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A queda de Assad é inevitável
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SALWA ISMAIL *
DO "GUARDIAN"
Os acontecimentos dramáticos na Líbia estão suscitando comparações com o levante na Síria. Algumas pessoas vêm indagando, especialmente, qual deveria ser o papel da comunidade internacional. Mas não foi lançado nenhum chamado por intervenção militar externa desde o interior da própria Síria --o povo sírio é contra qualquer ingerência estrangeira. A posição é defensível porque vários fatores interligados --"objetivos" e "subjetivos"-- fazem com que a queda do regime de Bashar Assad seja inevitável.
Comecemos com os fatores objetivos. O levante ingressou em uma fase nova, com a oposição e o movimento de protestos ampliando-se para abranger grupos profissionais. Médicos se organizaram em comitês coordenadores, para prestar assistência médica a manifestantes. O apoio humanitário deles aos feridos levados a hospitais ou clínicas improvisadas os converteu em alvos de ataque e prisões por parte dos serviços de segurança, precipitando uma tomada de posição coletiva contra o regime. Advogados organizaram protestos, alguns dos quais têm sido cercados por forças de segurança. Essa participação vem consolidando a oposição em campo.
E, na medida em que profissionais liberais --no passado beneficiários das políticas educacionais e de emprego do Partido Ba'ath-- vêm se tornando adversários, outros elementos chaves parecem estar abandonando o regime. É o caso das classes comerciantes e empresariais sunitas, que representam o eleitorado tradicional do regime. Nas cidades que estão ao coração do levante, como Homs, essas classes se juntaram ao movimento já no início. Esta semana, dois industriais importantes nessa cidade foram presos. Mas essas classes exercem peso social e político maior em Damasco e Aleppo --e há sinais de que os comerciantes aqui estejam deixando de apoiar o regime, transferindo recursos para fora da Síria e provocando um problema sério de liquidez.
Embora essas condições objetivas estejam solapando a base social do regime, fatores subjetivos vão determinar seu futuro. Ao expressar publicamente seu desprezo, sua revolta e seu desdém pelo regime e por Assad pessoalmente, os sírios se auto-obrigam a persistir em seus protestos até que se vejam livres de ambos.
As manifestações públicas feitas no levante romperam o silêncio forçado do povo. O grito de ordem "Yalla Irhal Ya Bashar" ("vá embora, ó Bashar") e os qualificativos acrescidos ao nome do presidente ("assassino", "sanguinário") ilustram o desdém e o desrespeito das pessoas. O efeito cumulativo de milhares de expressões públicas diárias de chacota em relação a Assad une os sírios irrevogavelmente na meta de afastá-lo do poder.
Agora que o levante ingressa em seu sexto mês, o regime foi reduzido a uma máquina de matar operada pelas forças de segurança, exército e milícias de pistoleiros. Concretamente, o regime de Assad está sendo mantido por uma gangue. À medida que os sírios perseveram e que o regime intensifica a violência, vários cenários possíveis emergem, todos levando à queda inevitável de Assad: aumento das deserções do exército, que levariam a rixas internas nas forças armadas, o que poderia desembocar em conflitos civis. Intervenção militar externa, com consequências semelhantes. Ou, ainda, a perseverança dos sírios em sua luta pacífica, sustentada pelo crescimento de seu movimento e impelida pela vontade inabalável do povo em ver um regime autoritário repudiado chegar ao fim.
Está claro que é o terceiro cenário o que mais bem conquistará as metas da revolta. Ele representa um processo e um resultado no qual os próprios sírios afastarão o regime e protegerão a integridade de sua comunidade política nacional. Para fazer com que esse cenário seja o mais provável, o apoio externo deve se limitar a sanções econômicas contra alvos precisos e desinvestimento, levando os recursos do regime a secar e, assim, apressando o fim dele.
Salwa Ismail é professor de política com referência ao Oriente Médio na Escola de Estudos Orientais e Africanos.
Tradução de Clara Allain
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