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16/05/2011 - 21h20

China tentou negar apoio ao Brasil em reforma do FMI

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CLAUDIA ANTUNES
DO RIO

A China tentou negar apoio à pretensão do Brasil de aumentar seu peso no comando do FMI (Fundo Monetário Internacional), revelou Paulo Nogueira Batista Jr., o representante brasileiro na instituição.

Ele afirmou que a tendência dos chineses de atuarem em "em faixa própria" põe em risco a articulação dos cinco países do fórum Brics, formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul (esta recém-admitida).

Nogueira Batista e a diplomata Maria Edileuza Fontenele Reis, responsável no Itamaraty pelo Brics, revelaram bastidores de negociações difíceis com a China, relativas às reformas do FMI e do Conselho de Segurança da ONU. Os dois participaram nesta segunda-feira de seminário do Centro de Estudos e Pesquisas do Brics, criado há um ano pela PUC-RJ e a Prefeitura do Rio.

"O Brasil tem que fazer sentir aos chineses que, se quiserem seguir em faixa própria devido a seu peso estratégico, vão pagar um preço", disse Nogueira Batista, que ressaltou estar falando a título individual, e não como diretor-executivo do FMI (sua diretoria reúne oito países além do Brasil).

Ele contou que a articulação no FMI entre os países do Brics ia bem até o ano passado, quando foi discutida a redistribuição das cotas do Fundo para aumentar a participação dos votos dos países emergentes. A China se negou inicialmente a apoiar a posição brasileira.

O Brasil queria se tornar o décimo maior cotista --pretensão que acabou efetivada. Para isso, teria que passar à frente de vários países, incluindo o Canadá. Os chineses, segundo Nogueira Batista, começaram a alegar que não queriam "ofender" os canadenses. Em consulta com Brasília, ele decidiu contra-atacar.

"Eu disse: 'Quem ficou ofendido foi o Brasil, e nossos negociadores do clima vão saber disso'. Isso repercutiu enormemente, porque eles [os chineses] têm grande interesse no apoio brasileiro na questão climática, onde estão em relativo isolamento."

Nogueira Batista disse que o Brics é uma "alavanca" importante para o Brasil, já que o grupo reúne alguns dos poucos países em desenvolvimento com capacidade de atuação independente na política internacional. Afirmou, porém, que é preciso levar em conta as divergências internas de interesses.

"Os chineses podem ser tentados às vezes a estabelecer diálogo preferencial com os EUA. Só que esse caminho não é seguro, os americanos são difíceis. Quando os americanos botam pressão em cima dos chineses, eles refluem para a aliança com os Brics. Há uma dinâmica complexa entre Brics e países desenvolvidos."

CONSELHO DE SEGURANÇA DA ONU

Já Maria Edileuza Fontenele Reis, subsecretária-geral Política do Itamaraty, admitiu que é muito difícil fazer avançar dentro do Brics o apoio à ampliação do Conselho de Segurança.

Ela avalia que a China tem mais problemas com o possível ingresso do Japão do que com o da Índia --os dois países formam com Brasil e Alemanha o G4, grupo de candidatos a cadeiras permanentes no órgão.

A diplomata também acha que os chineses propuseram incorporar o México ao Brics, ideia rejeitada pelos demais membros do fórum, para diluir a pressão dos atuais parceiros sobre o tema.

"Nesse tipo de coisa ninguém quer ceder poder. O G8 só cedeu (para o G20) depois de confrontado com uma gravíssima crise econômica internacional. Vamos esperar que não precisemos de uma nova grande emergência política para fazer a reforma do CS."

Fontenele Reis contou que coube ao Brasil pressionar a China a aceitar alguma referência à reforma no comunicado da última cúpula do Brics, em abril. Isso porque a Índia está em "posição mais confortável", por já ter o apoio dos EUA a sua candidatura ao CS.

"Lutei muito para que o final do parágrafo expressasse o apoio a 'uma maior participação de Brasil, Índia e África do Sul no Conselho de Segurança reformado'. Mas isso ainda não foi possível. Ficará para a próxima cúpula, espero", disse.

O comunicado aprovado fala que China e Rússia "compreendem e apoiam" a aspiração dos outros três membros do Brics a "desempenhar papel mais protagônico nas Nações Unidas". Ambas já são membros permanentes, com EUA, Reino Unido e França.

Mesmo assim, a diplomara considerou um "avanço conceitual" o fato de o mesmo parágrafo ter incluído uma menção à necessidade de reforma do CS, o que não tinha acontecido nas duas cúpulas anteriores do Brics.

 

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