Editorial: Dinheiro e prudência
O Fed, banco central dos EUA, reiterou os sinais de que confia na recuperação da economia norte-americana. Mas, considerando as decepções dos últimos anos, procura se equilibrar entre um discurso cauteloso e a constatação de que o ritmo atual de crescimento parece suficiente para permitir altas de juros a partir de meados de 2015.
Os dados, de fato, respaldam o otimismo. Fora o primeiro trimestre de 2014, quando a economia congelou com o inverno rigoroso, o PIB tem se expandido acima de 3% ao ano já há vários trimestres.
Mais importante, consolida-se a recuperação do mercado de trabalho, com criação de 215 mil vagas por mês, em média, desde 2013. Mantido o ritmo, o pleno emprego será atingido no ano que vem.
Se fossem respeitados os padrões históricos, os juros também estariam perto do normal, algo entre 3,5% e 4% (hoje é zero). Mas eis a particularidade do presente, ainda de ressaca da crise financeira.
A presidente do Fed, Janet Yellen, salienta que permanece a ociosidade do mercado de trabalho. Os salários, por exemplo, não começaram a crescer. Apesar da confiança, o banco deve ser paciente. Não por outra razão reafirmou o intento de manter os juros baixos por tempo considerável.
A referência, para analistas, indicaria uma primeira alta em meados de 2015 –do ponto de vista dos mercados, o prazo é suficientemente curto para deixar as condições globais ainda mais dependentes dos dados econômicos americanos nos próximos meses.
Por outro lado, a economia mundial tem problemas. O contraste entre os EUA e a Europa, por exemplo, é notável –o Banco Central Europeu acaba de inaugurar uma nova etapa de estímulos, com cortes de juros e mais empréstimos.
Ainda que o Fed peque pela demora, e não pela pressa, em subir os juros, não se devem subestimar as dificuldades que podem surgir quando esse momento chegar.
Até por essa razão, o Brasil precisa ajustar as contas públicas e reforçar a combalida credibilidade da política econômica enquanto o ambiente global é favorável.
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