Editoriais: Oscar Niemeyer
Contam-se nos dedos os brasileiros que tiveram fama internacional comparável à do arquiteto Oscar Niemeyer. Criador de Brasília, ao lado de Lucio Costa, e autor de obras em várias partes do mundo, Niemeyer marcou sua presença na arquitetura do século 20 graças a um estilo próprio, feito de elegância e aerodinâmica leveza.
Já não seria pouco, dada a circunstância de que o modernismo arquitetônico, pelo menos na primeira metade do século passado, corria o risco de cair na impessoalidade e na rigidez. A preferência quase dogmática pela linha reta, pela extrema economia de recursos, pela austeridade antiornamental, foi questionada por Niemeyer.
Como é sabido, o brasileiro considerou que novas técnicas de edificação em concreto armado permitiam uma abertura maior para a fantasia do arquiteto. Flexibilizou, como nunca, as linhas do edifício.
Nesse sentido, o próprio Oscar Niemeyer não se esquivou de relacionar seu estilo com a natureza de seu país --as montanhas do Rio de Janeiro e "as curvas da mulher amada" estariam entre as principais fontes de inspiração.
Seja como for, a obra de Niemeyer não tanto retirou elementos da paisagem brasileira quanto serviu para reconfigurá-la, já nas construções mineiras da Pampulha, nos anos 1940.
Tratava-se, ao lado do então governador Juscelino Kubitschek, e mais ainda em Brasília, de dar forma a um sonho de modernidade, ao mesmo tempo informal e inovador, que seria a marca das principais aspirações nacionais, ao menos até a ruptura de 1964.
O gesto aéreo e largo de quem domina o horizonte e o liberta, sem esforço, para o advento do futuro, estava por assim dizer no inconsciente de atitudes que orientava o projeto desenvolvimentista. Viu-se depois, de forma traumática, o quanto de conflito, de desigualdade, de autoritarismo e de turbulência se escondiam sob as promessas de meados do século.
Com inabalada serenidade, a mesma com que enunciava convicções em muito alheias ao amável populismo juscelinista e ao duro centralismo militar, Niemeyer sobreviveu aos percalços da política, sempre igual a si mesmo.
A beleza palaciana de suas obras, contrastando com os fins igualitários de sua crença comunista, persiste, pairando, decorativa talvez, mas inspiradora ainda, num país e num mundo bem menos simples e transparentes.
Inscrito na audácia do desenho, no branco do mármore, na curva do concreto e na limpidez do vidro, o nome de Niemeyer parece refletir esta esperança: a de que a matéria, rígida e muda, possa dobrar-se, fácil, aos desígnios do homem.
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