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20/03/2011 - 17h14

Perdendo apoio, ditador do Iêmen demite todo o gabinete de ministros

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DAS AGÊNCIAS DE NOTÍCIAS

O ditador do Iêmen, Ali Abdulah Saleh, demitiu todo seu gabinete de ministros neste domingo em uma aparente tentativa de afastar o constrangimento de uma renúncia em massa que eles planejavam em protesto pela violenta repressão a manifestantes antigoverno.

Saleh enfrenta uma revolta popular há mais de um mês que pede a sua renúncia após 32 anos de governo do país empobrecido e volátil. As manifestações se tornaram crescentemente sangrentas nos últimos dias, quando forças de segurança abriram fogo contra os manifestantes na capital, Sanaa, e no sul do país. Cerca de cem pessoas já foram mortas.

Milhares de pessoas participaram neste domingo de uma procissão funerária de manifestantes mortos, e a própria tribo de Saleh pediu para que ele deixe o poder, tirando do líder --que tem apoio dos EUA-- um apoio vital.

O embaixador iemenita na ONU (Organização das Nações Unidas) e a ministra de Direitos Humanos renunciaram em protesto pela repressão, enfraquecendo ainda mais Saleh. Especialistas dizem que a redução da influência do ditador pode tanto acelerar sua saída ou forçá-lo a recorrer a mais violência para permanecer no poder.

Khaled Abdullah/Reuters
Manifestantes antigoverno participam de procissão funerária na capital do país, Sanaa
Manifestantes antigoverno participam de procissão funerária na capital do país, Sanaa

Em um sinal de que ele ainda tem a intenção de continuar no cargo, o gabinete do presidente divulgou neste domingo um sóbrio comunicado no qual informa que todo o gabinete foi demitido. Nenhuma explicação foi dada.

Um funcionário do governo, que pediu anonimato, disse à agência de notícias Associated Press que Saleh decidiu demitir seus ministros antes de uma renúncia em massa que eles planejavam.

Nas ruas, Saleh parece ter coibido o uso de mais força contra os manifestantes por ora, ordenando o recuo de policiais e forças especiais que estavam ao redor da Universidade de Sanaa, que tem sido o centro da repressão, e substituindo-os por agentes em sua maioria não armados.

"De agora em diante, iremos controlar as entradas e as saídas da praça por ordens do comando supremo do Exército", disse o coronel Mohammed Hussein.

A última sexta-feira (18) foi o dia mais sangrento da revolta contra Saleh --atiradores do governo mataram mais de 40 manifestantes. A violência gerou condenações pela ONU e pelos EUA, país que apoia o governo do iemenita com centenas de milhões de dólares em ajuda militar para a luta contra um braço da rede terrorista Al Qaeda baseada em seu território.

Alguns dos mais importantes líderes religiosos do país se juntaram aos pedidos de renúncia de Saleh.

"Isso está definitivamente, em minha opinião, entrando em alguma forma de fim de jogo", disse Salman Shaikh, diretor do Centro Brookings Doha.

A mais poderosa tribo iemenita, partidos de oposição e massas de jovens manifestantes estão agora unidos em pedidos para o ditador deixe o poder, disse Shaikh. "Os elementos díspares do que pode ser chamado de oposição agora se juntaram ao redor da demanda para que ele renuncie", afirmou o analista. "Agora isso é uma coalizão muito poderosa e irresistível."

FUNERAL

Pessoas que vivem em prédios de apartamento ao redor da praça jogaram flores na procissão deste domingo. A energia elétrica foi cortada por volta de três horas nas maiores cidades do Iêmen, e ativistas acusaram o governo de tentar impedir o povo de assistir à cobertura televisiva da marcha.

Multidões se reuniram na praça da Universidade de Sanaa e demonstrações de solidariedade aos mortos foram realizadas em várias regiões do país, incluindo as cidades de Áden, Hadramawt, Ibb, Al-Hudaydah, Dhamar e Taiz.

"Saudamos com todo respeito a posição das pessoas na praça [da universidade]", disse o xeque Sadiq al Ahmar, chefe da tribo de Saleh, a Hashed, em um comunicado conjunto assinado por líderes religiosos após uma reunião em sua casa no sábado.

Partidos de oposição que participaram da procissão disseram que mudaram sua posição de pedir reformas políticas para demandar a renúncia de Saleh.

"Nossa única opção agora é a remoção do regime em breve. Apoiamos a demanda do povo", afirmou o líder opositor Yassin Said Numan.

A ministra de Direitos Humanos, Huda al Ban, disse que estava renunciando para protestar contra o "crime horrível, covarde e pérfido" do governo. E um funcionário da Chancelaria iemenita disse à Associated Press que o embaixador do país na ONU, Abdullah Alsaidi, também enviou sua carta de resignação.

O ministro da Saúde, Abdul-Karim Rafi, informou a jornalistas que a morte de manifestantes foi "um crime inaceitável pela lógica". Segundo ele, 44 manifestantes foram mortos e 192 ficaram feridos --21 deles em estado crítico.

O procurador-geral Abdullah al Ulty disse que 693 manifestantes ficaram feridos e que alguns corpos ainda não foram identificados.

 

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