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18/07/2011 - 20h10

Faxina na Scotland Yard

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DO "FINANCIAL TIMES"

As consequências negativas do escândalo dos grampos telefônicos continuam a crescer. Após as renúncias de executivos de alto escalão da News Corp. na semana passada, agora é a vez da Polícia Metropolitana (Scotland Yard).

Depois da investigação malfeita sobre os grampos telefônicos, era inevitável que a polícia fosse questionada. A falta de zelo investigativo por parte da Polícia Metropolitana ainda é motivo de consternação. É igualmente preocupante a impressão -- ainda não comprovada -- de um acobertamento subsequente, além da possibilidade de alguns policiais terem sido corruptos.

Logo, é bem-vindo o fato de as pessoas do primeiro escalão terem aceitado a responsabilidade pela confusão -- mesmo que tenham sido um tanto quanto pressionadas para isso pelo prefeito de Londres, Boris Johnson, que passou a focar fortemente sobre um escândalo que ainda em setembro passado tinha qualificado como "bobagem absoluta". Sir Paul Stephenson, chefe da Polícia Metropolitana, renunciou a seu cargo, como o fez John Yates, o encarregado da investigação entre 2009 e janeiro deste ano.

Sir Paul deve arcar com a culpa global pela relutância obstinada e ainda desconcertante da polícia em investigar as escutas telefônicas, mesmo quando passaram a vir à tona mais e mais informações. Se a responsabilidade máxima deve ser atribuída a alguém, é a ele.

Mas, se ele estiver assumindo a responsabilidade pelos erros de outros, o fato é que o caso também mostrou o julgamento dele sob uma ótica muito negativa. Sir Paul não deveria ter permitido que a polícia empregasse um ex-editor adjunto do "News of the World", o tabloide que está ao cerne da crise, enquanto o caso ainda não tinha sido resolvido. E, embora isso seja apenas tangencial à crise, ele não deveria ter recebido tratamento gratuito no valor de 12 mil libras de uma clínica de saúde onde se recuperava de uma cirurgia séria.

Com Yates, a posição é igualmente nítida. Ele foi, afinal, o funcionário da polícia responsável por ter rejeitado a ideia de reabrir a investigação em 2009 -- decisão que tomou em apenas oito horas, a despeito da existência de cerca de 11 mil páginas de provas em grande parte não lidas. Seja como for que se chegou a essa decisão, ela parece ter sido temerária, na melhor das hipóteses.

Caberá ao inquérito público comandado por juízes trazer à tona as razões da inércia da Polícia Metropolitana. Ela foi motivada por um relacionamento nada saudável com a mídia tabloide ou por uma simples relutância cultural em enxergar os grampos como um delito grave? As investigações policiais lideradas por fontes independentes para apurar as alegações de corrupção precisam ser conduzidas com vigor.

O caso das escutas telefônicas aponta para um mal-estar mais amplo no Reino Unido. O desejo compreensível da polícia de conservar a confiança do público, precondição vital para o policiamento eficaz, em alguns momentos vem degenerando em uma obsessão pouco saudável em administrar as relações com a imprensa. Isso vem se manifestando em uma relutância em permitir o reconhecimento público de erros policiais em casos de destaque como as mortes de Jean Charles de Menezes e Ian Tomlinson, um vendedor de jornais morto durante os protestos do G20 em Londres, em ações da polícia. O caso dos grampos dá a impressão de ser outro exemplo dessa relutância.

O próximo chefe da Polícia Metropolitana precisa deixar de lado a manipulação de imagem e enfrentar a causa do problema. Limitar o contato da polícia com a mídia não será a solução. Será preciso enfrentar a cultura que tornou possíveis esses erros de julgamento.

Tradução de Clara Allain

 

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