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EUA mantêm 7.500 agentes infiltrados em solo paquistanês
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IGOR GIELOW
ENVIADO ESPECIAL A ISLAMABAD (PAQUISTÃO)
No elegante setor F-8/3 de Islamabad, a capital do Paquistão, há uma casa branca grande, com três pisos e muros altos. Seus vizinhos desconhecem os donos, mas reparam que o movimento nela só começa diariamente no fim da tarde, estendendo-se pela madrugada.
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Trata-se, segundo a Folha apurou, de uma casa-forte da CIA, o serviço secreto americano. Em dois dias de agosto, apenas paquistaneses entraram e saíram dela, sempre andando para serem apanhados por carros numa avenida próxima.
É parte de uma estrutura cada vez mais importante para a estratégia americana para o país --que, após dez anos do 11 de Setembro, segue conflagrado e prioritário para o Ocidente por conta de sua proximidade com a China, a rivalidade com a Índia e pela presença de extremistas islâmicos em seu território.
São cerca de 7.500 homens vivendo no Paquistão de forma dissimulada, empregando até 17.500 paquistaneses. Os números são estimativas do ISI, o serviço secreto paquistanês, prestadas ao Congresso do país depois do incidente que azedou de vez a relação entre ele e seu equivalente americano: a operação que matou Osama bin Laden, em maio.
De lá para cá, a prisão de um alto membro da Al Qaeda no Paquistão gerou defesas mútuas sobre a necessidade de cooperação, mas as relações seguem difíceis.
"O problema é que o cara vem como funcionário da embaixada, ou de uma empresa, e vai mudando de condição. Vira membro de ONG e, quando você vai ver, ele sumiu no país", afirma Maria Sultan, diretora do Instituto de Estabilidade Estratégica do Sul da Ásia.
ONDE ESTÁ O DINHEIRO?
O caso de Raymond Davis, um agente da CIA trabalhando como subcontratado que matou dois paquistaneses (presumivelmente agentes do ISI), é emblemático dessa zona cinzenta criada.
A ONG de Sultan é de origem britânica, mas tem fortes laços com o setor militar paquistanês. Ela elaborou um estudo no qual dados oficiais americanos e paquistaneses são contrapostos sobre a ajuda ocidental ao país asiático.
Diz o Paquistão que só recebeu, de fato, US$ 4,2 bilhões em ajuda americana desde 2002, contra US$ 20 bi veiculados no Ocidente. Desse valor, US$ 2,4 bi teriam de fato ido para os militares.
"Onde está o resto do dinheiro? Desde que a lei Kerry-Lugar passou, está indo diretamente para agentes paquistaneses fora do controle do Estado, criando um guarda-chuva de apoiadores para a eventualidade de uma instabilidade maior, como um golpe, que afete os reais interesses aqui", sustenta Sultan.
Por "reais interesses" está não só o combate a grupos extremistas, mas também a proteção das cerca de cem ogivas nucleares do Paquistão e de sua matéria-prima.
A lei citada, de 2009, prevê ajuda anual de US$ 1,5 bilhão ao Paquistão, mas permite que os EUA estipulem várias condições de governança e aplicação do dinheiro, que é visto nos meios políticos de Islamabad como violação de soberania. A Embaixada dos EUA em Islamabad não comentou os dados.
Enquanto isso, os dois países duelam retoricamente, o que não impede que 80% dos suprimentos da guerra no Afeganistão passem por solo paquistanês, o verdadeiro ativo estratégico do país.
"Não por acaso, desde a morte de Osama aumentaram brutalmente os ataques a caminhões-tanque vindo para cá", diz o analista político afegão Hamid Kher.
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