantido resfriado-- e que "radioatividade está sendo liberada direto na atmosfera".

Os níveis de radioatividade, no entanto, caíram drasticamente até o final do dia.

Especialistas notaram que grande parte da radiação vazada foi aparentemente em vapor de água fervente. Ela não tinha sido emitida diretamente por varetas de combustível, o que seria ainda mais virulento.

"Não é bom, mas não acredito que seja um desastre", afirmou Steve Crossley, um físico de radiação baseado na Austrália.

O Ministério dos Transportes do Japão afirmou nesta terça-feira que impôs uma zona de exclusão aérea sobre a área de 30 km em torno da usina nuclear de Fukushima Daiichi.

O porta-voz do ministério, Hiroaki Katsuma, disse que a decisão foi tomada diante dos temores de que as partículas radioativas libertadas pelos reatores do complexo na atmosfera poderiam entrar nas aeronaves e contaminar seus ocupantes.

A zona de exclusão aérea não se aplica aos helicópteros, utilizados nesta terça-feira para jogar água no reator 2 --que sofreu uma explosão nesta segunda-feira.

Editoria de Arte/Folhapress

RISCO À SAÚDE

Mais cedo, o secretário de gabinete Yukio Edano admitiu que a radiação está em um nível que pode prejudicar a saúde. "Por favor não saiam nas ruas. Por favor fiquem em casa. Por favor fechem as janelas e isolem sua casa", disse. "São números que potencialmente podem afetar a saúde. Não ignorem isso", disse Edano, sem dar mais detalhes.

Depois de uma explosão no reator 3 e incêndio no reator 4 (que até agora não havia sido afetado), as autoridades ao sul do complexo Fukushima Daiichi registraram níveis de radiação cem vezes maior que o normal, segundo a agência de notícias Kyodo.

Este nível não é fatal, mas pode causar graves consequências se o tempo de exposição for prolongado.

A crise nuclear é o pior que o Japão tem enfrentado desde o bombardeio atômico de Hiroshima e Nagasaki durante a Segunda Guerra (1939-1945).

 

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