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14/10/2012 - 03h30

Tendências/Debates: A vitória imperfeita de Chávez na Venezuela

MARCO VICENZINO

Tendo recebido 54% dos votos, o presidente Hugo Chávez, da Venezuela, declarou a eleição "uma vitória perfeita". Ironicamente, não apenas ela foi imperfeita, como equivale a uma derrota ideológica. Julgar a eleição puramente em termos numéricos é enganoso.

Mesmo com o domínio completo dos instrumentos do poder do Estado, incluindo a mídia, o dinheiro do petróleo e os organismos eleitorais, Chávez não teve uma vitória convincente. A maioria obtida se deve simplesmente a vantagens avassaladoramente desproporcionais. Levando em conta as circunstâncias, uma "vitória perfeita" deveria ter sido por uma margem muito maior.

Embora o pleito tenha sido livre, foi longe de justo. Num campo de jogo que fosse transparente e equitativo, um resultado eleitoral diferente teria sido muito possível.

Apesar de concorrer com recursos exíguos, o candidato oposicionista Henrique Capriles angariou quase 45% dos votos. Levando em conta as disparidades enormes, Capriles virtualmente concorreu com as mãos amarradas. No entanto, ele pode afirmar legitimamente que representa quase a metade dos venezuelanos. Esse fato em si só assinala uma forma de vitória.

Por outro lado, Chávez garantiu seu apoio em grande medida por cobrir seus eleitores de recompensas materiais. Essencialmente, ele comprou votos graças a seu acesso irrestrito aos cofres públicos.

Em seu discurso de vitória, Chávez prometeu ser um presidente melhor. Para começar e em primeiro lugar, ele deve a todos os venezuelanos restaurar a civilidade ao processo político e cessar com seu discurso pela divisão do país. Uma de suas realizações mais significativas como presidente tem sido a de exacerbar e alimentar a discórdia para seu benefício pessoal.

Durante a campanha recente, as ameaças insensatas feitas por Chávez de guerra civil no caso de ele ser derrotado serviram para lembrar esse fato. A ausência de diálogo com a oposição, o alimentar contínuo do medo e o fato não ter se afastado de sua abordagem política do tipo soma zero vão inevitavelmente contribuir para um crescimento exponencial da polarização já existente.

Ademais, a sobrevivência de um sistema baseado numa personalidade única contribui para prolongar as incertezas. Sem nenhum herdeiro definido, a questão da sucessão é um problema sempre presente, algo que foi exposto plenamente durante a luta recente de Chávez contra um câncer. Houve um vislumbre breve da potencial turbulência futura quando Chávez foi a Cuba para tratamento médico e seu círculo interno entrou em guerra.

Longe de se desanimar, a oposição deve animar-se com sua performance na campanha. Ela testemunhou unidade sem precedentes. Ela oferece uma alternativa real, com uma visão digna de crédito e um líder dinâmico.

Apesar de enfrentar obstáculos enormes, Capriles comandou uma campanha de base altamente disciplinada. Ele desconstruiu Chávez claramente e expôs de modo convincente seus pontos fracos e contradições. Fez contato real com as pessoas comuns, especialmente os jovens. Motivou muitos dos venezuelanos politicamente apáticos e cínicos, levando-os a participar e votar.

Ao todo, o processo eleitoral recente cria um alicerce sólido para um novo começo. Pela primeira vez desde 1998, uma oposição real está emergindo na Venezuela.

MARCO VICENZINO, 42, é diretor do Global Strategy Project, uma consultoria de risco político, e é colaborador do site FreeVenezuela.org

Tradução de CLARA ALLAIN

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Os artigos publicados com assinatura não traduzem a opinião do jornal. Sua publicação obedece ao propósito de estimular o debate dos problemas brasileiros e mundiais e de refletir as diversas tendências do pensamento contemporâneo.

 

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