No passado, boticários ou apotecários encarnavam a figura de médicos para curar doenças com fórmulas, às vezes, secretas. Ervas selvagens, flores, raízes e plantas eram usadas nesses "remédios". E, adivinhe, qual a maneira para conservar essas poções se não um líquido —o álcool, no caso.
Pois bem, qualquer semelhança não é mera coincidência com a estação de trabalho de Spencer Amereno Jr., do Frank Bar, melhor barman —empatado ao lado do italiano Fabio La Pietra, que deixou recentemente as coqueteleiras do Peppino, no Itaim Bibi.
Um tipo de hortelã de borda branca, melissa, azedinha, flor de lótus, xarope feito de castanha-de-baru, semente do cerrado. Tudo está armazenado em dezenas de vidros e potinhos que ficam naquela bancada. Como um desses médicos antigos, ele manipula os recipientes quase sem olhar, atendendo aos pedidos de quem entra.
Spencer é um veterano da coquetelaria. Foi pioneiro em fazer a própria água tônica de quinino para juntar ao gim. Já envelhecia negronis em 2012, antes da bebida explodir em bares. Gosta de falar sobre a moda de coquetéis sem álcool, que pegou fora do país.
Tudo com a diplomacia de quem atende um "gringo" (o Frank fica em um hotel) que insiste em beber rum com coca em meio a tantos (bons) drinques. "Please enjoy, sir", diz, ao entregar a bebida. É a destreza de 16 anos de profissão que só multiplicaram a curiosidade de sua pesquisa. "Sonho todos os dias com o trabalho", diz, ao terminar o expediente, às duas da manhã.
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Frank Bar. R. São Carlos do Pinhal, 424, Bela Vista, tel. 3145-8000