Martha Hübner: Análise do comportamento no autismo
O debate entre a análise do comportamento e a psicanálise no tocante ao tratamento para o autismo será interminável se não trouxermos à tona o que mais importa: dados comprovando a eficácia de um tratamento. O restante será retórica ou debate político. E isso não interessa à ciência e nem aos milhões de famílias que sofrem. E dados demonstrando sua eficácia é o que a Análise do Comportamento (ABA) têm acumulado há mais de 40 anos.
O estudo pioneiro da análise do comportamento é de I. Lovaas (1988), em que 19 crianças de 4 a 5 anos, diagnosticadas com autismo, foram submetidas à 40 horas de atendimento (hoje conhecido como Tratamento Precoce Intensivo); dois anos depois, o Quociente de Inteligência (QI) dessas crianças havia aumentado 20 pontos em média, chegando próximo ao considerado normal, que é 85; nove dessas crianças aumentaram em 30 pontos seu QI, ficando acima do normal, e foram inseridas em sala de aula regular.
Crianças com o mesmo diagnóstico que não foram submetidas ao tratamento intensivo em ABA não apresentaram melhoras, e o QI permaneceu em torno de 50.
Quando tinham entre 11 e 14 anos de idade, as crianças submetidas ao trabalho em análise do comportamento continuavam bem, incluídos na escola e sociedade e com comportamentos considerados típicos.
Além disso, a análise do comportamento ensina pais a ensinarem seus filhos, pois os números de pessoas no espectro autista no Brasil são alarmantes e não há profissionais preparados para atender a todos: são 2,7 os casos de crianças com Transtornos do Espectro Autista (TEA) no Brasil, a cada mil nascimentos. Os programas ABA aplicados com pais também se mostraram de comprovada eficácia, e é amplamente utilizado para treinar uma variedade de habilidades.
Aproximadamente 75% das crianças com TEA apresentam deficiência intelectual e desenvolvimento atípico de habilidades relacionadas à aprendizagem. Portanto, o TEA é uma síndrome comportamental e, como tal, requer um analista do comportamento que ensine comportamentos à pessoa. Relacionar-se com o outro, um dos deficits do espectro autista, é comportamento e pode ser ensinado. Não basta ser compreendido ou contemplado.
Dada a comprovada eficácia da análise do comportamento, nos Estados Unidos existem leis federais que exigem terapia ABA para que o tratamento para o autismo possa ser financiado pelos cofres públicos. É o que começa a acontecer no Brasil, e daí os debates acirrados sobre o tema.
A análise do comportamento aplicada ao autismo, por focar no ensino de habilidades, traz, obviamente, bem estar à criança e a seus familiares, pois o bem estar é dado a uma criança e à sua família quando a criança aprende a falar, a ler, a sorrir funcionalmente e a se relacionar com o outro. O bem estar está diretamente relacionado a habilidades que podem ser aprendidas e é isso justamente o que a análise do comportamento faz: dar o bem estar à pessoa autista e a seus pais, por meio do ensino de capacidades fundamentais ao seu estar no mundo, que se dá pela aplicação da ciência da análise do comportamento.
MARIA MARTHA COSTA HÜBNER, 58, é professora livre docente da USP, representante internacional da Association for Behavior Analysis International (ABAI), sócia da Associação Brasileira de Análise do Comportamento (ACBr) e ex- presidente da Associação Brasileira de Psicologia e Medicina Comportamental ( de 2009 a 2011)
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