Saltar para o conteúdo principal

Publicidade

Publicidade

 
 
  Siga a Folha de S.Paulo no Twitter
04/07/2011 - 03h00

Crise na Grécia mostra falhas do euro, diz analista

Publicidade

VAGUINALDO MARINHEIRO
DE LONDRES

Há quase um consenso entre acadêmicos de que a crise econômica na Europa, com a Grécia à beira de um calote, escancara as falhas no projeto de criação do euro, a moeda comum de 17 países do continente.

Países com economias e finanças diferentes foram tratados como iguais e o tempo mostrou que não há uma receita única para todos.

Em entrevista à Folha, Kevin Featherstone, professor da London School of Economics especializado em Grécia e na formação da União Europeia, afirma que os problemas foram agravados porque os líderes europeus não souberam agir depois da crise global de 2008. "Ficaram atrás dos mercados, não à frente", diz.

Ele acredita que a melhor saída seria criar um Ministério das Finanças para a zona do Euro. Aposta também que essa é uma crise de confiança de curto ou médio prazo, mas que não é o fim do sonho de uma Europa unida. "É uma batalha contra os mercados que a Europa irá ganhar".

*

Folha - Quais foram as falhas na construção do euro?
Kevin Featherstone - O euro foi criado sem um sistema de governança econômica para apoiar os Estados membros e sem formas de verificar a real situação fiscal deles. Isso deixou o bloco vulnerável.

Após a crise financeira global de 2008, vimos os líderes da UE (União Europeia) sem saber que atitude tomar. Eles sempre foram atrás do mercado, não à frente dele. Isso exacerbou a necessidade de empréstimos para restaurar a estabilidade no continente.

Folha - Existe uma maneira de resolver os problemas agora?
Featherstone - A UE precisa definir as regras de seu Mecanismo Europeu de Estabilidade, para fornecer empréstimos aos governos em dificuldade fiscal. Terá também de endurecer as regras que cada país deve seguir, com mais controle sobre as contas de cada um e penas duras para quem não cumprir as regras.

O problema é que querem deixar que a aplicação das penalidades siga um critério político.

O melhor seria a zona do euro criar um Ministério da Economia europeu, como sugeriu o presidente do Banco Central Europeu, Jean Claude Trichet.

Folha - Cresce o número dos que dizem que não há outro caminho para a Grécia além do calote da dívida. Quais seriam as consequências?
Featherstone - Alguns temem que poderiam ser similares às causadas pelo colapso do Lehman Brothers, em 2008. O presidente dos EUA, Barack Obama, já advertiu sobre os riscos para a economia global. Embora os bancos estrangeiros estejam se movimentando para limitar sua exposição aos títulos gregos, outros países europeus seriam afetados e a economia global se desestabilizaria.

Folha - Ao criar a zona do euro, a UE previu a ocorrência de uma situação como essa?
Featherstone - O Tratado de Maastricht, que criou a zona euro, não previu nada como o que vemos agora. A situação fiscal dos governos não foi verificada de forma adequada e havia regras rígidas proibindo empréstimos para salvar os países.

Acontece que a crise mostrou que eles eram necessários e se contornou as regras para concedê-los com a ajuda do FMI (Fundo Monetário Internacional).

Não há previsão legal para a expulsão de um Estado membro que não obedeça às regras e não há previsão para a saída voluntária de um país do sistema de moeda única.

Folha - É possível impor mais cortes à economia grega?
Featherstone - Sim, mas depende do tipo de corte. Existem bens do Estado a serem vendidos e modernizações da máquina pública a serem feitas para evitar desperdícios.

Folha - O desequilíbrio entre os países da chamada periferia europeia (Grécia, Portugal, Irlanda e também a Espanha) e a Alemanha, por exemplo, não vai desaparecer em pouco tempo. O senhor acredita numa reorganização da Europa, com uma nova zona do euro apenas com a Alemanha e alguns de seus vizinhos?
Featherstone - A formação de uma zona monetária única ao redor da Alemanha não é do interesse da Europa, nem da Alemanha. O euro foi criado porque uma pequena zona com o marco alemão como moeda única não era boa para a estabilidade de um mercado comum europeu.

Há problemas estruturais que precisam ser resolvidos para garantir que a periferia se desenvolva com o núcleo, mas é preciso lembrar também da imprudência dos bancos alemães, franceses e britânicos (nesta ordem), que emprestaram para a Grécia.

Folha - Essa crise representa o fim do sonho de um continente unido? É o fim do sonho de uma moeda única?
Featherstone - Não. Temos de compreender que o progresso da UE foi em ondas. Existem muitas contingências históricas a atuar no progresso ou recuo da UE. Talvez Angela Merkel [premiê alemã] perca a próxima eleição geral na Alemanha. É possível também que a França tenha um novo presidente a partir de 2012.

Há demasiados interesses no projeto europeu para que ele colapse. Esta é uma crise de confiança de curto ou médio prazo. É uma batalha contra os mercados que a Europa deve ganhar.

 

Publicidade

Publicidade

Publicidade


Voltar ao topo da página