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Amorim critica falta de limites de ação internacional na Líbia
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ANDREA MURTA
DE WASHINGTON
O ex-ministro de Relações Exteriores Celso Amorim criticou nesta segunda-feira em Washington pela "falta de limites" a resolução 1973 da ONU (Organização das Nações Unidas), que permitiu ataques do Ocidente à Líbia com vistas à proteção de civis e a implantação de uma zona de exclusão aérea no país.
O Brasil se absteve na votação do Conselho de Segurança que autorizou a ação. "Não porque o país é contra", disse Amorim, "mas porque onde estão os limites?".
"Foram muito além da [zona de exclusão] que foi implantada no Iraque [após a Guerra do Golfo, nos anos 1990]", afirmou. "O Brasil fez bem de se abster por causa da linguagem ambígua, que até os americanos reconhecem."
O ex-ministro também disse que vai se tornar preocupante "a situação dos civis do outro lado", partidários do ditador Muammar Gaddafi, "se os rebeldes continuarem avançando".
Os revoltosos contam agora com o apoio militar da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte), o que vem levantando dúvidas acerca da legalidade da missão e do respeito 'as definições da resolução.
Amorim falou na abertura de uma conferência sobre políticas nucleares do think tank Carnegie Endowment for International Peace, em Washington.
Ele voltou a defender a atuação do Brasil no controverso acordo nuclear fechado com o Irã em maio último, que acabou rechaçado pelas potências ocidentais e não impediu a implantação de nova rodada de sanções contra Teerã.
Afirmou que o presidente iraniano, Mahmoud Ahmadinejad, mostrou boa vontade e teve que lutar contra vozes contrárias aos acordos dentro do Irã, inclusive por parte dos políticos tidos como mais liberais, como do reformista Mir Hussein Moussavi.
Mas disse que o Brasil agiu certo e não foi ingênuo. "Se fosse hoje, talvez eu não tivesse acreditado em tudo que li", disse, sugerindo ter confiado inutilmente nos pedidos dos americanos pela intervenção brasileira junto a Ahmadinejad por um acordo de troca de material nuclear.
Em relação às pressões pela assinatura do protocolo adicional do Tratado de Não Proliferação Nuclear --que o país evitou até hoje-- Amorim afirmou que o Brasil só avançará se houver progresso no desarmamento por partes das nações nuclearizadas.
E disse que o mundo tem dado mensagens incongruentes e mantido uma lógica de prestígio 'as armas nucleares. "Porque a Índia tem apoio explícito dos EUA para vaga permanente no CS da ONU e o Brasil não? Os dois são comparáveis em tudo. Só que a Índia tem a bomba nuclear e o Brasil não tem."
O ex-ministro comentou ainda sobre a rodada Doha e sugeriu que talvez seja melhor fechar a negociação como está agora do que "passar mais dez anos discutindo coisas antigas'. 'Do jeito que está, já é mais difícil [fechar] do que em 2008 (...) com esse problema dos alinhamentos das moedas [câmbios]."
Segundo ele, o problema está na falta de acordo com EUA e Índia. "Os EUA têm o maior superavit comercial com o Brasil... se quiserem [exigir] mais ainda [do Brasil], fica difícil."
Nos EUA, Amorim deverá passar um mês na Universidade Harvard a convite do ex-subsecretário de Estado para assuntos políticos Nicholas Burns.
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