Banquete no casulo

O interesse pela gastronomia, quase uma gastromania, foi uma avalanche nos anos recentes. Prateleiras ofereciam de queijos raros a caranguejo gigante do Alasca e vieiras do Canadá. Todo mês aparecia uma fruta exótica, uma erva amazônica.

Empilhamos livros, lemos centenas de receitas, conhecemos os melhores restaurantes do mundo (ainda que apenas virtualmente) e discutimos safras de Bordeaux como falamos de política. As listas de melhores debatemos em pormenores —viramos uma nação de "masterchefs" mentalmente estrelados.

Silvia Filgueiras/Editoria de Arte
Ilustração da crônica de Luiz Horta de 25.jun.2017

E compramos, como compramos! Máquinas de café expresso controladas à distância, descascadores elétricos de qualquer verdura, fogões profissionais...

E com esse aparato disponível, São Paulo não consegue comer em casa: nunca se cozinha, nem sabemos ligar o fogão por convecção térmica. Os apartamentos têm as mais perfeitas e equipadas cozinhas, com lindas panelas escandinavas, e o único equipamento usado é o celular, para chamar o motoboy ou reservar mesa para jantar. Eu mesmo, confesso, ainda não li o manual do meu termocirculador, que comprei três meses atrás.

Veio o "desconforto financeiro" do inverno que atravessamos. Estamos mais em
casa, e os armários entulhados começam
a incomodar. Eu já dei a partida faz tempo, porque a segunda coisa que mais gosto de fazer é cozinhar em casa (a primeira é ficar dentro dela).

O começo é um pouco frustrante. Tenha confiança. Pegue um livro em que confie —eu começo por dois: o "Pitadas", da Rita Lobo, e o "Larousse Gastronomique", pois as receitas são testadas. Pesquise um pouco, prepare-se para algumas derrapadas, encare com humor os fracassos. Ria bastante, é importante para o exercício de adaptação (não dá mais para culpar o chef, ele agora é você).

Ritualize a coisa. Não coma vendo TV, nem com o prato no colo. Coloque a mesa direito, use finalmente o lindo jogo de pratos e os talheres caros. Abra o vinho na temperatura, coloque sal na mesa para correções, admita que esqueceu de provar o molho.

Atente para as vantagens da vida doméstica: dá para falar alto, baixo ou nem falar, e a mesa ao lado não incomoda, pois não tem outra mesa. Se faltar vinho, não precisa conferir a carteira e a coluna de preços do menu, basta abrir mais uma garrafa.

Se der certo, vale uma foto linda no Instagram. Se der errado, disfarce com molho branco por cima e uma gratinada. E depois da formalidade da mesa bem posta, basta levar a taça para o sofá e continuar a conversa. Sua casa não fecha, o horário é sua decisão. Ah, e você não precisa enfrentar o trânsito, pagar o manobrista nem fazer de tudo para chamar o garçom. Nem deixar gorjeta.

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