Saltar para o conteúdo principal

Publicidade

Publicidade

 
 
  Siga a Folha de S.Paulo no Twitter
28/10/2011 - 19h18

A palavra está com a direita, que fala sobre o perigo da "sharia" na Líbia

Publicidade

SADHBH WALSHE
DO "GUARDIAN"

Enquanto a Otan reflete sobre sua retirada da Líbia, uma semana apenas depois do anúncio de que todas as tropas dos EUA serão retiradas do Iraque, os conservadores não têm certeza se o presidente Obama está tentando propositalmente mergulhar o Oriente Médio no caos ou se está apenas tentando se reeleger.

SEAN HANNITY

Sean Hannity viu o envolvimento do presidente na Líbia com profunda desconfiança desde o início, e, embora não lamente ver Gaddafi pelas costas, admitindo que ele foi um tirano terrível, parece achar que a empreitada inteira terá sido uma perda de tempo se a Líbia não se tornar uma democracia em estilo ocidental da noite para o dia.

"Justamente quando havia grandes esperanças de que a Líbia abraçaria sua libertação recente e estabeleceria uma democracia para o povo, o governo de transição declarou que o país agora será governado como Estado islâmico, baseado na lei da sharia. Agora, falando para uma multidão em festa, o líder do Conselho Nacional de Transição, Mustafa Abdel Jalil, anunciou no fim de semana que a Líbia vai legalizar a poligamia e revogar quaisquer regulamentos existentes que não sigam as diretrizes da sharia."

Embora Jalil tenha procurado assegurar à comunidade internacional que "os líbios são muçulmanos moderados" e que suas declarações sobre o papel da jurisprudência islâmica na nova Líbia foram voltadas principalmente à proibição dos juros sobre empréstimos e coisas desse tipo, Hannity está convencido de que uma "sharia total" é o que os líbios têm pela frente:

"Eis o que a sharia vai representar. Pelo menos em outros Estados, dos quais a Arábia Saudita é um, sabemos que o Irã é ... a exigência de que as mulheres consigam permissão de seus maridos para exercerem suas liberdades diárias, o espancamento de mulheres e meninas desobedientes, a execução de pessoas que são gays, a poligamia, os casamentos forçados de crianças, a exigência de quatro testemunhas oculares para que uma mulher possa denunciar um estupro, o apedrejamento de quem comete adultério, o açoitamento de adúlteros e a amputação de partes do corpo, em alguns casos a mutilação genital feminina. Eu poderia continuar sem parar. Isto é a sharia, conforme é aplicada em muitos países. Cadê o ultraje?"

Se tudo isso acontecesse de fato, seria uma coisa terrível para os líbios, mas, até agora, não há indicações de que seja isso o que Jalil tem em mente. E, mesmo que seja, Jalil, diferentemente de Gaddafi, não é ditador; logo, ele não tem o poder de impor sua vontade, seja ela qual for, sobre os outros cidadãos - ou, pelo menos, é essa a ideia quando se estabelece uma democracia.

Hannity discutiu a situação com Brigitte Gabriel, presidente da organização Act for America Education, e Kirsten Powers, analista política da Fox News. Powers congratulou Hannity por ser uma das poucas pessoas que enxergam a Irmandade Muçulmana como aquilo que ela é (nas palavras dele, um "grupo terrorista") e acrescentou que ela sempre foi transparente quanto a sua meta de instituir uma teocracia. Gabriel se mostrou ainda mais aflita com a situação, criticando a administração Obama por "confiar em desinformação" e não entender a dinâmica do Oriente Médio e o papel da lealdade tribal. Hannity lamentou que George Bush não estivesse no comando, para que pudesse aplicar à Líbia o mesmo tipo de sensibilidade que demonstrou em relação às lealdades tribais no Iraque, e assim não estaríamos agora com medo de um Irã empoderado.

RUSH LIMBAUGH

Rush Limbaugh está igualmente desiludido com as perspectivas que se apresentam para a Líbia pós-Gaddafi. Ele agora acha que talvez tivesse sido melhor ficar com o demônio que conhecíamos (Gaddafi), porque não sabemos o que podem acabar fazendo "os demônios que não conhecemos". Limbaugh está especialmente preocupado com o desejo de Jalil de mudar as leis relativas ao casamento de modo a facilitar as coisas para os homens se casarem com uma segunda esposa, aparentemente num esforço para atender a "todas as jovens que perderam seus maridos na batalha". Limbaugh está enojado com essa medida e condenou a Organização Nacional de Mulheres (ou Nags, como prefere chamá-la), por não tomarem uma posição a esse respeito. ("Nag" significa alguém, especialmente uma mulher, que não pára de importunar, pedir ou reclamar.)

"Quando chequei no site da Nags, a Associação Nacional de Garotas, não encontrei nenhuma condenação da promessa feita pelo novo líder líbio de impor a lei sharia na Líbia. Isso inclui a restauração da poligamia. Agora na Líbia os homens terão direito a esposas múltiplas. Até quatro. Você poderá ter um harém após outro harém, após outro!"

Estranhamente, de todos os problemas que a Líbia vai enfrentar no percurso inevitavelmente acidentado rumo à democracia, é essa ideia de que "os homens terão a liberdade de ter até quatro esposas, sem restrições" (a interpretação feita por Limbaugh) que mais perturba o radialista - que já teve quatro esposas, ele próprio (se bem que não ao mesmo tempo).

Limbaugh está igualmente revoltado com o anúncio feito pelo presidente Obama na semana passada de que vai trazer para casa até o final do ano as tropas que estão no Iraque, cumprindo sua promessa de campanha de "conduzir a guerra no Iraque para um fim responsável".

Apesar de ter reclamado muitas vezes do custo das guerras no exterior nas quais estamos envolvidos e que agora pertencem a Obama, embora ele não as tenha começado, Limbaugh não é a favor da retirada das tropas porque crê que uma presença militar contínua no Iraque é necessária para assegurar a segurança e estabilidade do país. Ele provavelmente ficaria aliviado em saber que é vai continuar a haver uma presença significativa de tropas no Iraque, mesmo após a chamada retirada completa, na forma de forças de segurança e treinamento. Mas Limbaugh está convencido de que, nas suas palavras, "não haverá vestígio, nada que recorde que estivemos lá", e ele acha que isso vai agradar em cheio ao presidente Obama porque vai animar a base dele.

"A base de Obama, a turma de Michael Moore, adoraria que fôssemos derrotados por completo, eles adorariam que - entre aspas - perdêssemos no Iraque. Seria um repúdio do que Bush fez; eles poderiam falar ' estão vendo, nunca deveríamos ter ido para lá para começo de conversa, não fez diferença alguma'. É isso mesmo. Mesmo depois de 4.500 soldados americanos mortos, é isso mesmo. Não estamos lidando com um grupo de pessoas racionais na esquerda. Estamos tratando com pessoas que sentem ódio abjeto por este país, que acham que este país precisa ser humilhado um pouco, ou muito, que acham que não deveríamos ter ido para o Iraque, para começo de conversa, e que devemos pagar um preço por termos ido para lá. E qual seria esse preço? A humilhação mundial."

Mas, deixando de lado a humilhação mundial, o maior medo de Limbaugh é que permitir que os líbios decidam seu próprio destino e encerrar uma guerra altamente impopular no Iraque podem acabar beneficiando o presidente Obama quando ele buscar se reeleger, em 2012.

MICHAEL SAVAGE

Michael Savage antes se preocupava com a ascensão do islã nos países islâmicos. Agora ele teme que, graças ao fracasso das políticas do presidente Obama no Oriente Médio, estejamos assistindo a uma tomada islâmica radical da América.

Ele discute a questão com um ouvinte, Mike, do Indiana, que descreve sua visão de que dentro em breve estaremos vendo as colunistas do "New York Times" Maureen Dowd e Gail Collins andando nas ruas de Manhattan quatro passos atrás de seus maridos muçulmanos e recobertas dos pés à cabeça em burcas. Savage não tinha certeza se era esse o rumo imediato em que estamos indo, mas achou que, com a prevalência das drogas, do alcoolismo e do liberalismo em nossa sociedade, os muçulmanos estão enxergando que é chegada a hora deles. Savage acredita que foi o próprio Deus quem apresentou o islã radical à América, para nos salvar de nós mesmos.

"Acredito que a mão de Deus está por trás desta invasão do Ocidente por muçulmanos radicais. Acredito que Deus quis que enxergássemos a fraqueza do liberalismo, do secularismo e do multiculturalismo, e acredito que Deus insiste que ou mudemos nosso comportamento e voltemos a respeitar a palavra de Deus, voltemos a frequentar a igreja, voltemos ao templo, façamos o melhor que podemos, avancemos um passo de cada vez em uma vida mais digna, mais como a que Deus deseja _ou vamos perder nossa sociedade completamente."

Bom, desta vez, pelo menos, ele não está pondo a culpa no presidente Obama.

TRADUÇÃO DE CLARA ALLAIN

 

Publicidade

Publicidade

Publicidade


Voltar ao topo da página