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15/04/2011 - 22h38

Regime de Gaddafi nega ter usado bombas proibidas mundialmente

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DAS AGÊNCIAS DE NOTÍCIAS

Após acusações da ONG Human Rigths Watch e do jornal "The New York Times", o regime do ditador líbio Muammar Gaddafi negou usar bombas de fragmentação --proibidas em mais de 30 países-- nos ataques a civis.

O porta-voz do governo, Mussa Ibrahim, foi categórico. "Eu os desafio a provar. Se usássemos essas bombas, as provas ficariam remanescentes por dias e semanas, e nós sabemos que a comunidade internacional virá em massa para nosso país em breve, então não podemos fazer isso", disse.

O governo líbio convidou o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) para visitar Misrata e no sábado, a Cruz Vermelha e o Crescente Vermelho também devem ir à cidade.

Antes mesmo das acusações de uso das "superbombas", a cidade de Misrata já havia sido alvo de polêmicas devido ao cerco mantido pelas tropas de Gaddafi. Há semanas os soldados atacam a população e os rebeldes e dificultam o fornecimento de água, luz elétrica e acesso a telecomunicações.

Mais cedo houve confirmação de que Gaddafi passou a atacar a população da cidade de Misrata usando bombas de fragmentação fabricadas em 2007 pela Espanha. O explosivo de alto poder de destruição foi proibido em 30 países em 2008.

A particularidade deste tipo de bomba é a sua natureza aleatória e o poder de destruição prolongado. Após ser detonada, a bomba se divide em diversas partes menores lançadas em grandes distâncias. Algumas partes podem ficar intactas e explodirem muito tempo depois, como se fossem minas terrestres.

DENÚNCIAS

O assunto foi destaque dos jornais "The New York Times" e do "El País", além de ter sido tema de denúncia da organização internacional de direitos humanos Human Rights Watch (HRW).

Shamil Zhumatov/Reuters
Imagem de arquivo mostra parte de bomba de fragmentação ainda não detonada no norte do Iraque, em 2003
Imagem de arquivo mostra parte de bomba de fragmentação ainda não detonada no norte do Iraque, em 2003

Segundo o "Times" a revelação dá mais ênfase à urgência manifestada nesta sexta-feira pela França e o Reino Unido, que pressionam a Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte) por mais ataques contra as forças de Gaddafi.

O jornal americano diz ainda que a gravidade da descoberta pode fazer os EUA repensarem sua decisão de se afastar das operações na Líbia e voltar a intensificar seus ataques.

Já a HRW alertou para o 'grave perigo' que essas armas representam para a população civil e destacou que, após investigar vários fragmentos das bombas, acredita que se tratem de MAT-120, fabricadas pela empresa espanhola Instalaza há quatro anos, um ano antes de a Espanha assinar o tratado internacional contra as bombas de fragmentação, indicou a organização em comunicado.

"É horrível que a Líbia use este tipo de armas, especialmente em uma área residencial. Elas representam um risco enorme para os civis, tanto durante os ataques, por sua natureza indiscriminada, quanto depois, porque fragmentos do artefato ficam espalhados sem explodir e continuam sendo perigosos", indicou o diretor da divisão da HRW dedicada ao armamento, Steve Goose.

"Esse tipo de armas abrem no ar e deixam escapar 21 munições sobre uma ampla área", explica a HRW, que detalha que elas "se desintegram em fragmentos, soltando balas de metal fundido capazes de penetrar em veículos blindados".

REAÇÃO ESPANHOLA

Em reação, o Ministério da Defesa espanhol disse que o país foi um dos primeiros a destruir este tipo de armamento após o acordo assinado em 2008, e que duas empresas se dedicavam a fabricar tais bombas até aquele ano --Instalaza e Expal.

A primeira ainda inclui em seu site informações sobre a munição de morteiro MAT-120, mas ressalta que 'acata, como fez em seus mais de 60 anos de história, as decisões do governo da Espanha, e as cumpre rigorosamente'.

A munição MAT-120 foi proibida pelo governo em cumprimento, por sua vez, da convenção de Oslo. Em seu site, a companhia explica que mantém o MAT-120 em sua apresentação para mostrar a segurança e a confiabilidade desta tecnologia, na qual investiu 11 milhões de euros.

A HRW diz que no final de 2008 a Espanha destruiu suas reservas de 1.852 projéteis MAT-120, que continham um total de 38.892 munições, após assinar o tratado internacional em 3 de dezembro de 2008 e ratificá-lo em 17 de junho de 2009.

FINANCIAMENTO

A secretária norte-americana de Estado, Hillary Clinton, disse nesta sexta-feira que os aliados da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte) estão procurando formas de oferecer verbas aos rebeldes líbios.

"A oposição precisa de muita assistência no lado organizacional, no lado humanitário, e no lado militar", disse Hillary a jornalistas após uma reunião com ministros de Relações Exteriores da Otan em Berlim.

"Há várias discussões sobre como melhor prestar assistência e quem está disposto a fazer isso. Estamos também buscando formas de fornecer verbas à oposição para que ela cuide dessas necessidades por si mesma", acrescentou.

Saul Loeb/Associated Press
Em Berlim, Hillary disse que os aliados da Otan buscam maneiras de oferecer financiamento aos rebeldes libios
Em Berlim, Hillary disse que os aliados da Otan buscam maneiras de oferecer financiamento aos rebeldes libios

Entre as possibilidades citadas pela chefe da diplomacia americana está a de descongelar fundos que poderiam ser usados pelos rebeldes líbios, ou permitir que eles vendam petróleo em áreas sob seu controle.

Hillary afirmou que os países da Otan estão "aprendendo mais o tempo todo" sobre os rebeldes, e lembrou que "vários países têm relações significativas" com a oposição.

FRANÇA PRESSIONA

Mais cedo, a França e o Reino Unido anunciaram querer ampliar os ataques aéreos para os centros de logística e decisão do Exército do ditador da Líbia, Muammar Gaddafi, em vez de começar a armar os rebeldes.

"Esse é o motivo por que a França e o Reino Unido querem mostrar sua determinação, incluindo com ataques a centros militares e de decisão na Líbia ou postos de logística que hoje estão sendo poupados", disse o ministro da Defesa francês, Gerard Longuet, ao ser questionado se estava na hora de enviar armamentos aos rebeldes.

"Por quê? Porque queremos evitar uma guerra civil [...] a força do outro lado deve ser neutralizada, e então os ataques que estamos pedindo não têm como objetivo armar os insurgentes. Nosso objetivo não é organizar uma frente, é que as tropas de Gaddafi voltem aos seus quartéis", disse ele à televisão LCI.

Odd Andersen/France Presse
Rebeldes líbios empunham bandeiras próximo à cidade de Ajdabiyah; Otan estuda como enviar financiamento
Rebeldes líbios empunham bandeiras próximo à cidade de Ajdabiyah; Otan estuda como enviar financiamento

Já o secretário-geral da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte), Anders Fogh Rasmussen, expressou otimismo nesta sexta-feira de que os países aliados forneçam os aviões de ataque de alta precisão necessários para bombardear mais alvos de Gaddafi na Líbia.

Representantes da Otan dizem que faltam à aliança cerca de dez aviões para ataques aéreos. Um funcionário francês citou a Itália, Espanha, Holanda e Suécia como países que poderiam fazer mais.

"Recebemos indicações de que os países fornecerão o que for preciso. Tenho a esperança de que consigamos os equipamentos necessários no futuro muito próximo", disse Rasmussen em coletiva de imprensa durante reunião de chanceleres da Otan em Berlim.

Phil Moore/France Presse
Violentos confrontos deixam marcas na cidade de Misrata; rebeldes denunciam "massacre" de Gaddafi no local
Violentos confrontos deixam marcas na cidade de Misrata; rebeldes denunciam "massacre" de Gaddafi no local

Os rebeldes líbios vêm pedindo mais ataques aéreos, dizendo que enfrentam um massacre causado pelos ataques de artilharia das forças do governo na cidade cercada de Misrata.

 

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