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Em El Salvador, Obama tem reencontro com Guerra Fria
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CLAUDIA ANTUNES
DO RIO
Barack Obama terá um encontro com memórias da Guerra Fria --e com o envolvimento americano nas guerras civis da América Central-- ao visitar nesta terça-feira, na catedral de San Salvador, o túmulo de dom Oscar Romero, morto em 1980.
Ícone da esquerda salvadorenha, o antigo arcebispo da capital salvadorenha está em processo de canonização e pela primeira vez será homenageado por um presidente americano.
A visita será um tento simbólico para a antiga guerrilha da FMLN (Frente Farabundo Martí de Libertação Nacional), do presidente Mauricio Funes, eleito em 2009. É a primeira vez que o grupo está poder desde o acordo de paz de 1992, mediado pela ONU (Organização das Nações Unidas).
Romero foi assassinado a tiros por esquadrões da extrema direita quando rezava missa na catedral.
A comissão formada em 1992 para investigar as 75 mil mortes da guerra civil confirmou que o mandante do crime foi o major Roberto D'Aubuisson, formado na antiga Escola das Américas --centro de treinamento americano no Panamá pelo qual passaram milhares de militares latino-americanos.
Antes de ser morto, o arcebispo havia escrito ao presidente americano Jimmy Carter, democrata como Obama, pedindo a suspensão da ajuda militar à junta que governava El Salvador.
Temeroso de nova Nicarágua, onde no ano anterior ocorrera a Revolução Sandinista, Carter ignorou.
A chegada à Casa Branca de Ronald Reagan, no ano seguinte, intensificou a chamada "segunda Guerra Fria" na América Latina, depois dos golpes anticomunistas dos anos 60 e 70.
Logo depois do assassinato do religioso, cinco grupos da esquerda armada se fundiram na FMLN. Tinham apoio em armas de Cuba e da Nicarágua --onde Reagan passaria a financiar os "contra", baseados na Costa Rica e em Honduras.
D'Aubuisson fundou o partido Arena, que governaria El Salvador por 20 anos, até a eleição de Funes.
Romero não era ligado à Teologia da Libertação --foi nomeado arcebispo pelo papa conservador João Paulo 2ª. Mas seu discurso público se radicalizou diante da ação paramilitar e da ausência de reformas sociais.
A esquerda católica teve envolvimento na guerra civil. Quatro freiras americanas foram assassinadas pelos paramilitares também em 1980. Em 1989, foram seis padres jesuítas, o caseiro da congregação e sua filha.
El Salvador continua dependente dos EUA, sobretudo das remessas enviadas por imigrantes salvadorenhos --1,5 milhão, equivalente a um quarto da população que vive no país centro-americano.
Desses, 220 mil têm status legal que expira em 2012, e a extensão desse prazo deve ser um dos principais temas do encontro de Funes com Obama.
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