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24/03/2011 - 08h21

Cineasta descarta "revolta iraniana"

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LUCIANA COELHO
EM BOSTON

O documentarista de origem iraniana Maziar Bahari está descrente. Embora ache que o regime em Teerã não possa se sustentar para sempre, tampouco crê que as revoltas nos vizinhos árabes chegarão ao Irã tão cedo.

O cineasta passou 118 dias preso no Irã em 2009, após o cerco à oposição. Condenado in absentia, não pode voltar.

Bahari vem ao Brasil entre os dias 3 e 10 para o festival É Tudo Verdade. Antes, falou com a Folha por telefone, do Camboja, e pediu que Brasília se afaste de Teerã. "Se o Brasil trabalhar com esse governo, terá uma má imagem entre os iranianos."

Folha - Como é não poder mais filmar o Irã?
Maziar Bahari - É como se eu tivesse sido atropelado por um caminhão. Paralisa. Mas estou tentando trabalhar com gente dentro do país, e acho que com o jornalismo cidadão, a internet, há outros meios de fazer filmes.
Não tenho escolha. Mesmo que eu estivesse lá, talvez não conseguisse trabalhar.

Newsweek/AP
Jornalista Maziar Bahari em foto não datada; ele foi proibido de filmar documentário no Irã
Jornalista Maziar Bahari em foto não datada; ele foi proibido de filmar documentário no Irã

Mas é impossível ter total controle.
É. E o governo depende muito da internet. Com o progresso, logo teremos internet por satélite e outros meios de comunicação que ninguém vai poder controlar.

Vários analistas cogitaram a hipótese de que se repita no Irã o que está acontecendo em vizinhos árabes.
Não no curto prazo, por diversas razões. Uma é que os iranianos têm uma má lembrança da Revolução [onda de protestos em 2009], muita gente se arrepende de ter tomado parte.
Muita gente no Egito e na Tunísia se sublevou contra o fato de o governo não ser independente, de ser guiado por outro governo. No Irã não temos essa dependência.
E o líder supremo, aiatolá Khamenei, mesmo sendo um ditador, não é corrupto. Por isso ele tem um grupo forte de devotos, disposto a morrer e matar pelo regime.

E o governo Ahmadinejad?
Ahmadinejad é irrelevante neste momento. Há dois calcanhares de Aquiles: a economia e a informação. A combinação dessas coisas tornará a situação insustentável. Mas a principal questão é essa minoria que tem mantido o país em pé, e a segurança do regime, intacta.

Há países que defendem isolar o Irã, e há outros, caso do Brasil, que defendem um diálogo. Qual a melhor tática?
Entendo que potências emergentes, sobretudo o Brasil, busquem um ângulo diferente para ganhar relevância internacional. Mas é uma visão limitada, pois uma hora esse regime vai mudar. E da mesma forma que os iranianos têm más lembranças dos britânicos pela época do xá, terão más lembranças do Brasil e da Turquia [mediadores de uma tentativa de acordo nuclear com Teerã em 2010].

Seus filmes abordam as relações entre os EUA e o Irã no passado. Como as vê hoje?
Em um momento ruim. O Irã tem de ser antiamericano para sobreviver e não vai ceder naquilo que é o principal interesse dos EUA, o programa nuclear. Os americanos não parecem interessados em políticas de longo prazo.

 

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