Não se engane, os filmes estão errados. O périplo para escolher o vestido de casamento passa longe daquelas cenas em que a noiva para em uma arara e, encantada pela peça, a leva para casa. O modelo certo é resultado da soma de 90% do reflexo no espelho e 10% da mão do estilista.
A primeira coisa que se deve ter em mente é que nada é bom o suficiente se não cair perfeitamente no corpo. A regra, então, é planejar a primeira prova para seis meses antes da festa.
"Menos que isso, já complica, porque não haverá tempo hábil para ajustes nos bordados, na renda e na silhueta", diz Sandro Barros, um dos designers mais disputados entre casamenteiras da alta sociedade paulistana.
No ateliê dele no Jardim Paulista, mães, irmãs, madrinhas e, claro, as donas da festa, passam horas a fio em frente ao espelho durante as seis provas necessárias para o traje, cujo valor não sai por menos de R$ 20 mil, ficar pronto para o flash.
O conselho de estilistas ouvidos pela reportagem é sempre evitar ouvir demais a opinião alheia e, principalmente, achar que o vestido de casamento de sua celebridade predileta foi feito para você. "O que mais vejo é noiva chegando aqui com foto de Instagram. A internet abriu possibilidades para as mulheres, mas também as confundiu com tantas referências. Sempre tem quem quer a renda de um vestido, o véu de outro, a silhueta de um terceiro. É uma confusão só", brinca Barros.
O estilista dá um conselho básico para a noiva não errar na produção nem ser enganada nas lojas especializadas. "Primeiramente, um vestido nunca é branco, mas sim num tom 'off-white'. Nenhuma renda pura, sem plástico na composição, é totalmente branca", afirma.
Ele acrescenta: "E sem véu não dá. Uma noiva que casa sem véu é brochante."
A dica do estilista Lucas Anderi, outro nome acostumado aos agrados e desagrados das noivas mais exigentes do país, é nunca, nunca mesmo, usar uma silhueta que jamais foi usada na vida. "Se uma mulher não usa roupa justa, como ela, no dia do casamento, vai se sentir bem numa silhueta assim?", questiona.
Nascido no Líbano, Anderi é reconhecido pelas rendas com formas de arabescos, caudas removíveis e volumes exagerados de suas criações. "Mas nada de 'vestido bolo', aquele com franzido na cintura que acaba com a imagem de qualquer mulher", ressalta o estilista.
Para um vestido levar sua assinatura, ele pede à noiva que o visite oito vezes. "Na primeira visita escolhemos o modelo, depois tiramos medidas e, no segundo encontro, já tenho uma base para aplicar as rendas. Só a partir disso que começo a evolução. Dois meses antes do casamento a noiva consegue visualizar o vestido", explica.
Ele explica que, quanto mais bordado houver, mais lenta é a confecção. No ano passado, para uma noiva de Brasília, ele pregou 4 mil pedras nas rendas importadas do vestido, que demandou três pessoas só para o trabalho de bordado, que ia da cabeça aos pés. A joia custou R$ 48 mil à noiva.
'O INFERNO SÃO OS OUTROS'
Anderi também assinou o vestido da modelo Juliana Dal Bosco. Acostumada a desfilar em passarelas direcionadas a esse segmento, o vestido de casamento da amiga ficou pronto num tempo recorde de dois meses, mas, segundo ela, "porque ele conhecia meu corpo".
De tanto provar e tirar centenas de vestidos, ela percebeu que o grande problema para as mulheres é a insegurança de não agradar aos convidados.
"O problema é opinião dos outros. Há muito pitaco em cima do vestido e a mulher sempre pensa demais se as outras pessoas, seja o noivo ou a mãe, vão amar a roupa tanto quanto ela", diz.
"Muitas pessoas idealizam na noiva o gosto pessoal. Cabe à mulher idealizar seu próprio conto de fadas e não dar margem para a insegurança."