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01/08/2011 - 17h35

Anão planeja 1ª colônia para pessoas pequenas nas Filipinas

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DO "GUARDIAN", EM LONDRES

Com seus cabelos negros, pele morena e olhos castanhos com reflexos dourados, Alejandro Doron Jr. é o tipo de homem que costuma chamar a atenção. Ele pode ser bonito, mas sabe porque as pessoas o olham tanto. Ele é baixo.

Na realidade, Doron tem 1,16 metro de altura. Sendo um dos muitos "unanos", ou anões, de Manila, ele espera acabar com o assédio que enfrenta diariamente, fundando a primeira colônia de anões das Filipinas. Doron tem 35 anos, é barman e trabalha no único "bar de anões" de Manila, o Hobbit House, onde ele e seus colegas, com alturas que vão de 0,75 metro a 1,33 metro, servem cerveja Hefeweizen e steaks nova-iorquinos a turistas, enquanto comediantes e sósias de Elvis, todos anões, se apresentam sobre o palco.

A dez minutos de distância de carro, no bairro de prostituição de Makati, outros anões vestem sungas douradas e pretas, untam seus corpos de óleo e se enfrentam em luta livre. Ainda outros fazem strip-tease para turistas sexuais fascinados.

Embora não existam cifras oficiais a esse respeito nas Filipinas, o nanismo, do qual existem mais de 200 variedades distintas, geralmente é definido pela altura de 1,46 ou menos. Acredita-se que a condição mais comum, acondroplasia, afete cerca de uma em cada 25 mil pessoas. A comunidade de anões de Manila é altamente visível porque muitos de seus membros vieram à capital em busca de trabalho e de outras pessoas como eles, diz Doron. "Se não, elas seriam como eu: o único anão em seu vilarejo", vulnerável a abusos físicos e verbais.

Críticos sugerem que a existência de empregos específicos para anões, como o de Doron, representem uma exploração, mas, para muitas pessoas baixas nas Filipinas, esse tipo de trabalho pode ser uma dádiva. Embora os filipinos normalmente tenham estatura baixa (a média de altura é 1,62 metro entre os homens e um pouco menos de 1,52 entre as mulheres), para muitos empregos exige-se estatura mínima de 1,57 metro. "Sou programador de computadores por profissão, mas, mesmo que você tenha um bom currículo e possua as qualificações exigidas, os empregadores potenciais dizem que não podem contratá-lo porque há exigências de altura", diz Jonathan Cancela, 30 anos, que, com seu 1,41 metro, trabalha há alguns anos como lutador no óleo no bar Ringside.

O fascínio que os filipinos sentem por anões é algo que vem de longa data; os anões foram popularizados na década de 1970 por programas de TV e filmes sobre boxe, luta livre, kung fu e shows de humor de anões. Mesmo hoje, quando uma pessoa é o único anão de sua família imediata, algo que ocorre em cerca de 80% dos casos em todo o mundo, a lenda popular filipina diz que sua mãe deve ter assistido à "TV anã" enquanto estava grávida.

Esse interesse grande pelos anões significa que muitos deles encontram empregos com facilidade, pelo menos em Manila. Doron frequentemente veste fantasias para representar duendes e monstros em programas de TV, festas infantis e até mesmo casamentos "de Branca de Neve". Recentemente ele atuou no filme "Son of God" no papel de um xamã que trajava vestes pontificais e roupas de mulher.

No apartamento invadido de três andares que ele divide com 11 outras pessoas, incluindo sua família e a de sua irmã, Doron toma um copo de RC Cola enquanto sua companheira, Olivia Fernandez, 38 anos, que tem 1,57 metro, embala o filho de 1 ano deles no colo. O casal tem cinco filhos; duas de suas filhas são anãs. Rina, de 15 anos, faltou à escola por medo do bullying. "Alguns garotos queriam fazer confusão comigo, então fiquei em casa", ela conta, com calma. Rina mede 85 centímetros. "É difícil para mim. As pessoas dizem que sou baixinha, gritam comigo. Mas eu vou ao colégio para aprender mais sobre a vida."

Olivia Fernandez diz que sua família e seus amigos foram contra seu relacionamento com Doron, e que Glysdi, de 7 anos e também anã, é alvo de tantos abusos verbais "que vive chorando". "Falei para ela: 'Se as pessoas falam sobre você, não dê ouvidos'", comenta Doron, que deixou o colégio antes de concluir o secundário para fugir do molestamento. "Mas é difícil. Essa é a atitude natural das pessoas. Rezei para que todos meus filhos fossem normais, mas não tenho escolha. Foi isso o que Deus me deu."

Doron diz que é devido ao desejo de ficar livre dos abusos constantes que ele e 30 outros anões estão planejando criar uma colônia de pessoas pequenas. Um investidor doou um terreno de 16 mil m² perto de Manila, mas é preciso limpar a terra, construir as casas e abrir negócios. O dinheiro está em falta, e Doron espera que políticos locais ajudem com recursos e que, algum dia, a colônia se torne uma atração turística.

No passado, já houve chamadas cidades de anões em Coney Island, na virada do século, e, mais recentemente, em Kunming, na China, mas nem todos concordam que elas ajudem no longo prazo. "A resposta não está na segregação", diz Gary Arnold, da organização beneficente Little People of America. "Está na conscientização das diferenças e em fazer tudo o que podemos para promover comunidades que sejam tolerantes de todas as diferenças."

Trajando jeans e uma camiseta de criança, Doron volta ao trabalho, percorrendo vielas repletas de cães vadios e galos em gaiolas. Enxugando o rosto com um lenço, uma vizinha ri em voz alta quando ele passa. "Lá vai o anão!", ela grita. Doron se vira, sorri para ela e então prossegue em seu caminho.

Tradução de Clara Allain

 

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